

Apnoia, Grécia, 2010 | Duração: 1h25m49s | Lançado no Brasil em 14 de Dezembro de 2012, nos cinemas | Escrito por Yiannis Tsiros | Dirigido por Aris Bafaloukas | Com Sotiris Pastras, Youlika Skafida, Giorgos Karamihos, Andrianna Babali, Antonis Karistinos, Nikos Nikolaou, Lydia Fotopoulou, Akilas Karazisis, Iro Moukiou.
Essa metáfora, que ficaria explícita no título brasileiro caso este respeitasse o original ao invés de tentar referenciar Imensidão Azul, de Luc Besson (que tinha a apneia como um dos temas), é talvez o único grande mérito de Azul Profundo, cuja narrativa decepciona pelo desenvolvimento negligente. Dirigida pelo estreante em longas-metragens Aris Bafaloukas e escrita por Yiannis Tsiros, a produção grega traz o nadador profissional Sotiris Pastras no papel de Dimitri e introduz o relacionamento estremecido do rapaz com a ativista ambiental Elsa (Skafida), que, após um desentendimento com o namorado, parte com o casal de amigos Aris (Karamihos) e Anthi (Babali) para uma ilha cujos golfinhos enfrentam a ameaça de pescadores locais. Quando Elsa desaparece deixando poucos e inconclusivos vestígios, o nadador se desloca até o local para auxiliar nas buscas e passa a ser consumido pela angústia e pelo sentimento de culpa pelo provável destino trágico da mulher.
Nesse ínterim, Azul Profundo conta, através de flashbacks, a história de amor de Dimitri e Elsa ao longo do ano anterior, fazendo com que nossa atenção seja dividida entre um resgate que praticamente não avança e um romance ordinário, cuja serventia parece ser mais ressaltar a melancolia do nadador diante da possível tragédia do que desenvolver os personagens e a relação. Assim, apesar dos esforços do elenco, o interesse por aquelas figuras não surge de forma natural - e, além disso, a falta de sutileza e a carga excessiva de subtextos em alguns diálogos criam uma incômoda artificialidade, afastando o espectador da história. De todo modo, em seu primeiro e até então único trabalho como ator, Pastras confere uma esperada naturalidade às cenas que exigem suas habilidades profissionais como nadador e, embora sua atuação dramática não chegue a impressionar, tampouco compromete, já que até mesmo eventuais surtos de inexpressividade podem beneficiar a apatia do personagem.
Livre de sutilezas, o diretor de fotografia Elias Adamis filtra a rotina fria de Dimitri em tons profundamente azulados e esverdeados, reservando para as passagens do personagem pelo local do desaparecimento de Elsa tons quentes que rapidamente assumem um caráter opressivo, dadas as circunstâncias. Além disso, a montagem de Alexis Peza e do próprio diretor peca pela quebra da fluidez de algumas momentos, como aquele em que o nado noturno impulsivo do protagonista no mar é interrompido por um flashback expositivo, que fornece informações fundamentais sobre "nadar contra a maré" - sem as quais dificilmente teríamos ciência ou certeza das dificuldades que o nadador estava enfrentando naquele instante, tamanha a ineficácia da direção de Bafaloukas nesta cena em particular. Para completar, o diretor erra a mão e subestima a inteligência do público ao permear o filme com incontáveis planos simbólicos de Dimitri em apneia psicológica, martelando de forma insistente a metáfora que pretende construir.
Independente disso, o estudo comandado por Azul Profundo em torno de seu personagem central consegue render alguns momentos interessantes - e um exemplo mais óbvio e direto é marcante e significativo plano em que Dimitri, preso a um elástico de treinamento, tenta inutilmente avançar na raia da piscina, sendo fatalmente obrigado a regredir quando o limite de sua resistência é atingido. E enquanto a inaptidão do protagonista de dar vazão a seus males internos através do grito (por sugestão da namorada) quase ganha o status de tolice indefensável, duas cenas tocantes e emblemáticas suplantam problemas como este e enriquecem o filme: a que encerra a projeção e traz Dimitri libertando-se da própria introspecção e, especialmente, a lúgubre transição em plano plongée que salta do nado de costas melancólico de Dimitri para determinado evento em terra firme.
A realidade é que, se exibisse mais da sensibilidade de momentos como esse, Azul Profundo talvez não precisasse depender das evidentes boas intenções da equipe de produção pra suavizar o gosto amargo deixado não exatamente pelo desfecho da narrativa, mas sim pela experiência completa que o filme representa.
