13 de junho de 2012

Crítica | E aí... Comeu?

Marcos Palmeira e Bruno Mazzeo em E AÍ... COMEU?

★★

E Aí... Comeu?, Brasil, 2012 | Duração: 1h44m14s | Lançado no Brasil em 22 de junho de 2012, nos cinemas | Baseado na peça "E aí, Comeu?" de Marcelo Rubens Paiva. Roteiro de Marcelo Rubens Paiva e Lusa Silvestre | Dirigido por Felipe Joffily | Com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emilio Orciollo Netto, Dira Paes, Juliana Schalch, Laura Neiva, Tainá Müller, Seu Jorge, Murilo Benício, José de Abreu, Katiuscia Canoro, Renata Castro Barbosa, Juliana Alves, Paula Cohen, Laila Zaid.

Pôster/capa/cartaz nacional e crítica de E AÍ... COMEU?
A ficção machista parece enxergar apenas três perfis distintos de indivíduos do sexo masculino: primeiro, há o solteiro convicto cujo privilégio (e quase obrigação) consiste em se relacionar com o maior número possível de exemplares do sexo oposto, renunciando qualquer envolvimento emocional que possa levar a um relacionamento sério e duradouro. Em seguida, temos o pai de família preso a um casamento em que a frieza, a falta de diálogo e a desconfiança mútua reinam e destroem gradativamente a relação, levando um ou ambos a buscar fora do matrimônio soluções alternativas para suas carências. Por fim, há o homem assombrado pelo rompimento recente de um relacionamento, com os ciúmes e os ressentimentos desencadeando um processo de vilanização (injusta e misógina, na maioria das vezes) da ex-companheira. Não fortuitamente, acabo de descrever os três personagens centrais de E aí... Comeu?, seres unidimensionais como suas descrições sugerem e machistas como suas posturas denunciam.

Adaptado da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva por ele próprio em parceria com Lusa Silvestre (Estômago), o longa se desenrola boa parte no Bar Harmonia, onde os personagens de Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e Emílio Orciollo Netto se reúnem assiduamente para trocar ideias sobre mulheres e sexo, eventualmente relacionando-as com suas vidas amorosas. Fernando (Bruno Mazzeo), pouco depois de ser deixado pela esposa Vitória (Tainá Müller), se vê encantado pela vizinha adolescente Gabi (Laura Neiva), que parece retribuir o sentimento; Honório (Marcos Palmeira), casado com a bela Leila (Dira Paes) e pai de três garotinhas, mantém uma relação fria com a esposa, que frequentemente se ausenta de casa em programas noturnos sobre os quais jamais dá satisfação ao marido; e Fonsinho (Emílio Orciollo Netto) é um escritor rico, fracassado e ninfomaníaco, com tara por mulheres casadas e cujos principais gastos são pornografia e prostitutas de luxo, preferencialmente a bela e jovem Alana (Juliana Schalch), por quem parece alimentar algo mais próximo de uma afeição.

Todavia, bem como seus personagens, nenhuma das tramas foge do lugar-comum ou oferece surpresas ao espectador, servindo apenas como pano de fundo para que os roteiristas exibam suas habilidades de criar diálogos despudorados sobre sexo, que, apesar do excesso de inspiração e teatralidade (repare como o personagem de Mazzeo menciona os problemas pessoais de alimentação apenas para construir o duplo sentido já contido no próprio título do filme), acabam funcionando bem graças à naturalidade da dinâmica do trio de atores e ao cenário aconchegante do Bar Harmonia, cujas dimensões reduzidas aproximam os personagens sem sufocá-los. Dessa forma, é relativamente fácil deglutir a filosofia de boteco tricotada pelos amigos nas cenas iniciais, já que as recorrentes expressões de reprovação das mulheres de uma mesa vizinha em resposta à franqueza excessiva (e aceitável) dos rapazes parecem preparar o terreno para uma transformação de suas mentalidades deturpadas e mesquinhas mais adiante - algo que, na prática, lamentavelmente não se concretiza. E se considerarmos que as mulheres e seus olhares censurantes ganham relativo destaque mesmo sem desempenhar qualquer função na narrativa, suas presenças acabam se revelando um artifício pífio para tentar suavizar o teor machista das ideias apresentadas, como se ter alguém em cena condenando cada linha de diálogo dos marmanjos tornasse menos ofensivas colocações como "mulheres inteligentes têm rabo grande", "ruivas sabem dar" ou o adjetivo "adestrada" sendo usado para descrever uma mulher sexualmente experiente. Para piorar, as diferenças entre os dois grupos são simplesmente ignoradas a partir de certo ponto - e o motivo da conciliação abrupta final permanece um verdadeiro mistério.

