15 de agosto de 2012

Crítica | Outback - Uma Galera Animal

por Eduardo Monteiro

The Outback, Coréia do Sul/EUA, 2012 | Duração: 1h25m27s | Lançado no Brasil em 17 de Agosto de 2012, nos cinemas | Escrito por Scott Clevenger, Chris Denk e Timothy Wayne Peternel | Dirigido por Kyung Ho Lee | Com as vozes de Rob Schneider, Bret McKenzie, Yvonne Strahovski, Alan Cumming, Tim Curry, Frank Welker, Eric Lopez.

"De todos os continentes da Terra, não há nenhum como a Austrália". Exatamente; contrariando todas as expectativas que eu pudesse ter sobre Outback - Uma Galera Animal, com apenas alguns segundos de projeção me vi mergulhado em um profundo estado reflexivo: seria a controversa contida na frase que abre o filme uma tentativa de humor (hipótese remota), um prejuízo da tradução ou apenas uma negligência dos roteiristas? A resposta a que cheguei algum tempo depois é tão simples quanto se poderia esperar: pouco importa, já que esse contrassenso é o menor dos problemas de um filme cujos deméritos poderiam ser facilmente antecipados analisando os currículos dos principais envolvidos na produção.

Comandado pelo codiretor de Garfield Cai na Real e escrito pelos roteiristas responsáveis por animações como O Mar Não Está Pra PeixeDeu a Louca na Branca de Neve e A Lady e o Lobo - O Bicho Tá Solto!, o longa traz Rob Schneider (interrompa a leitura desse texto por alguns segundos para assimilar melhor essa informação) dando voz a uma variedade de personagens secundários e ao protagonista Johnny, um coala albino que sonha em tornar-se parte do espetáculo circense principal de um parque itinerante depois de passados seus 15 minutos de fama como uma atração freak. Porém, Johnny, o diabo-da-tasmânia Hamish (McKenzie) e o macaco fotógrafo Higgins (Welker) acabam se desprendendo acidentalmente do restante da trupe e rapidamente se veem envolvidos em uma disputa territorial entre animais do deserto australiano (vulgo Outback).

Exibindo uma tendência de usurpar ideias de outros estúdios desde a vinheta da produtora coreana Lotte Entertainment (que, nos moldes da Walden Media, mostra uma pedra quicando na superfície de um lago), Outback consegue se distanciar de acusações de plágio graças ao péssimo uso de todas as suas influências: a festa dos animais inspirada em Madagascar é insossa, as referências a 300, Homem-Aranha e Harry Potter são deslocadas e a esperança depositada no falso heroísmo de um personagem oriundo do circo em um deserto (Rango e Vida de Inseto veem à mente e se misturam) é apenas uma desculpa para um arco dramático pedestre e cenas de ação ruins e despropositadas - e se trazer o protagonista salvando o dia repetidas vezes por acidente já não fosse suficientemente ofensivo, o roteiro ainda tem a ousadia de tentar extrair uma lição absurda e esquizofrênica disso: "não foi sorte, se foi você quem fez".

Aliás, Outback merece todas as menções negativas pela quantidade de clichês que consegue reunir em seus pouco mais de 80 minutos, do "protagonista patinho feio" ao "casal que briga, mas se ama", passando pela batida cena de ação transcorrida em uma ponte de cordas e madeira podres. Além disso, os realizadores frequentemente lançam mão de incoerências gritantes para fundamentar as ações dos personagens: o perigo de uma cena envolvendo um rolo compressor, por exemplo, simplesmente não existiria caso os animais optassem por escapar pelas laterais ao invés de fugir do artefato correndo insistentemente em sua direção, da mesma forma que somos obrigados a acreditar que uma corda projetada para sustentar um ser humano rompa com o peso de um coala, mas suporte um crocodilo obeso. Entretanto, em questão de ineficácia, nada supera a crise amorosa vivida pelo protagonista e pela coala lilás Miranda (Strahovski), que ocorre inteiramente em não muito mais que um par de minutos e investe em falas como "eu posso explicar" ou "eu confiei em você".

Do ponto de vista técnico, Outback revela-se adequado a seu reduzido orçamento, concebendo água, pelos e texturas de forma relativamente eficiente, mas encontrando eventualmente barreiras na falta de imaginação de seus animadores, que insistem, por exemplo, em exibir um urubu perdendo sistematicamente duas penas a cada vez que levanta voo. Quanto ao uso do 3D, não é uma surpresa muito grande que o diretor Kyung Ho Lee recorra à artificialidade de objetos sendo frequentemente lançados na direção do espectador ou adote a câmera subjetiva quando os personagens são levados por uma corredeira (criando a sensação de montanha-russa). Além disso, o efeito tridimensional chega até mesmo a causar desconforto quando o céu de certas cenas não parece encontrar-se de fato ao fundo.

Jamais conseguindo emplacar o macaco Higgins ou um grupo de ursinhos como alívios cômicos, Outback é uma animação frouxa e vazia que, em seus últimos minutos, ainda tenta nos convencer que um indivíduo pode ser digno de tornar-se a atração principal de um espetáculo circense mesmo após destruir seu picadeiro - e reajustando esta percepção ao adaptá-la à nossa posição de espectadores do próprio longa, o desastre que este representa apenas aumenta ainda mais nossa desconfiança em relação a seus realizadores.