

Seeking a Friend for the End of the World, EUA/Cingapura/Malásia/Indonésia, 2012 | Duração: 1h40m46s | Lançado no Brasil em 31 de Agosto de 2012, nos cinemas | Roteiro de Lorene Scafaria | Dirigido por Lorene Scafaria | Com Steve Carell, Keira Knightley, Tonita Castro, Derek Luke, Rob Corddry, Connie Britton, Adam Brody, William Petersen, T.J. Miller, Gillian Jacobs, Melanie Lynskey, Patton Oswalt, Rob Huebel e Martin Sheen.
Lorene Scafaria dá seu palpite com este irregular Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo, concebendo um universo que, a algumas semanas do desfecho inevitável, é marcado por um positivismo absurdo contraposto a um caos ilógico - e a ideia seria até curiosa caso a diretora e roteirista conseguisse criar uma trama e personagens mais interessantes. Na história, Steve Carell vive o corretor de seguros Dodge (Carell), que é abandonado pela esposa (vivida em uma ponta pela mulher do próprio ator) assim que a colisão de um asteroide com a Terra é confirmada pelas autoridades e, desnorteado, preserva sua rotina de trabalho como se nada de errado estivesse para acontecer. Porém, quando um motim alcança os arredores de sua residência e ameaça sua segurança, Dodge se lança na estrada com a vizinha amalucada Penny (Knightley), ele em busca de um antigo amor nunca consolidado e ela motivada por um último reencontro com a família.
E até certo ponto da viagem, pode-se dizer que o filme funciona bem. Aproveitando que a maioria de seus personagens parece inabalada por considerar a ideia do fim do mundo complexa demais de se assimilar, o roteiro de Scafaria cria uma porção de situações e diálogos que divertem por satirizar narrativas apocalípticas, incluindo desde a fidelidade excessiva da faxineira Elsa (Castro) ou a subversão da figura do motorista ameaçador até a tentativa de Penny de sair de uma vaga em uma situação de emergência sem esbarrar em outros carros ou a ocasião em que declara que não irá furtar nada do apartamento de Dodge desde que o homem não a estupre. Entretanto, o roteiro falha por não conseguir criar qualquer ameaça consistente na trajetória dos personagens - e se já era patético exibir agitadores depredando carros sem nenhum propósito aparente, testemunhar o mesmo grupo usando o prédio de Dodge e Penny como palco de um motim incendiário igualmente despropositado (e ainda por cima ineficiente, já que verificamos posteriormente que nenhum dano é causado ao interior dos apartamentos) prova que Scafaria simplesmente não tinha ideia de como dar início à fase road movie do longa de forma razoável.
E infelizmente, é ao longo dessa etapa que Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo começa a desandar, especialmente depois que o casal interage com os exaltados personagens de T.J. Miller e Gillian Jacobs no restaurante Friendsy's. Novamente investindo em soluções tolas e infundadas para alterar o rumo da narrativa (como o confisco de um carro ou certa perda do controle do veículo), o roteiro desenvolve a amizade do casal central como algo inevitável e suficiente, não economizando na representação da displicência emocional da avoada Penny ou na exposição da importância para Dodge de sua antiga paixão e o imenso potencial de que ela se concretize (afinal, quantas pessoas no mundo entalham o nome de uma paixão adolescente na cabeceira da cama?). Assim, o romance entre Dodge e Penny revela-se desnecessário na teoria, inconsistente na prática e só piora à medida que o longa se aproxima do desfecho - e, pesando para o insucesso da empreitada, entra o fato de que Steve Carell e Keira Knightley simplesmente não funcionam como um casal. Além disso, em mais de uma ocasião e com participação da seleção musical, Scafaria cria planos que parecem indicar que o fim (não exatamente do mundo, mas do filme) está próximo, criando a incômoda sensação de que a projeção se prolonga muito mais do que o necessário.
Voltando a conferir traços cômicos a um papel dramático após ser desperdiçado em Um Divã Para Dois, Steve Carell vive um homem recatado e de poucas palavras que, por força das circunstâncias, se vê obrigado a sair de sua zona de conforto para viver uma transformação que jamais soa convincente, ao passo que Keira Knightley consegue a proeza de transformar em uma figura tolerável uma mulher descomedida e de personalidade peculiar que considera uma atitude ponderada andar de baixo pra cima com uma pilha de vinis a poucos dias do juízo final. No mais, o grande número de rostos conhecidos (como Patton Oswalt, Rob Huebel ou Rob Coddry) em participações pequenas e irrelevantes contribui para a sensação recorrente de que nada importante está sendo apresentado, enquanto o veterano Martin Sheen é escalado para protagonizar uma enfadonha e clichê subtrama a uma altura do longa em que a esperança de salvação do projeto já havia sido atingida pelo asteroide.
Incapaz sequer de encontrar uma função para o cachorrinho Sorry (pedir desculpas para o público pelas irregularidades seria uma boa), Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo é um longa maçante e visualmente desinteressante que, ao invés de propor reflexões e entreter uniformemente, consegue apenas despertar no espectador a vontade de desenvolver repentinamente o distúrbio de sono de Penny e saltar logo para o fatídico boom.
