
★★★★
The Avengers, EUA, 2012 | Duração: 2h22m11s | Lançado no Brasil em 27 de abril de 2012, nos cinemas | História de Zak Penn e Joss Whedon. Roteiro de Joss Whedon | Dirigido por Joss Whedon | Com Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Mark Ruffalo, Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Clark Gregg, Stellan Skarsgård, Gwyneth Paltrow, Cobie Smulders e a voz de Paul Bettany.
Caso não fosse uma ideia oriunda dos quadrinhos, a reunião de vários super-heróis famosos em um mesmo filme não seria um conceito muito difícil de ser alcançado pelas mentes criativas de Hollywood. Afinal, com os personagens já tendo sido devidamente apresentados em filmes individuais de sucesso, a convergência de suas histórias se torna uma decisão quase instintiva e certamente repleta de vantagens: os públicos (fora as intercessões, é claro) são somados, os acertos de cada um podem ser reprisados e a presença de vários personagens fortes dividindo a cena - alguns deles antes tidos como protagonistas - confere uma aura de grandiosidade ao projeto, transformando a reunião quase em um evento por si só. Felizmente, o diretor e roteirista Joss Whedon (Serenity - A Luta Pelo Amanhã) abraça com competência essas possibilidades mencionadas e transforma Os Vingadores em um filme de ação alucinante, ainda que peque por lançar mão do excesso de personagens e das tentativas de humor em detrimento da lógica e da razoabilidade de determinadas passagens.
Escrito por Zak Penn e pelo próprio Joss Whedon com base nas HQs criadas por Stan Lee e Jack Kirby, o longa tem início quando uma instalação militar-científica da S.H.I.E.L.D. é invadida pelo deus Loki (Tom Hiddleston), que, em sua busca desenfreada por poder, rouba o poderoso cubo Tesseract e domina as mentes do cientista Selvig (Stellan Skarsgård) e do arqueiro Clint Barton (Jeremy Renner) através de um tipo particular de magia. Temendo o possível desastre que a posse do artefato pelo vilão pode causar, o coronel Nick Fury (Samuel L. Jackson) tenta reunir algumas das mais heroicas, habilidosas e poderosas pessoas do planeta para deter Loki e resgatar o Tesseract antes que este seja usado contra a humanidade - e não demora muito para que, motivados por um objetivo em comum, passem a trabalhar juntos o playboy bilionário Tony Stark (Robert Downey Jr.), sob a armadura do Homem de Ferro, o ex-soldado Steve Rogers (Chris Evans), mais conhecido como Capitão América, o deus do trovão Thor (Chris Hemsworth), irmão adotivo de Loki, o cientista Bruce Banner (Mark Ruffalo), que em momentos de fúria e descontrole se torna o monstruoso Hulk, a habilidosa espiã Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), também conhecida como Viúva Negra, e o então consciente Gavião Arqueiro, codinome do agente de elite Clint Barton.
Todavia, os temperamentos e alguns objetivos díspares impedem que a convergência das trajetórias dos heróis transcorra espontaneamente - e é curioso que a primeira vez em que Homem de Ferro, Thor, Capitão América, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro dividem de fato a cena só ocorre já no terceiro ato da projeção. Assim, o roteiro de Whedon acerta ao dedicar uma boa dose de atenção à hesitação de Bruce Banner diante da convocação de Romanoff (repare as sugestivas manchas de tinta verde nas paredes do barraco onde esta cena transcorre), à chegada de Thor à Terra e seu embate com o Homem de Ferro e o Capitão América ou ao crescente desentendimento entre os personagens na nave porta-aviões da S.H.I.E.L.D., culminando em uma colaboração motivada essencialmente pelas forças das circunstâncias, pelo instinto de sobrevivência e pela bússola moral de cada um deles. É uma pena, portanto, que reviravoltas absurdas no comportamento de alguns dos heróis acabem comprometendo o arco narrativo, com destaque especial para a transformação abrupta de Hulk ocorrida em um momento-chave de Os Vingadores: apresentado pelo próprio filme como uma criatura agressiva e descontrolada, que não consegue sequer distinguir aliados de inimigos, o personagem se torna um ser consideravelmente prudente de uma hora para outra, assumindo de vez o aguardado papel de super-herói - algo que o roteiro parece tentar explicar de forma rasteira através de um diálogo pouco esclarecedor que antecede a mudança comportamental. Em menor grau, também é triste ter que assistir a Loki, tido como um deus sábio e perspicaz, abaixando suas defesas e desdenhando do monstro verde, algo descaradamente incluído apenas como pretexto para uma cena com claras motivações cômicas.

