por Eduardo Monteiro

É simplesmente impossível levar a sério personagens vividos por fantoches ou marionetes - e é justamente aí que reside a grande graça de filmes estrelados por bonecos desse tipo. Inexpressivos por natureza, seres como Kermit e Miss Piggy d'Os Muppets conseguem conquistar o público graças ao trabalho de roteiristas, dubladores e titereiros que, driblando as limitações de suas tarefas, conferem alma e personalidade a seres de pano, espuma, borracha, plástico ou qualquer que seja o material de que são feitos. No caso de 31 Minutos - O Filme, o trabalho irregular dos roteiristas acaba comprometendo o sucesso dessa construção, já que a narrativa elaborada por eles jamais se torna suficientemente interessante para compensar os esforços dos profissionais que dão vida a seus personagens.
Chegando aos cinemas brasileiros com quatro anos de atraso, a adaptação da série de tevê chilena homônima conta a história de Juanín, o workaholic e ingênuo produtor do jornalístico 31 Minutos que, no dia do aniversário de seu egocêntrico patrão, amigo e ídolo Tulio, é despedido pelo próprio em função de um mal entendido. Desamparado, Juanín é raptado e levado para a ilha particular da vilã Cachirula, onde passa a integrar sua coleção particular de animais raros. Assim, Tulio, o repórter Bodoque e o restante da equipe do programa lançam-se ao mar em uma aventuresca missão de resgate.
Co-produzido por Chile, Brasil e Espanha, o filme conta em sua versão nacional com as vozes de atores famosos cujas contribuições, ainda que satisfatórias, jamais se equiparam ao trabalho feito pelos profissionais especializados - e não à toa, o Bodoque dublado pelo excelente Guilherme Briggs rouba todas as cenas de que participa. Voltando a se aventurar no universo da dublagem após trabalhar nas versões nacionais de O Galinho Chicken Little e Happy Feet, Daniel de Oliveira usa um tom calmo e doce que ressalta de forma certeira a personalidade passiva e ingênua de Juanín, enquanto Márcio Garcia (que deu voz a Diego na franquia A Era do Gelo) jamais consegue entrar em sintonia com os picos de excentricidade de Tulio. Fechando o elenco principal, Mariana Ximenes (que trabalhou com Daniel em O Galinho Chicken Little) acerta ao investir na histeria caricata para Cachirula - e quando precisa alterar o tom de voz para adequar-se ao contexto de determinada cena, a responsabilidade do resultado insatisfatório não recai sobre a atriz, mas sim sobre o design do fantoche, com seus olhos semicerrados que transmitem um tipo de desdém ausente naquele momento (e, vale mencionar, em vários outros da projeção).
A concepção dos bonecos, aliás, não é das mais inspiradas. Por um lado, é inegável que a aparência artesanal (Tulio é claramente inspirado em bonecos de meia) e a diversidade de materiais de que são feitos agregam charme àquelas criaturas (gosto particularmente do policial criado a partir da junção de uma smiley face com um desentupidor de ralos ou do "animal" que se resume a uma luva de boxe com olhos). Em contrapartida, algumas formas ou costuras excessivamente rústicas ou a opção de usar olhos de formatos e tamanhos diferentes em um mesmo personagem criam uma estética estranha e incômoda - e se isso funcionava bem para a televisão (algo que não posso afirmar), causa uma estranheza desnecessária quando transferido para a tela grande.
Entretanto, o maior problema de 31 Minutos é mesmo sua história: como se não bastasse inflar a já batida trama com bobagens como a baleia que engole e "peida" os personagens, o roteiro falha ao desenvolver a relação, o conflito e a reconciliação de Tulio e Juanín de forma extremamente artificial e formulaica, impedindo que nos importemos com o destino de ambos. Assim, com uma moral em mente e um público-alvo bem definido, os roteiristas Álvaro Díaz, Pedro Peirano, Daniel Castro e Rodrigo Salinas criam uma narrativa excessivamente mastigada, previsível, repleta de clichês (quando ligam a televisão, em determinado momento, os personagens descobrem todas as informações que precisavam saber para continuar a jornada) e frases de extremo mau gosto ("Não acredito mais na amizade. Agora só consigo acreditar na maldade" afirma Juanín em certo instante), com direito até mesmo a um número musical absolutamente desinteressante. Dessa forma, o que salva 31 Minutos são os raros momentos que investem em um humor mais nonsense, como a nova e abrupta civilização criada pelos personagens na ilha de Cachirula, a disciplina militar repentinamente desenvolvida no terceiro ato ou as brincadeiras com o próprio Cinema ("Você está levando essa figuração muito a sério", diz um peixe sendo devorado por uma gaivota).
Contando ainda com efeitos visuais satisfatórios e uma trilha que consegue emplacar uma ou outra brincadeira de gênero, 31 Minutos é uma distração tola que dificilmente permanecerá na mente do espectador após a sessão por um tempo maior que aquele sugerido por seu título.