Porém, a natureza machista do projeto não se limita às conversas de Fernando, Honório e Fonsinho sob efeito dos aperitivos servidos no Bar Harmonia - situação que seria até compreensível, uma vez que a necessidade latente de contar vantagens somada à embriaguez causada pelos sucessivos chopps poderia ser encarada como um sintoma de suas próprias inseguranças. Ao invés disso, porém, os roteiristas não se intimidam em povoar o longa com uma galeria de mulheres desvigoradas ou figuras típicas do imaginário masculino: Gabi, vivida por Laura Neiva (À Deriva), é a ninfeta com a fantasia de se relacionar com um homem mais velho e jamais exibe qualquer traço identificável de atração afetiva por Fernando (também é válida a recíproca); já a Vitória de Tainá Müller é digna de compaixão e pena, tanto por ser obrigada a agir de forma estúpida apenas para criar um conflito na trama monotônica do ex-esposo quanto por ser encarada como antagonista, devendo ainda enfrentar as consequências da imaturidade crônica do personagem de Mazzeo até mesmo após a separação; enquanto isso, a Leila vivida pela talentosa Dira Paes exibe um esboço de dramaticidade que nunca alcança o contorno desejado, jogado finalmente às traças quando, em um momento decisivo, fica sujeito à arbitrariedade de mudanças comportamentais absurdas e à artificialidade dos diálogos (Honório: "Quer gelo [no seu uísque]?". Leila: "Não. Eu quero calor [na nossa relação]!" - lembrando que os trechos entre colchetes não são ditos); por fim, há a lésbica despachada, a advogada incompetente (que faz piada durante uma audiência) e, é claro, as prostitutas de luxo, que se mostram bastante atenciosas com clientes prolixos até o momento em que o rendimento financeiro de seus turnos seja ameaçado - o que também se aplica à personagem de Juliana Schalch (Os 3), cuja relação com Fonsinho não goza de clareza para o público.

Emílio Orciolo Netto, Marcos Palmeira e Bruno Mazzeo em E AÍ... COMEU?

Já os personagens masculinos, como observado, não se saem muito melhor: o de Bruno Mazzeo, mesmo sendo o único capaz de elaborar uma linha de pensamento que considere o ponto de vista feminino (quando aponta a disparidade entre a abordagem das promiscuidades masculina e feminina), não consegue admitir que a ex-esposa dê seguimento à própria vida e se comporta como uma criança em boa parte do tempo (repare sua incapacidade de disfarçar a insatisfação de estar em determinada festa); já o de Marcos Palmeira nos leva a questionar se Honório é seco com Leila porque a mulher sai de casa sem dar satisfações ou se ela sai sem dar satisfações porque o marido é naturalmente seco, além de demonstrar uma inteligência fora do comum ao buscar discrição e privacidade dentro do local de trabalho para efetuar uma ligação telefônica enquanto esquece de fechar o site bandeiroso do qual extraiu o contato; por fim, o de Emilio Orciollo Netto se estabelece como o primeiro autor fracassado que não consegue terminar um livro por... ter finais demais redigidos e não conseguir decidir-se por um, revelando que a oportunidade de criar uma gag envolvendo uma pilha de pastas com etiquetas como "final mela cueca" ou "final hitchcockiano" suplanta a possibilidade de se aprofundar em sua inabilidade de redigir uma história convincente sobre amor. Entretanto, a composição do carismático Orciollo Netto se sobressai por conferir uma espécie de ingenuidade ao personagem, algo que fica evidente quando o rapaz decide pedir em namoro uma mulher notavelmente esquiva ou na cena em que Fonsinho, completamente embriagado, faz uma delicada proposta para certa personagem. Por fim, Seu Jorge confere uma bem-vinda simplicidade à tradicional figura do garçom-amigo, ao passo que Murilo Benício, em sua breve participação, consegue divertir ao transformar o publicitário Wôlney em um sujeito importuno e expansivo, incapaz de conter a própria excitação ao rever um velho conhecido.