E já que mencionei isso, vale ressaltar que as inserções de humor no filme nem sempre apresentam uma organicidade adequada. Agregando os aspectos cômicos vistos em Thor e nos dois Homem de Ferro e expandindo-os para praticamente todos os personagens, Whedon constrói uma infinidade de gags que, mesmo funcionando bem na maioria das situações, saltam aos olhos sempre que ferem a lógica em detrimento da graça, como na cena em que Thor defende vigorosamente o meio-irmão e, após descobrir suas ações malignas recentes, solta um ágil "Ele é adotado!", num misto inexplicável de constrangimento e espirituosidade. Da mesma forma, a inesperada descarga de adrenalina de Hulk sobre o deus do trovão durante a batalha do clímax é uma opção absolutamente óbvia e forçada de humor e que apenas ressalta a tentativa desesperada dos realizadores de construir um Hulk cômico, ao passo que os já conhecidos egocentrismo e arrogância de Tony Stark, as constatações e lamentações de Bruce Banner sobre sua própria condição e as tiradas pontuais do retrógrado Steve Rogers conseguem ser tão divertidos e eficientes quanto as brincadeiras feitas com os excepcionais métodos de investigação e interrogatórios da Viúva Negra.
Porém, é nas cenas de ação que Os Vingadores se supera como um entretenimento de peso: intensas, bem coreografadas e repletas de destruição, as sequências utilizam bem os elementos dos cenários e as habilidades particulares de cada personagem, sendo beneficiadas ainda pela eficiência homogênea dos efeitos especiais. Entretanto, por mais interessante que seja acompanhar aqueles heróis se enfrentando, lutando lado-a-lado ou somando seus poderes, é inegável que a aparente invulnerabilidade dos Vingadores cause uma carência de tensão, perigo e urgência nos embates, o que naturalmente diminui nosso investimento emocional naquelas sequências - e a situação não melhora nem quando um deles é avisado que estará embarcando em certa "viagem apenas de ida" segundos após tomar uma decisão altruísta, já que a afirmação se revela completamente mentirosa. Além disso, o excesso de personagens acaba sendo constantemente usado como um pretexto para ressurgimentos arbitrários sempre que um confronto parece além da capacidade de um ou mais personagens - e no meio disso tudo, nem o curioso plano-sequência que percorre os ares de Nova York e flagra cada um dos heróis em ação consegue se salvar, já que acaba ressaltando a improbabilidade e a conveniência de os embates ocorrerem tão próximos uns dos outros. Ainda nesse sentido, o filme acaba apelando para decisões pouco criativas para equilibrar as colaborações de cada integrante do grupo no clímax, de modo que os humanos comuns e desfavorecidos dentre os Vingadores (isto é, a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro) acabam sendo submetidos a estripulias excessivamente arriscadas e pouco críveis.
Decepcionante em sua versão em 3D (o que não é nenhuma novidade, já que foi submetido ao processo de conversão), Os Vingadores estabelece o grupo de super-heróis como uma ótima promessa para o futuro das adaptações da Marvel, a julgar que, à primeira vista, os filmes individuais desses personagens podem estar condenados pela provável demanda desmedida por justificativas para que cada herói enfrente seus antagonistas sem a ajuda de suas novas e eficientes parcerias. Se todo esse esforço criativo fosse direcionado para novas aventuras dos Vingadores, acredito que poderíamos esperar boas surpresas vindas da equipe do coronel Fury.
Obs.: há uma cena adicional durante os créditos finais, além de mais uma extra ao final da projeção (adicionada às pressas na véspera do lançamento e, por isso, ausente em boa parte das cópias).