31 Minutos, la Película, Brasil/Chile/Espanha, 2008 | Duração: 1h24m03s | Lançado no Brasil em 3 de Agosto de 2012, nos cinemas | Escrito por Álvaro Díaz, Pedro Peirano, Daniel Castro e Rodrigo Salinas | Dirigido por Álvaro Díaz e Pedro Peirano | Com as vozes de Daniel de Oliveira, Márcio Garcia, Mariana Ximenes e Guilherme Briggs.
É simplesmente impossível levar a sério personagens vividos por fantoches ou marionetes - e é justamente aí que reside a grande graça de filmes estrelados por bonecos desse tipo. Inexpressivos por natureza, seres como Kermit e Miss Piggy d'Os Muppets conseguem conquistar o público graças ao trabalho de roteiristas, dubladores e titereiros que, driblando as limitações de suas tarefas, conferem alma e personalidade a seres de pano, espuma, borracha, plástico ou qualquer que seja o material de que são feitos. No caso de 31 Minutos - O Filme, o trabalho irregular dos roteiristas acaba comprometendo o sucesso dessa construção, já que a narrativa elaborada por eles jamais se torna suficientemente interessante para compensar os esforços dos profissionais que dão vida a seus personagens.
Chegando aos cinemas brasileiros com quatro anos de atraso, a adaptação da série de tevê chilena homônima conta a história de Juanín, o workaholic e ingênuo produtor do jornalístico 31 Minutos que, no dia do aniversário de seu egocêntrico patrão, amigo e ídolo Tulio, é despedido pelo próprio em função de um mal entendido. Desamparado, Juanín é raptado e levado para a ilha particular da vilã Cachirula, onde passa a integrar sua coleção particular de animais raros. Assim, Tulio, o repórter Bodoque e o restante da equipe do programa lançam-se ao mar em uma aventuresca missão de resgate.
Co-produzido por Chile, Brasil e Espanha, o filme conta em sua versão nacional com as vozes de atores famosos cujas contribuições, ainda que satisfatórias, jamais se equiparam ao trabalho feito pelos profissionais especializados - e não à toa, o Bodoque dublado pelo excelente Guilherme Briggs rouba todas as cenas de que participa. Voltando a se aventurar no universo da dublagem após trabalhar nas versões nacionais de O Galinho Chicken Little e Happy Feet, Daniel de Oliveira usa um tom calmo e doce que ressalta de forma certeira a personalidade passiva e ingênua de Juanín, enquanto Márcio Garcia (que deu voz a Diego na franquia A Era do Gelo) jamais consegue entrar em sintonia com os picos de excentricidade de Tulio. Fechando o elenco principal, Mariana Ximenes (que trabalhou com Daniel em O Galinho Chicken Little) acerta ao investir na histeria caricata para Cachirula - e quando precisa alterar o tom de voz para adequar-se ao contexto de determinada cena, a responsabilidade do resultado insatisfatório não recai sobre a atriz, mas sim sobre o design do fantoche, com seus olhos semicerrados que transmitem um tipo de desdém ausente naquele momento (e, vale mencionar, em vários outros da projeção).
A concepção dos bonecos, aliás, não é das mais inspiradas. Por um lado, é inegável que a aparência artesanal (Tulio é claramente inspirado em bonecos de meia) e a diversidade de materiais de que são feitos agregam charme àquelas criaturas (gosto particularmente do policial criado a partir da junção de uma smiley face com um desentupidor de ralos ou do "animal" que se resume a uma luva de boxe com olhos). Em contrapartida, algumas formas ou costuras excessivamente rústicas ou a opção de usar olhos de formatos e tamanhos diferentes em um mesmo personagem criam uma estética estranha e incômoda - e se isso funcionava bem para a televisão (algo que não posso afirmar), causa uma estranheza desnecessária quando transferido para a tela grande.
Entretanto, o maior problema de 31 Minutos é mesmo sua história: como se não bastasse inflar a já batida trama com bobagens como a baleia que engole e "peida" os personagens, o roteiro falha ao desenvolver a relação, o conflito e a reconciliação de Tulio e Juanín de forma extremamente artificial e formulaica, impedindo que nos importemos com o destino de ambos. Assim, com uma moral em mente e um público-alvo bem definido, os roteiristas Álvaro Díaz, Pedro Peirano, Daniel Castro e Rodrigo Salinas criam uma narrativa excessivamente mastigada, previsível, repleta de clichês (quando ligam a televisão, em determinado momento, os personagens descobrem todas as informações que precisavam saber para continuar a jornada) e frases de extremo mau gosto ("Não acredito mais na amizade. Agora só consigo acreditar na maldade" afirma Juanín em certo instante), com direito até mesmo a um número musical absolutamente desinteressante. Dessa forma, o que salva 31 Minutos são os raros momentos que investem em um humor mais nonsense, como a nova e abrupta civilização criada pelos personagens na ilha de Cachirula, a disciplina militar repentinamente desenvolvida no terceiro ato ou as brincadeiras com o próprio Cinema ("Você está levando essa figuração muito a sério", diz um peixe sendo devorado por uma gaivota).
Contando ainda com efeitos visuais satisfatórios e uma trilha que consegue emplacar uma ou outra brincadeira de gênero, 31 Minutos é uma distração tola que dificilmente permanecerá na mente do espectador após a sessão por um tempo maior que aquele sugerido por seu título.
