29 de outubro de 2012

Desaparecidos


Numa aproximação grosseira e bondosa, três quartos de Desaparecidos são dedicados aos personagens andando perdidos por uma floresta de Ilhabela à noite. Por essa razão, se você se interessar por botânica (e em particular pelos hábitos noturnos de plantas tropicais), há alguma chance de que o filhe lhe agrade; se seu interesse é por um suspense eficiente ou ao menos tolerável em found footage, desista e vá rever A Bruxa de Blair.

Dirigido por David Schurmann, o filme se apoia em um conceito transmídia até ambicioso, mas que jamais justifica a baixa qualidade do produto. Claramente inspirados pela publicidade do lançamento de A Bruxa de Blair, os produtores investiram em uma campanha viral, com direito a perfis falsos dos personagens em redes sociais e notícias fictícias veiculando os desaparecimentos. A ideia era levantar uma reflexão sobre a barreira entre realidade e ficção em relação ao que circula na internet; o resultado é um longo e exaustivo teste de paciência.

No filme, um grupo de jovens comparece a uma festa cujo convite é uma câmera em alta definição que, pendurada no pescoço, registra imagens em intervalos regulares - algo absolutamente irrelevante, mas que o roteiro faz questão de usar para explicar a edição do longa. Entre uma estupidez pra cá e um esquecimento de remédio de asma pra lá, os amigos se jogam em uma floresta nas redondezas, onde logo se veem perdidos e passam a ser assombrados por algum ser misterioso - e pela histeria dos jovens, a torcida é que todos morram logo. A fotografia - que aparentemente investe na técnica de noite americana para simular o período noturno - é tão cansativa quanto o roteiro, que literalmente determina, na maior parte do tempo, que os personagens permaneçam andando errantes pela floresta sem que nada aconteça.

Sem conseguir extrair qualquer tensão da situação dos personagens, Desaparecidos apenas aborrece. Pelo que parece, infelizmente, o Brasil conseguiu lançar o pior found footage já produzido.

Desaparecidos, Brasil, 2011 | Escrito por Rafael Blecher e David Schurmann | Dirigido por David Schurmann | Com Charlene Chagas, Natalia Vidal, Pedro Urizzi, André Madrini, Fernanda Peviani, Adriana Veraldi.