Assinando seu terceiro trabalho na direção de longas (ainda não me recuperei totalmente do mais recente, o traumático e desastroso Muita Calma Nessa Hora), Felipe Joffily até consegue extrair boas interpretações de seu elenco e criar um ou outro momento divertido (dentre os quais não podem ser incluídos, por exemplo, os tutoriais apresentados por Marcos Palmeira, que alteram a linguagem do filme na tentativa de criar gags tolas), mas abusa da boa vontade do espectador ao contrariar o despudor dos diálogos e trazer personagens transando completamente vestidos (a pressa - um elemento fundamental do contexto da cena em questão - não justifica a inviabilidade mecânica) ou desempenhando sexo oral de um modo que só seria possível caso o praticante tivesse um pênis de, no mínimo, cinquenta centímetros. Fora isso, Joffily alterna momentos de maior obviedade (como a chegada dos personagens em festas, vista sempre em câmera lenta) com outros mais inspirados (o raccord sonoro que nos leva do banheiro de Fonsinho para o de Fernando é o exemplo mais marcante), enquanto a trilha de Plínio Profeta (O Palhaço) é repleta de acertos, como ao confrontar as expectativas do trio na entrada de uma festa com a posterior realidade frustrante de suas passagens insignificantes pelo local.

Nivelando o espectador sempre por baixo (eu certamente infartaria de surpresa caso a cena que traz Bruno Mazzeo posando um livro sobre a virilha e cruzando as pernas com relativa discrição após vislumbrar Laura Neiva de biquíni não fosse seguida por um dos amigos alardeando as ações com um expositivo "Ficou de pau duro, né? Pode falar!"), E aí... Comeu? desperdiça a chance de usar o discurso aberto e despudorado em benefício próprio - e confesso que o teor sexual ficou tão entranhado em minha mente que, sem entender a função das sucessivas falhas da moto de Honório em certa passagem, acabei encarando-as como uma analogia à ejaculação precoce, em função da irritação e da sensação de impotência vivenciadas pelo personagem graças às periódicas interrupções no funcionamento do motor. Não ingeri qualquer tipo de bebida alcoólica para teorizar tamanha tolice, mas começo a desconfiar que talvez tivesse sido mais recompensador assistir ao filme inteiro sob efeito de alucinógenos.

Emílio Orciollo Netto, Bruno Mazzeo e Marcos Palmeira em E AÍ... COMEU?

2 de junho de 2012

Crítica | Branca de Neve e o Caçador

Kristen Stewart em BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman)


Snow White and the Huntsman, EUA, 2012 | Duração: 2h07m07s | Lançado no Brasil em 1º de junho de 2012, nos cinemas | Escrito por Evan Daugherty. Roteiro de Evan Daugherty e John Lee Hancock e Hossein Amini | Dirigido por Rupert Sanders | Com Kristen Stewart, Charlize Theron, Chris Hemsworth, Sam Claflin, Sam Spruell, Ian McShane, Bob Hoskins, Ray Winstone, Nick Frost, Eddie Marsan, Toby Jones, Johnny Harris, Brian Gleeson, Vincent Regan, Lily Cole, Noah Huntley.

Pôster/capa/cartaz nacional de BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman)
A certa altura de Branca de Neve e o Caçador, mais nova adaptação do clássico conto dos irmãos Grimm, a protagonista vivida por Kristen Stewart surge inserida numa robusta armadura que, tornando seus movimentos desajeitados ao mesmo tempo que destaca a jovialidade de seu rosto à mostra, transmite perfeitamente bem o ímpeto da garota e a inadequação de sua presença no violento confronto que transcorre naquele momento. Todavia, esse talvez seja o único instante das mais de duas horas de projeção em que a escalação de Stewart para o papel principal se revela adequada, já que no restante do tempo a aparentemente insuperável apatia da atriz sabota de várias formas o roteiro escrito por Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini - que, a seu próprio modo, também não parece muito empenhado em evitar a própria ruína.

