
★★
Battleship, EUA, 2012 | Duração: 2h11m10s | Lançado no Brasil em 11 de maio de 2012, nos cinemas | Escrito por Erich Hoeber e Jon Hoeber | Dirigido por Peter Berg | Com Taylor Kitsch, Alexander Skarsgård, Rihanna, Liam Neeson, Brooklyn Decker, Gregory D. Gadson, Tadanobu Asano, Jesse Plemons, Peter MacNicol e Adam Godley.

- A pessoa com a mais alta patente - responde um marujo.
- E quem seria essa pessoa? - retruca Hopper.
(pausa dramática)
- ...Você!
É com esse diálogo que, a certa altura de Battleship - A Batalha dos Mares, finalmente nos certificamos de algo que o longa de Peter Berg (Hancock) vinha sugerindo até então: a posição privilegiada do protagonista na hierarquia da marinha. Ainda que esse fato seja bastante esperado, é quase inevitável que o espectador compartilhe o espanto do personagem de Taylor Kitsch naquele instante, mas por outras razões: apresentado como um homem fracassado, imaturo e irresponsável, capaz de cometer um delito e causar um enorme prejuízo apenas para conquistar uma garota (e o pior: ele consegue), Alex é praticamente forçado pelo irmão, o comandante Stone Hopper (Alexander Skarsgård), a ingressar na marinha - processo este omitido por uma elipse, que nos transporta diretamente para as vésperas dos eventos centrais do longa. Porém, as circunstâncias que viabilizam a ascensão meteórica do protagonista - um homem, repito e acrescento, fracassado, imaturo, irresponsável, indisciplinado, orgulhoso e impulsivo - na carreira naval é algo que o filme jamais consegue explicar, embora seu novo corte de cabelo (a única mudança notável entre as duas fases do personagem) seja um bom ponto de partida para espectadores desocupados que quiserem bolar explicações mirabolantes para o caso.
Todavia, é fácil perceber que, caso esse prólogo nunca tivesse existido, seria muitíssimo mais fácil aceitar o cargo de tenente de Alex, bem como seu relacionamento com a fisioterapeuta Sam (Brooklyn Decker), cujo princípio abrupto em nada acrescenta à narrativa - e a importância conferida a um pênalti a ser cobrado em uma partida de futebol pelo protagonista, por exemplo, é algo que torna a introdução ainda mais embaraçosa. Dessa forma, é em meio a estas e várias outras perguntas sem boas respostas que o roteiro de Erich e Jon Hoeber nos informa que, em 2005, cientistas descobriram em algum lugar do universo um planeta com condições climáticas próximas às da Terra e, portanto, passível de abrigar formas de vida semelhantes às terráqueas. A subsequente tentativa de contato com o remoto planeta, entretanto, acaba atraindo a atenção dos alienígenas e induzindo-os a enviar um comboio de naves à Terra, que acaba precipitando em um ponto do mar próximo de onde os irmãos Hopper e outros marinheiros desempenham um treinamento naval. Porém, em pouco tempo, os marujos descobrem que a missão dos extraterrestres não é exatamente pacífica, o que desencadeia um confronto armado explosivo e barulhento.
Aliás, para início de conversa, a tal missão dos invasores jamais fica clara - e isso não seria um grande problema caso o roteiro não tentasse dar explicações supostamente definitivas. Vista pelos humanos como uma versão em nível interplanetário da chegada de Colombo às Américas, a invasão e seus consequentes conflitos parecem, na verdade, um misto nocivo de mal-entendido com estupidez: colocando-nos repetidas vezes no ponto de vista dos alienígenas e de suas máquinas, o filme deixa bem claro o zelo da raça visitante com a espécie humana, o que fatalmente contradiz sua decisão de destruir impiedosamente navios tripulados ou causar certos danos à infraestrutura de cidades que, indiretamente, poderiam resultar em acidentes fatais para seus habitantes. Por outro lado, a hostilidade dos invasores é relativizada quando a interface alienígena nos adverte que o arsenal terráqueo só faz parte de seus alvos caso lhes ofereça um perigo evidente - isto é, esteja apontado na direção deles -, mas a regra não é mantida em tempo integral e vai contra o discurso de "aproximação da extinção humana" que o filme tenta martelar como uma verdade indiscutível na cabeça do espectador. Dessa forma, pela incoerência e falta de diálogo entre as partes (apesar, claro, das tentativas dos humanos), Battleship acaba parecendo uma versão de Marte Ataca! que se leva a sério demais.
