11 de novembro de 2012

Crítica | Marcados Para Morrer

por Eduardo Monteiro

End of Watch, EUA, 2012 | Duração: 1h48m26s | Lançado no Brasil em 9 de Novembro de 2012, nos cinemas | Escrito por David Ayer | Dirigido por David Ayer | Com Jake Gyllenhaal, Michael Peña, Natalie Martinez, Anna Kendrick, David Harbour, America Ferrera, Frank Grillo, Cle Sloan, Yahira 'Flakiss' Garcia, Jaime FitzSimons, Cody Horn, Maurice Compte.

De modo geral, é razoável afirmar que Marcados Para Morrer nos dá uma ideia de como o francês Polissia seria caso tivesse sido produzido nos Estados Unidos, abordasse uma maior variedade de crimes e exibisse uma queda pelo gênero de ação policial. Com um tom documental ainda mais notório que o adotado pelo longa de Maïwenn, o novo trabalho do cineasta David Ayer (Os Reis da Rua) acompanha a rotina dos oficiais Brian Taylor (Gyllenhaal) e Mike Zavala (Peña) como patrulheiros em áreas violentas de Los Angeles, investindo em pequenas e variadas ocorrências e, especialmente, na interação entre os dois parceiros, cujo companheirismo extrapola o ambiente de trabalho. Além disso, a competência da dupla e seu comprometimento atípico com o serviço e com a lei rapidamente esbarram nos planos dos criminosos locais, colocando as vidas de Taylor e Zavala em risco - bem como o inapropriado título nacional insiste em ressaltar.

Trazendo intrusões de mockumentary desde sua abertura, quando acompanhamos uma perseguição policial através da câmera posicionada no para-brisa da viatura, Marcados Para Morrer abre espaço para a linguagem do falso documentário sem, contudo, se prender completamente a ela - o que evita, por exemplo, que os personagens precisem criar explicações esdrúxulas para estarem filmando até mesmo em situações altamente inapropriadas ou potencialmente perigosas. Ainda assim, todos os planos registrados por cinegrafistas alheios ao universo diegético do filme seguem as mesmas diretrizes das cenas filmadas pelos personagens - isto é, câmera na mão ou presa a objetos (como o para-choque do carro ou as armas dos policiais) -, mantendo uma coerência estética e imprimindo um tom de urgência à narrativa.

Infelizmente, o uso da técnica nem sempre alcança resultados positivos. Para começar, os diálogos em inglês dos bandidos mexicanos ou os personagens saindo ilesos de uma emboscada em que são metralhados são exemplos de escolhas do roteiro Ayer que comprometem gravemente a verossimilhança da narrativa e, consequentemente, dispersam a atenção do espectador. Além disso, o uso de câmera na mão comete o maior dos pecados do recurso: a completa incompreensão do que está ocorrendo em cenas mais agitadas, como o resgate em uma casa incendiada ou a maior parte de uma importante ação vista no terceiro ato. Por outro lado, o ângulo baixo adotado pelo personagem de Jake Gyllenhaal e a ausência de trilha sonora durante o reconhecimento de uma casa aparentemente abandonada, bem como a perspectiva em primeira pessoa resultante da câmera presa às armas ou aos corpos dos policiais em outras ocasiões, conseguem gerar uma tensão respeitável e atípica no gênero.

Trazendo ótimas performances dos normalmente competentes Jake Gyllenhaal e Michael Peña, o filme também consegue desenvolver os personagens centrais de forma bastante satisfatória, ainda que através de uma dose excessiva de diálogos - e é bastante significativo, por exemplo, o momento em que ambos compartilham a preocupação de suas companheiras em relação a seus trabalhos, já que, mesmo breves, as falas denotam que este tem sido um assunto em pauta em ambos os lares. Além disso, é curioso notar a prontidão com que Taylor e Zavala interrompem o papo e abandonam a postura relaxada quando alguma ocorrência lhes é encaminhada - e essa notável dispersão da dupla durante as patrulhas, aliás, desempenha um papel fundamental para o desenrolar do clímax.

Pecando ao incluir uma derradeira cena com claras pretensões melodramáticas, Marcados Para Morrer é para o departamento de polícia o que Brigada 49 foi para os bombeiros: uma homenagem confessa ao sacrifício dos trabalhadores que arriscam suas vidas pela manutenção do bem estar da população - e pelo desgaste que a linguagem mockumentary vem sofrendo, o bom uso aqui transforma a homenagem em nada menos que uma boa surpresa.