Comandado pelo estreante Rupert Sanders, o filme conta a origem da jovem princesa Branca de Neve (Kristen Stewart) e a ascensão de sua vaidosa e invejosa madrasta, Ravenna (Charlize Theron), cuja incontestável beleza custou a vida do Rei (Noah Huntley), bem como a prosperidade do reino. Um belo dia, porém, a rainha é informada por seu espelho mágico que a enteada, mesmo aprisionada por anos sob maus-tratos na mais alta torre do castelo, tem saúde suficiente para roubar-lhe o posto de mulher mais bela - e somente após descobrir que sua vida corre risco, a mocinha planeja e executa sua fuga triunfal do cativeiro. Possessa, a rainha ordena que seu irmão e capacho Finn (Sam Spruell) envie um bom conhecedor da Floresta Negra em uma missão de resgate - e é aí que o Caçador (Chris Hemsworth) entra na história. Mas espere: Kristen Stewart é mais bela que Charlize Theron? Foi isso mesmo que o espelho disse?

Sim, exatamente isso - e aqui aprendemos a primeira grande lição do filme: nunca confie em um espelho côncavo. E é então que, ciente desse ligeiro absurdo e tentando reverter o gosto amargo deixado pela ideia, o roteiro altera os conceitos da versão mais popular da história clássica e traz o coração da garota sendo cobiçado não como uma evidência de sua morte (e, portanto, soberania da beleza da rainha), mas como o único item capaz de fazer funcionar um feitiço que garantiria beleza eterna à madrasta, não necessitando mais sugar a juventude de seus súditos para reverter o envelhecimento causado pelo uso indiscriminado de magia (uma espécie de fusão, portanto, da personagem de Michelle Pfeiffer em Stardust - O Mistério da Estrela com a de Monica Bellucci em Os Irmãos Grimm). Daí, não demora muito para que o Caçador se alie à princesa e parta em busca de reforços para derrotar a vilã, percorrendo florestas onde se deparam com muita lama, corvos, seres peçonhentos, personagens descartáveis, romances forçados, uma penca de anões, trolls, fadas e toda a sorte de criaturas fantasiosas que possam inchar o filme e fazer valer o investimento nos efeitos especiais. Para completar, somos informados por um anão bêbado e demente que Branca de Neve sofre do clichê de ser a escolhida, a eleita, para qualquer coisa parecida com salvar o mundo.

Mantendo as mesmas boca entreaberta e expressão de insatisfação constante que vêm marcando sua composição de Bella na "saga" Crepúsculo, Kristen Stewart entrega um desempenho inadequado para o papel central, até mesmo para o padrão sombrio e lúgubre da adaptação: falhando especialmente em se provar mais bela que Charlize Theron (qualquer hipótese baseada na ideia de "beleza interior" é estúpida, já que a história perderia completamente o sentido), a atriz apresenta um vigor físico em cena que jamais compensa a apatia e a insipidez que confere à personagem - uma incompatibilidade que fica mais que evidente no terrível discurso motivacional feito pela princesa para seu exército ("Prefiro morrer hoje a viver mais um dia dessa morte" é uma das pérolas proferidas), que, em um contexto verídico, levaria seus ouvintes às gargalhadas, e não às urras de entusiasmo. Dessa forma, a inexpressividade da atriz impõe diversas barreiras para que nos importemos com o destino da personagem - tarefa sabotada ainda mais por sua dificuldade quase patológica de esboçar um sorriso no encerramento do longa (remetendo diretamente à cena do casamento em Amanhecer - Parte 1) ou pela expressão de aparente constrangimento ao dançar com um anão na floresta.

