


Perfect Pitch, EUA, 2012 | Duração: 1h52m00s | Lançado no Brasil em 7 de Dezembro de 2012, nos cinemas | Baseado no livro de Michael Rapkin. Roteiro de Kay Cannon | Dirigido por Jason Moore | Com Anna Kendrick, Skylar Astin, Rebel Wilson, Brittany Snow, Anna Camp, Ben Platt, Hana Mae Lee, Ester Dean, Alexis Knapp, Adam DeVine, John Benjamin Hickey, Freddie Stroma, Jinhee Joung, Christopher Mintz-Plasse, Elizabeth Banks e John Michael Higgins.
A estrutura de filmes de competição (seja ela esportiva, musical ou de qualquer outro tipo) raramente reserva surpresas para o público - e em A Escolha Perfeita não é diferente. Do modo como o grupo de cantoras a capela se desmantela, precisa se recompor e enfrenta as vindouras crises internas até a forma como avança rumo às finais de um renomado campeonato, o roteiro se agarra com vigor à cartilha de convenções, sem o receio de investir, ainda, em um romance central conturbado e desentendimentos familiares típicos. Todavia, o longa acaba conseguindo agradar não só por apostar em uma estrutura naturalmente envolvente, apesar de previsível e problemática, mas também pelos eficientes e atípicos números musicais e pelas investidas cômicas, que funcionam sempre que o esforço para arrancar o riso não se sobressai.
No roteiro, escrito por Kay Cannon com base no livro de Michael Rapkin, a aspirante a DJ Beca (Kendrick) ingressa a contragosto na universidade de Barden para satisfazer o desejo de seu pai, mantendo como hobby a atividade de mixagem de músicas. Ao perceber a falta de envolvimento da filha com a vida acadêmica, o Dr. Mitchell (Hickey) propõe que Beca se envolva em alguma atividade extracurricular e promete, como recompensa, apoiar seu projeto de tentar a sorte como DJ em Los Angeles, caso este ainda seja seu desejo ao final do ano letivo. Assim, a garota acaba se juntando às Belas de Barden, um grupo decadente que interpreta covers a capela - isto é, utilizando apenas a boca para reproduzir os instrumentos e, obviamente, o vocal - e que, pela primeira vez em anos, se viu obrigado a admitir garotas com perfis variados para evitar o próprio definhamento.
Lideradas pela autoritária e tradicionalista Aubrey (Camp), as Belas de Barden formam o típico grupo desajustado dominado por mulheres estereotipadas, que vão desde sonsa libidinosa até a gorda engraçada, passando pela protagonista apática, que praticamente não esconde a insatisfação de fazer parte do time. Mesmo não tendo muito a acrescentar individualmente, as Belas funcionam suficientemente bem em grupo, permitindo que as atrizes deem vazão aos traços marcantes das personalidades das personagens de forma bastante bem humorada - e enquanto a Lilly de Hana Mae Lee consegue arrancar boas gargalhadas graças à sua hilária performance silenciosa, a divertidíssima e requisitada Rebel Wilson surge como o maior (trocadilhos à parte) destaque cômico do longa como a participativa e ingênua Amy Gorda, se entregando sem concessões à persona cinematográfica que vem estabelecendo desde Missão Madrinha de Casamento (e que também pode ser vista em O Que Esperar Quando Você Está Esperando e Quatro Amigas e um Casamento).
Já a simpática Anna Kendrick é parcialmente sabotada pela intensa apatia inicial de Beca - e não fosse o carisma da atriz e de seu parceiro de cena, Skylar Astin, o romance formulaico do casal possivelmente jamais emplacaria. Fechando o elenco, Elizabeth Banks e John Michael Higgins vivem os narradores do campeonato musical e recebem a função de, em meio ao constrangimento de comentários absolutamente sem graça, enfatizar para o público o enfado causado pelas apresentações das Belas, visto que o show das garotas não parece tão ruim a princípio, sob a ótica de um leigo. Aliás, os números musicais, de modo geral, são uma grata surpresa, uma vez que o elenco compensa com bastante entusiasmo e energia o fato de a grande maioria precisar ser dublado durante as cantorias.
Estreando no Cinema após uma carreira pouco expressiva na televisão, Jason Moore não assume qualquer risco na direção e conduz o longa de forma burocrática, excedendo-se de forma problemática em alguns momentos (especialmente no início da projeção) - e ainda que seja fácil entender o humor que se pretende com a dramatização exacerbada em torno dos nódulos vocais de Chloe (Snow) ou do burrito que atinge Amy Gorda, é impossível ignorar que tais investidas destoam do restante por serem levadas a sério demais pelas personagens. Por fim, o roteiro peca ao levantar, em certo momento, uma discussão sobre a previsibilidade de desfechos hollywoodianos, criando uma espécie de obrigação ou responsabilidade de não fazer feio no próprio final - e cheguei a acreditar que isso seria possível quando (spoilers levíssimos adiante), inspirando-se no desfecho de Rocky - O Lutador (citado durante uma das tais conversas), Cannon opta por omitir o resultado da final do concurso. A cena seguinte, entretanto, não faz jus ao depósito de confiança.
Explorando o frenesi das relações de poder na hierarquia colegial estadunidense com uma pegada musical pop que remete involuntariamente ao seriado Glee, A Escolha Perfeita não possui um roteiro bom o bastante para justificar a cantoria e nem uma cantoria boa o bastante para que ignoremos as fraquezas do roteiro - mas em meio às várias escolhas imperfeitas do projeto, a escalação certeira de Rebel Wilson retorna à mente e a lembrança de seus bons momentos no longa ampara a impressão incerta de que o investimento pode ter, no fundo, valido a pena.
