20 de outubro de 2012

Crítica | Atividade Paranormal 4

Kathryn Newton em ATIVIDADE PARANORMAL 4 (Paranormal Activity 4)


Paranormal Activity 4, EUA, 2012 | Duração: 1h27m29s | Lançado no Brasil em 19 de outubro de 2012, nos cinemas | Escrito por Zack Estrin e Christopher Landon | Dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman | Com Kathryn Newton, Brady Allen, Aiden Lovekamp, Alexondra Lee, Matt Shively, Stephen Dunham e Katie Featherston.

Pôster/capa/cartaz nacional de ATIVIDADE PARANORMAL 4 (Paranormal Activity 4)
Durante uma partida de futebol infantil apresentada nos primeiros segundos de Atividade Paranormal 4, um garoto que observa de longe a movimentação chama a atenção não só por suas roupas amarronzadas, que destoam dos uniformes coloridos das demais crianças, mas também por seu sumiço misterioso entre idas e vindas panorâmicas da câmera. A razão e as circunstâncias do desaparecimento repentino nunca são esclarecidas, mas a mensagem é clara: estamos diante de uma criança demoníaca. Mas como, afinal de contas, uma franquia iniciada de modo tão eficiente e aterrorizador com apenas duas pessoas comuns, uma câmera e sutis fenômenos misteriosos chegou ao ponto de necessitar recorrer a um dos mais batidos arquétipos do terror pra sustentar a própria existência?

Dirigido novamente por Henry Joost e Ariel Schulman (que até haviam feito um bom trabalho no filme anterior), Atividade Paranormal 4 volta a ignorar vinhetas de produtoras ou créditos iniciais e começa de forma seca relembrando brevemente o rapto do bebê Hunter pela tia possuída Katie (Katie Featherston) - algo que, de cara, diminui substancialmente uma série de mistérios da nova trama, como a identidade de uma personagem que demora a dar as caras. Em seguida, o filme avança cinco anos e nos leva ao lar de uma família da cidade de Henderson, no estado de Nevada, onde a adolescente Alex (Kathryn Newton) utiliza as webcams de todos os notebooks da casa, sem o consentimento dos familiares, para registrar os estranhos fenômenos que passam a ocorrer a partir do momento em que a família decide acolher o sinistro Robbie (Brady Allen), depois que sua mãe, recém-chegada na vizinhança, é internada por motivos de saúde desconhecidos.

Sabotado pela decisão de manter o foco de toda a franquia sob uma mesma assombração, o roteiro de Christopher Landon (Atividade Paranormal 2 e 3) não consegue criar qualquer tensão em torno do "medo do desconhecido", já que de desconhecido o demônio não tem nada: Toby (sim, sabemos até seu nome!), como já pudemos constatar, gosta de mover objetos, abrir e fechar portas, hipnotizar crianças e, desde o último filme, tem exibido uma engenhosidade admirável para uma assombração - e, não à toa, é neste exemplar que ele parece mais presente fisicamente, haja vista o número de vezes que seu vulto surge em tentativas estúpidas de susto. Entretanto, conferir tamanha lucidez a um fantasma nos leva a questionar quase involuntariamente suas ações: por que, afinal, ele se manifesta sempre tão lentamente, permitindo que suas vítimas o temam e tenham a chance de fugir? Sim, o roteiro de Landon até tenta explicar essa lentidão ao introduzir um "passo-a-passo da possessão", que tem a aceitação como fase intermediária; mas se o mesmo princípio também informa que a conclusão do ritual deve envolver o sacrifício de uma alma virginal, como explicar o desfecho do filme anterior?

E esta é apenas uma das várias perguntas sem resposta que pipocam na mente do espectador ao longo da projeção - suficientes para preencher um parágrafo inteiro. Como e com que objetivo Katie fez o que fez com Hunter após seu rapto? O que havia dentro do compartimento trancado com cadeado na casa do outro lado da rua? Qual a função do garfo diferenciado que Robbie leva consigo ao mudar-se para a casa dos vizinhos? Por que o anúncio sonoro de "porta aberta" não é acionado quando determinada pessoa entra na casa? O que realmente aconteceu com o pequeno Wyatt (Aiden Lovekamp) na banheira? Por que o garoto eleva a irmã da cama? De onde surgiram tantos... tantas... de onde vieram... o que são... digo, o que o último plano do filme quer nos dizer, sem que sejamos obrigados a assistir a Atividade Paranormal 5? E por que Alex não olha para os dois lados antes de atravessar a rua?

Aiden Lovekamp em ATIVIDADE PARANORMAL 4 (Paranormal Activity 4)

Essa última questão é mais fácil de ser respondida: incapazes de extrair uma lasca de tensão dos quase noventa minutos de projeção, Joost e Schulman são obrigados a criar pequenos sustos, que surgem ainda mais tolos que os do trabalho anterior, ainda que utilizem basicamente os mesmos princípios. Assim, além dos já mencionados vultos de Toby e aparições sinistras de Robbie, o filme tenta catapultar o espectador da poltrona através de cortes secos entre um plano mais silencioso e outro barulhento ou tolices como gatos esbarrando nas câmeras ou alguém atravessando a rua sem olhar para os dois lados. Além disso, mesmo revelando-se pouco funcional para a narrativa, a única novidade realmente interessante deste quarto filme diz respeito à iluminação de pontos projetada pelo rastreador de movimentos Kinect flagrada com a câmera no modo de visão noturna, já que o uso de webcams - apesar de razoavelmente bem explicado - revela-se problemático, por dificultar a análise constante e cuidadosa dos quadros estáticos em busca de alterações que indiquem as tais atividades do título, graças à baixa resolução das imagens - o que não chega a ser um problema, já que Joost e Schulman não criam um plano sequer que aposte em sutilezas. Por fim, o único momento em que os diretores parecem acertar de verdade é em uma divertida referência a O Iluminado, mas que também não passa disso.

Marcado ainda por atuações irregulares do elenco (a jovem Kathryn Newton está correta, a mãe vivida por Alexondra Lee surge como a mais natural e as crianças até se esforçam - em vão - para fazer seus personagens soarem reais), Atividade Paranormal 4 parece confiar tão intensamente no sucesso da própria mitologia que chega a exibir Katie Featherston andando lentamente por algum cômodo acreditando que isso, por si só, é algo suficientemente assustador. A realidade, por outro lado, é que a tensão apresentada no longa original da franquia vem decaindo juntamente com a qualidade dos roteiros, provando que Atividade Paranormal está preenchendo o vácuo deixado pelo fim (temporário, todos podemos supor) de Jogos Mortais não só com a metódica dos apressados lançamentos anuais próximos ao Halloween, mas também com o fantasma da repetição e da decadência artística que assombrava aquela franquia. E se a única fala que consegui compreender (já que a tradutora decidiu não assistir ao filme até o final dos créditos) da breve, tola e deslocada cena adicional for emblemática como parece, não nos faltam motivos para temer: "Esto es apenas el comienzo".

Katie Featherston em ATIVIDADE PARANORMAL 4 (Paranormal Activity 4)