Charlize Theron em BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman)

E por falar nos anões, vale mencionar que os pequeninos recebem do roteiro uma importância reduzida - uma opção acertada, já que se revelam mais aborrecidos do que o esperado. Vividos por atores de estatura normal (submetidos, claro, a eficientes efeitos especiais ou trucagens de câmera) e de rostos conhecidos (para facilitar a identificação do público), os oito anões (a "polêmica" envolvendo este número é irrelevante, já que em momento algum é possível contar quantos eles realmente são) falham em conquistar o público e permanecem a maior parte do tempo tentando ser engraçados, ganhando apenas no terceiro ato uma participação mais efetiva no desenrolar da trama - e chega a ser patética a forçada aproximação da protagonista com um anão específico, visando apenas conferir um peso dramático maior à cena posterior que revela o futuro do homenzinho. E enquanto o Caçador de Chris Hemsworth ganha a enfadonha tarefa de proteger a mocinha e a ridícula função de subverter expectativas quanto aos interesses românticos da protagonista, a Ravenna de Charlize Theron rouba a cena justamente graças àquilo que a atriz possui de melhor: sua beleza e presença física, já que, em meio a cenas em que surge exuberante e graciosa proferindo ordens ou semi-nua em seus tratamentos de beleza, o roteiro não lhe reserva muitas oportunidades de transformar a madrasta em uma figura menos unidimensional, ficando sujeita a falas tolas como: "Não posso ir pessoalmente à Floresta Negra. Meus poderes não funcionam por lá".

A perigosa e vil Floresta Negra, aliás, surge como um dos clichês mais canalhas do projeto, funcionando como um coringa que se molda arbitrariamente para se adaptar às exigências específicas de cada situação: além de ser usada para postergar o reencontro de Branca de Neve com Ravenna (justificada pela tolice transcrita no final do parágrafo anterior), a floresta não oferece grandes desafios à travessia dos personagens-título, a despeito de sua fama consensual de intransponível - e no retorno da caravana ao castelo, então, o obstáculo sequer é mencionado. Em contrapartida, o pânico vivido por Branca de Neve no primeiro contato com a floresta - apesar da necessidade de alucinógenos - é construído com eficiência por Sanders e sua equipe, representando ainda uma das poucas referências claras e diretas à animação clássica da Disney de 1937.

Aliás, os elogios referentes à parte técnica do filme se estendem aos mais diversos âmbitos da produção, desde a majestosa direção de arte creditada a uma porção de profissionais e supervisionada por David Warren (A Invenção de Hugo Cabret) ou trechos mais impactantes da trilha sonora de James Newton Howard (especialmente na primeira metade do filme) até os excelentes efeitos especiais, tanto os empregados nas criaturas (como o convincente troll ou as desenvoltas fadas) quanto aqueles dedicados à rainha, dos mais sutis (o desaparecimento instantâneo de pequenos poros e rugas do rosto de Theron) aos mais exibicionistas (a rainha exposta ao fogo). Para completar, a direção do estreante Rupert Sanders não consegue contornar os problemas do roteiro e, em algumas sequências, acaba alcançado resultados que remetem ao pior de Robin Hood de Ridley Scott, mas é possível afirmar que os esforços estéticos do diretor acabam criando passagens que funcionam bem como espetáculo puramente visual - geralmente envolvendo Ravenna e, claro, muitas câmeras lentas.

Repleto de personagens e subtramas descartáveis e mal desenvolvidos (a aldeia de mulheres com cicatrizes nos rostos, o drama do passado do Caçador e mais uma porção de personagens não mencionados são subaproveitados) e dotado de um final decepcionante, Branca de Neve e o Caçador utiliza tão pouco o potencial do material em que é baseado e se desvia tanto de seus conceitos básicos que nos leva a questionar a real necessidade de se promover como uma adaptação do conto clássico. Talvez o longa fosse mais honesto com o público caso trouxesse o Caçador e o aspirante a príncipe, William (Sam Claflin), disputando deliberadamente em uma aborrecida batalha épica o coração da insossa, indecisa e acossada mocinha, interpretada obrigatoriamente por Kristen Stewart. Interessados em conferir o resultado certamente não faltariam.

Chris Hemsworth e Kristen Stewart em BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (Snow White and the Huntsman)