


The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2, EUA, 2012 | Duração: 1h55m03s | Lançado no Brasil em 15 de Novembro de 2012, nos cinemas | Baseado no livro de Stephenie Meyer. Roteiro de Melissa Rosenberg | Dirigido por Bill Condon | Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Mackenzie Foy, Michael Sheen, Peter Facinelli, Ashley Greene, Kellan Lutz, Nikki Reed, Billy Burke, Elizabeth Reaser, Jackson Rathbone, Lee Pace, Joe Anderson, MyAnna Buring, Casey LaBow, Andrea Powell, Rami Malek, Maggie Grace, Dakota Fanning, Jamie Campbell Bower, Christopher Heyerdahl, Chaske Spencer, Mía Maestro, Christian Camargo, Cameron Bright, Judith Shekoni e Patrick Brennan.
Encerrado o dilema em torno da transformação de Bella (Stewart) em vampira e sepultada a disputa entre Edward (Pattinson) e Jacob (Lautner) pelo coração da garota, Amanhecer - Parte 2 finalmente tem liberdade para desenvolver uma história diferente e, dessa forma, a corrida atrás do prejuízo surge como um dos grandes desafios enfrentados pelo roteiro. Dando sequência ao desfecho do longa anterior (mas aparentemente ignorando a cena extra em que o vilão vivido por Michael Sheen afirmava que os Cullen possuíam algo que lhe interessava), o longa traz Bella habituando-se ao vampirismo à medida que sua filha Renesmee muda, em um curtíssimo espaço de tempo, de um bebê digital para a atriz mirim Mackenzie Foy. Quando o líder dos Volturi, Aro (Sheen), recebe uma informação imprecisa sobre a natureza da cria de Bella e Edward, o maligno clã declara guerra contra os Cullen - a ser iniciada somente depois que sabe-se lá quantos palmos de neve acumularem sobre o chão, porque um confronto imediato, apesar de instintivo, encurtaria o filme. Dessa forma, os Cullen precisam correr contra o tempo para convocar o maior número possível de vampiros dispostos a testemunhar a favor de Renesmee - e em questão de minutos, o cenário é preenchido por uma alarmante galeria de personagens novos e irrelevantes.
Não que os pré-existentes tenham funções mais admiráveis: a vidência de Alice (Greene) e a liderança de Carlisle (Facinelli) continuam a ofuscar o restante dos Cullen, que, assim como os antagonistas vividos por Dakota Fanning e Jamie Campbell Bower, encerram suas trajetórias sem jamais terem dito a que vieram - apesar de que, pensando bem, até as provocações infantis (de Fanning com a protagonista, no clímax) ou o empenho em falar asneiras e fazer caretas (de Campbell Bower) são mais válidos que a participação de figuras novas como - citando apenas os atores mais conhecidos - Lee Pace (O Hobbit) e Joe Anderson (A Perseguição), cujos personagens não possuem importância ou personalidade suficientes para que, ao final da sessão, seja possível diferenciá-los ou caracterizá-los. E enquanto Maggie Grace se queima no papel mais patético do longa, Michael Sheen abraça o ridículo de Aro e se entrega a afetações sem acanhamento, divertindo-se mais com o pagamento em dia das contas no final do mês do que com o sereno senso de superioridade e invencibilidade do vilão. Em uma participação menor, Taylor Lautner volta a vestir a camisa (!!!) do personagem mesmo que este já não tenha mais nada a oferecer, enquanto a reduzida demanda por caretas contribui para o desempenho de Robert Pattinson, que se sai bem. Por fim, Kristen Stewart é razoavelmente bem sucedida na tarefa de conferir doses de firmeza à insossa Bella, surgindo em cena mais bela e à vontade do que antes e transmitindo com eficiência, por exemplo, o desconforto da nova vampira ao reproduzir comportamentos humanos na presença do pai (Burke).
Ratificando a picaretagem de dividir o livro em duas partes, o filme é prejudicado por depender de um conflito extremamente pobre e de um texto genuinamente estúpido para prender a atenção do público - e ainda que, mais uma vez, um grupo expressivo seja colocado em risco em decorrência de imprudências de Bella, o roteiro tenta sugerir que a batalha final faz parte de algo maior, quando Carlisle faz uma constatação deliberadamente vazia: "Todos aqui têm algo pelo que lutar. Eu certamente tenho". Além disso, é assustador e arbitrário que Stephenie Meyer deixe para introduzir apenas na reta final as habilidades extraordinárias particulares dos vampiros, que vão desde incendiar objetos e desferir descargas elétricas até perpetuar o clichê de que o Brasil é dominado por selvas e macacos. Como não poderia deixar de ser, a estupidez continua sendo um traço marcante de vários personagens - e mesmo diante de um ataque iminente, Bella e Edward mudam-se com Renesmee da mansão do Cullen, para que o casal possa, literalmente, transar com maior privacidade.
Dando sequência a seu trabalho na primeira parte, Bill Condon faz o que pode para transformar a pieguice açucarada do romance e a cafonice dos seres fantásticos de Stephenie Meyer em um produto minimamente tolerável, alcançando os melhores resultados de toda a franquia - o que é um feito admirável, visto que o diretor parece disposto a "homenagear" todos os elementos marcantes da série cinematográfica, da semi-nudez gratuita de Jacob ao brilho purpurinado dos vampiros à luz do sol, passando pelo uso abusivo da movimentação veloz daqueles seres (quando Bella deve levantar do sofá para buscar um livro na estante, por exemplo, ao invés de uma breve elipse, Condon opta por inserir o vulto ligeiro da garota acompanhado do ruído do corpo cortando o ar). Para completar, o trabalho do cineasta é prejudicado pela deficiência dos efeitos especiais - e caso a produção não desperdiçasse parte do orçamento com exibicionismos tolos das habilidades de vários vampiros, os bonecos digitais que cruzam a tela em diversos momentos da narrativa talvez soassem mais convincentes.
O que nos leva à fatídica batalha final, que, além de prejudicada pela baixa qualidade dos efeitos especiais, peca pela limitação imposta pelos métodos de ataque daqueles seres, exigindo que os realizadores criem maneiras diversas de decepar uma pessoa (ainda que o grafismo - sem sangue - das cenas seja digno de menção). Alterando a vantagem do confronto com base na conveniência (e não nas habilidades de luta de cada um), a sequência é mais apressada (por motivos que só ficam claros posteriormente) do que empolgante ou impactante - e grande parte da culpa recai no fato de que não nos importamos o suficiente com aqueles personagens a ponto de lamentar o definhamento dos mocinhos ou regozijar com a morte dos vilões. Pra piorar, é impossível ignorar que as diferenças entre os grupos rivais poderiam ser resolvidas na base do diálogo caso os personagens não fossem absolutamente unidimensionais, de modo que as resoluções alcançadas evidenciam ainda mais a precariedade do conflito. Todavia (e não leia o restante do parágrafo caso não tenha visto o filme), a reviravolta que altera a perspectiva dos acontecimentos é uma ousadia narrativa admirável, que compensa o próprio otimismo exacerbado e o fato de que, no fundo, o desfecho da história de Bella e Edward não teve um clímax propriamente dito.
Brindando as fãs como um flashback (cuja natureza é mal explicada) da trajetória do casal e uma retrospectiva, no início dos créditos finais, dos principais atores envolvidos na série, Amanhecer - Parte 2 é, em suma, um filme medíocre - o que automaticamente o coloca acima de seus antecessores e instantaneamente o transforma em um desfecho satisfatório para uma franquia que parecia irremediavelmente condenada ao completo desastre.
