8 de setembro de 2012

Crítica | Projeto Dinossauro

por Eduardo Monteiro

The Dinosaur Project, Reino Unido, 2012 | Duração: 1h22m47s | Lançado no Brasil em 7 de Setembro de 2012, nos cinemas | Escrito por Sid Bennett, Tom Pridham e Jay Basu | Dirigido por Sid Bennet | Com Matt Kane, Richard Dillane, Peter Brooke, Stephen Jennings e Natasha Loring.

Projeto Dinossauro é possivelmente o filme mais importante dos últimos tempos. Conforme informado por um letreiro que abre a projeção, o longa é resultado do compacto (sem modificações ou retoques) de mais 100 horas de filmagens realizadas durante uma expedição criptozoológica a uma área selvagem do Congo, em busca do mítico Mokele Mbembe, possível parente dos dinossauros cuja existência nunca havia sido comprovada. O que vemos, porém, é algo absolutamente surpreendente: contrariando décadas de pesquisas científicas, Jonathan Marchant (que lembra bastante o ator Richard Dillane) e sua equipe não só conseguem registrar imagens do lendário animal, como também derrubam um equívoco sustentado por 65 milhões de anos: a suposta extinção dos dinossauros.

Porém, o filme comete um erro incompreensível: tendo em mãos uma descoberta capaz de revolucionar a comunidade científica, o diretor Sid Bennett opta por dar ênfase aos trágicos acontecimentos que assolaram a expedição, algo que, além de desrespeitar a memória dos mortos, resulta em uma narrativa que, caso fosse fictícia, certamente seria massacrada por suas inúmeras irregularidades (não deixa de ser curioso, por exemplo, que o filme inclua figuras que mais parecem caricaturas saídas diretamente de uma ficção ruim, como o sujeito consumido por uma insanidade repentina ou a nativa que falta com a verdade e guarda segredos). Assim, acompanhamos o filho de Marchant, Luke (sósia do ator teen Matt Kane) embarcando clandestinamente no helicóptero a caminho da selva congolesa, e logo podemos notar o primeiro sintoma do infortúnio (ou incompetência, dependendo do ponto de vista) que marcará a viagem da equipe: quando ordena que a nave retorne para o desembarque do filho, Jonathan é informado que o nível de combustível não é suficiente para a manobra - isto é, o regresso do grupo pelas vias normais também já estava comprometido. Porém, um ataque de dinossauros alados lança o helicóptero ao chão, obrigando os sobreviventes a tentar acionar o resgate enquanto fogem dos répteis jurássicos.

Uma característica que chama a atenção desde o primeiro segundo de projeção é o formato de tela adotado pelos cinegrafistas (2.35:1, raramente usada em filmagens documentais), indicando que, por alguma razão misteriosa, eles talvez antecipassem que aquilo viria a ser projetado numa tela de cinema. Além disso, o trabalho de Bennett e do montador Ben Lester é beneficiado pelo estranho hábito dos expedicionários de registrar cada uma de suas ações por diversos ângulos e com movimentos de câmera repletos de significado, mesmo em situações de alto risco ou instantes após o falecimento de algum de seus companheiros. Ainda nesse aspecto, é assustadora a frieza de todos que em algum momento atuam como cinegrafistas, registrando imagens da Lua como se estivessem em uma agradável viagem de férias (planos esses utilizados para auxiliar o entendimento pleno da passagem de tempo, como se por alguma razão isso fosse necessário) ou enfocando de forma insensível as expressões de pânico dos companheiros em uma cabana cercada por dinossauros. Para completar, notamos que a sorte de Bennett alcança patamares assombrosos quando descobrimos que até mesmo os responsáveis por encontrar os registros da expedição boiando em um rio estavam munidos de câmeras de alta definição, registrando imagens sem as quais jamais saberíamos como o conteúdo foi encontrado.

Mesmo assim, o trabalho de Lester é pra lá de questionável - e só um montador extremamente incompetente entregaria um filme repleto de cenas incompreensíveis (por escuridão intensa, falhas constantes dos equipamentos ou agitação excessiva da câmera), irrelevantes (o close-up nas nádegas de uma mulher é dispensável) ou trechos que simplesmente causam profundo tédio, como todas as relações interpessoais e, em especial, o relacionamento conturbado e distante do filho rebelde com o pai workaholic (clichês da vida real!). Infelizmente, a eficiência do aparato tecnológico utilizado também deixa a desejar: ainda que capte diálogos com bastante clareza, o microfone parece completamente desregulado quando passa a ser usado como arma para afugentar os animais, enquanto as câmeras, mesmo captando imagens sempre nítidas, conferem um ar ligeiramente artificial especificamente aos dinossauros - e digo isso com base na ideia pessoal que tenho sobre os animais, já que nunca vi um pessoalmente. Por fim, o longa jamais parece interessado em investigar os acordes sonoros que surgem em diversos momentos da projeção: os sons são algum tipo de interferência? O problema pode ser da sala em que assisti ao filme? Os expedicionários executaram as músicas in loco? Ou o texto que isenta os produtores de responsabilidades por quaisquer modificações no conteúdo é mentiroso?

Enfim, por trazer imagens inéditas de animais que povoaram o imaginário humano ao longo de séculos, Projeto Dinossauro vale uma conferida. E vale também uma consulta ao dicionário no verbete "sarcasmo".