24 de setembro de 2012

Poder Paranormal


Com um grupo de personagens reunidos em torno de uma mesa para uma farsesca sessão mediúnica, Poder Paranormal tem início estabelecendo de imediato afinidade temática direta com o recente terror britânico O Despertar, que também era introduzido com uma sequência desse tipo e cuja protagonista, assim como os pesquisadores Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e Tom Buckley (Cillian Murphy), tentava provar ao mundo a inexistência de fenômenos paranormais em meio a eventos de difícil explicação. Entretanto, havia uma boa razão para que aquele filme fosse ambientado na década de 20 do século passado: limitações tecnológicas da época dificultavam a tarefa da personagem de Rebecca Hall de provar sua tese tanto aos parceiros de cena quanto ao público, o que permitia que a real natureza dos misteriosos eventos que a cercavam permanecesse em aberto por um tempo maior. Assim, o único modo encontrado pelo diretor e roteirista espanhol Rodrigo Cortés de manter esse suspense ao transferir o conceito para os dias atuais é concebendo um mundo cujos melhores e mais bem preparados cientistas são seres humanos burros como portas.

Desse modo, quando são escalados para testar em um ambiente controlado os supostos poderes do médium Simon Silver (Robert De Niro), os especialistas adotam posturas assustadoramente negligentes e optam por experimentos simples que, rapidamente, revelam-se inconclusivos. Por que eles não realizam logo testes infalíveis, investigando, por exemplo, o poder telecinético que Silver exibe sem qualquer pudor em uma de suas apresentações? A explicação, claro, é que a conclusão encerraria o mistério em um momento anterior à vontade de Cortés; a lógica, nesse caso, é jogada para segundo plano. Ainda nesse sentido, um truque envolvendo um relógio de ponteiros capaz de enganar pessoas supostamente inteligentíssimas despertou em mim recordações do tempo de escola, quando colegas usavam o mesmo princípio como método infalível de cola e, a certa altura, meros professores de ensino médio foram capazes de desvendar e erradicar o comportamento.

É uma pena que o resultado final seja tão irregular e cheio de furos, já que Cortés parecia promissor no ótimo Enterrado Vivo e a primeira metade de Poder Paranormal até consegue desenvolver ideias interessantes - mas a partir do momento em que certo(a) personagem sai de cena (algo que poderia ser antecipado com base na estranha relação entre sua importância para a trama e a posição que seu(sua) intérprete ocupa na listagem do elenco), o filme finalmente se assume como um terror literal em que sustos e outras bizarrices se sucedem sustentados por uma explicação final furada que, de tão pouco instintiva, precisa ser narrada em off. A cereja do bolo, entretanto, fica por conta do plano extra incluído ao final dos créditos, que merece reconhecimento pela ousadia de recompensar o investimento de tempo, dinheiro e paciência do espectador com uma imagem aleatória e alheia a tudo que o filme havia apresentado.

Red Lights, Espanha/EUA, 2012 | Roteiro de Rodrigo Cortés | Dirigido por Rodrigo Cortés | Com Cillian Murphy, Sigourney Weaver, Robert De Niro, Toby Jones, Joely Richardson, Elizabeth Olsen, Craig Roberts.