23 de agosto de 2012

Crítica | Rock of Ages: O Filme

por Eduardo Monteiro

Rock of Ages, EUA, 2012 | Duração: 2h03m08s | Lançado no Brasil em 24 de Agosto de 2012, nos cinemas | Baseado no livro de Chris D'Arienzo. Roteiro de Justin Theroux e Chris D'Arienzo e Allan Loeb | Dirigido por Adam Shankman | Com Julianne Hough, Diego Boneta, Russell Brand, Tom Cruise, Alec Baldwin, Catherine Zeta-Jones, Paul Giamatti, Malin Akerman, Mary J. Blige, Bryan Cranston, Will Forte, T.J. Miller.

Fama, Nine, Burlesque, Mamma Mia!, High School Musical 3. Salvo breves respiros proporcionados por produções da Disney como Encantada, Os Muppets e Winnie the Pooh, a lista de desastres que abre este texto reúne os principais musicais legítimos que chegaram ao grande público nos últimos anos, após a boa fase ocorrida há meia década com Across the Universe, Sweeney Todd e Hairspray. Nessas circunstâncias, o lançamento de Rock of Ages representa uma vitória para os fãs do gênero, já que, mesmo não se sobressaindo do ponto de vista narrativo, o longa merece reconhecimento por representar um cenário musical marcante de forma divertida e cativante.

Escrito por Justin Theroux, Chris D'Arienzo e Allan Loeb com base no musical homônimo da Broadway, o filme tem início com a chegada da sonhadora Sherrie (Hough) à Hollywood de 1987, onde o aspirante a cantor Drew (Boneta) lhe ajuda a conseguir um emprego no The Bourbon Room, rock bar localizado na Sunset Strip e comandado por Dennis Dupree (Baldwin). Atolado em dívidas e exorcizado pela primeira-dama da cidade Patricia Whitmore (Zeta-Jones), o estabelecimento aposta em uma apresentação do mega astro do rock Stacee Jaxx (Cruise) para sair do buraco - mas uma crise pessoal silenciosa do roqueiro, a ganância de seu produtor Paul Gill (Giamatti) e um desentendimento entre Sherrie e Drew podem comprometer os planos de Dupree de salvar o local.

Mesmo tendo o rock como tema central e defendendo-o com unhas e dentes, Rock of Ages opta por uma abordagem musical mais abrangente, recorrendo a baladas como I Wanna Know What Love Is e Every Rose Has Its Thorn, que se tornam mais acessíveis para uma parcela específica do público graças às regravações recentes feitas por Mariah Carey e Miley Cyrus, respectivamente. Aliás, a escolha da própria dupla central já sugere essa abertura dos produtores: Julianne Hough, além de dançarina profissional vencedora duas vezes do reality Dancing with the Stars (uma delas, formando par com o piloto brasileiro Hélio Castroneves), é também uma cantora country, enquanto o mexicano Diego Boneta pende para o pop, tendo sido alçado à fama por um papel secundário na novela Rebelde que lhe garantiu, por consequência, a chance de abrir os shows do RBD e lançar carreira própria. Entretanto, ambos compensam seus perfis destoantes com os esforços para soarem convincentes - e ainda que Boneta, em particular, encarne a faceta roqueira de Drew com mais empenho e eficiência, nenhum dos dois chega ao ponto de chamar a atenção.

Completando o elenco, Catherine Zeta-Jones retorna ao gênero que lhe rendeu um Oscar de atuação e não só consegue repetir o bom trabalho vocal e físico, como também se diverte compondo a caricatura de uma mulher que usa seu conservadorismo como máscara para ressentimentos ocultos, enquanto Bryan Cranston, no papel do prefeito Mike Whitmore, desperdiça mais uma vez seu talento com um personagem irrelevante que poderia perfeitamente ser dizimado do filme sem qualquer prejuízo. Por outro lado, o normalmente aborrecido Russell Brand surge como uma grata surpresa, divertindo no papel do despojado funcionário do Bourbon, Lenny, e protagonizando, ao lado de um Alec Baldwin ligeiramente constrangido (algo pontual), o melhor número musical do longa. Por fim, Tom Cruise surpreende pela composição vocal (confiando que os créditos dados às suas cantorias sejam verídicos) e pela performance de Stacee Jaxx no palco, mas transforma a maior parte das cenas de bastidores em um verdadeiro exercício de paciência, graças à marcha lenta que adota em sua composição e às falas desconexas que tentam estabelecer o personagem como um típico astro esnobe e excêntrico.

Aliás, um dos grandes problemas de Rock of Ages reside nas constantes mudanças de foco da narrativa, oriundas da quantidade de personagens e subtramas: em determinado momento, as dificuldades financeiras do Bourbon parecem ser o centro da narrativa; rapidamente, porém, as atenções voltam-se para a fobia de palco alimentada por Drew, que logo dá lugar à investigação da repórter Constance Sack (Akerman) sobre a personalidade de Stacee Jaxx, que é deixada de lado graças à crise entre o casal central, que por fim cede espaço novamente ao iminente encerramento das atividades do Bourbon, cuja resolução é demasiadamente trivial. Com as limitações naturais do roteiro, a montadora Emma E. Hickox consegue fazer um bom trabalho na naturalmente desafiadora montagem de musicais, falhando apenas por insistir em dar importância a Justice Charlier (vivida pela cantora Mary J. Blige) em números compartilhados por vários personagens, já que ela jamais se estabelece como uma figura particularmente interessante ou fundamental para a narrativa.

Incapaz de contornar os clichês do roteiro, o diretor Adam Shankman (Hairspray - Em Busca da Fama) apela repetidas vezes para recursos ultrapassados, como representar a hesitação de Drew e Sherrie antes do envolvimento amoroso através de cumprimentos constrangidos e desencontrados ou criar gags envolvendo homens com cabelos longos sendo confundidos com mulheres. Além disso, apostando que o espectador não é inteligente o bastante para notar a adoção do clichê da garota sonhadora mudando-se para a cidade grande como base da narrativa (Burlesque manda lembranças), o diretor insere logo nos primeiros segundos de projeção uma desnecessária narração em off da avó da protagonista desejando que "seu sonho se realize", o que é tão ofensivo quanto ver Sherrie, posteriormente, confirmando de forma excessivamente expositiva uma previsão de uma amiga ("O holofote. Ela estava certa"), não causando qualquer tipo de confusão em Drew mesmo que o comentário remeta a um diálogo que o rapaz não participou. Por outro lado, Shankman acerta ao incluir brincadeiras com o absurdo do próprio gênero, como no instante em que o repórter vivido por Will Forte se desdobra para registrar os posicionamentos contrários no mash-up de We Built This City e We're Not Gonna Take It ou quando o acompanhamento musical é interrompido bruscamente depois que Drew, pensando em Sherrie e possivelmente prestes a cantar, é surpreendido pela presença de outro personagem no recinto.

Brincando ainda com a ascensão das boy bands e dotado de uma direção de arte que evoca maravilhosamente bem o final dos anos 80, Rock of Ages constrói um olhar suavizado sobre o período, unindo saudosismo a uma abordagem pop sem medo de soar como uma enorme bobagem - a ser apreciada pela qualidade de seu repertório e por reacender a esperança do musical como gênero cinematográfico.