Claro que, no fundo, há uma explicação muito boa para a estupidez dos alienígenas superar a dos humanos: criar um equilíbrio de forças na batalha, já que os visitantes possuem uma clara dianteira. Assim, somos obrigados a aceitar que habitantes de um planeta com atmosfera e distância solar equivalentes às da Terra deparem-se com condições físicas adversas por aqui ou que lutem de igual para igual com seres humanos mesmo munidos de robustas armaduras metálicas, bem como a facilidade com que são derrotados por um sujeito que interpreta erroneamente os ensinamentos de A Arte da Guerra. No quesito inteligência, todavia, os humanos não ficam muito atrás - e os maiores ofendidos pelos roteiristas provavelmente são as forças armadas dos Estados Unidos, que parecem incapazes de notar a intensa e suspeita movimentação alienígena em certo terreno, cabendo, portanto, a três cidadãos indefesos a tarefa de se desdobrarem para alertar Hopper sobre a situação - o que coloca nas mãos de uma tripulação presa em alto-mar por uma barreira de energia a única esperança de salvação do mundo. Os atores, claro, se esforçam para transmitir uma sensação de relevância e urgência: enquanto o veterano Liam Neeson surge sempre sisudo e deferindo ordens em suas poucas aparições como o Almirante Shane, o azarão Taylor Kitsch confere a Alex a mesma energia e intensidade que o fez ao personagem-título de John Carter: Entre Dois Mundos, ao passo que qualquer suposição sobre o futuro da carreira da cantora Rihanna no Cinema é absolutamente tola, já que a atriz coadjuvante é tão pau-mandado quanto sua personagem (que, evidentemente, foi construída em torno da persona cinematográfica estabelecida por Michelle Rodriguez ao longo dos anos).
Enquanto isso, os efeitos especiais se adequam bem ao investimento de produção, mas revelam-se irregulares, por exemplo, na movimentação frenética dos discos destruidores, na concepção dos alienígenas (que, não à toa, dão as caras em poucas ocasiões) ou sempre que muitas camadas de informações visual se sobrepõem na tela. Já o design das naves e o desempenho de seus mecanismos surgem como uma distração desnecessária que constantemente despertam más recordações de Transformers, ao passo que as cenas de ação, mesmo com toda a intensidade e destruição, mostram-se mais aborrecidas do que o ideal - com exceção, talvez, daquela envolvendo um encouraçado, que se destaca por exigir uma dinâmica maior e mais interessante da tripulação. Ademais, a forma encontrada pelos produtores para relacionar o filme com o jogo de Batalha Naval no qual é vagamente inspirado é até curiosa, mas acaba sabotada pela construção falha da sequência que a acolhe graças ao emprego abusivo de arbitrariedade para alcançar o sucesso do ataque remoto do Capitão Yugi Nagata (Tadanobu Asano) ao inimigo.
Juntando-se à trilogia Transformers no homogêneo grupo de produções descerebradas oriundas de produtos da Hasbro (que, agora, tem até sua própria vinheta no início do filme), Battleship - A Batalha dos Mares é um desanimador indício da inabilidade da empresa de brinquedos em contribuir artisticamente para o Cinema - e digo isso com base não só na risível cena pós-créditos, que deixa um gancho terrivelmente óbvio para uma possível continuação, mas também em temores sobre o que poderia ser realizado caso a Hasbro estendesse sua obsessão por alienígenas para a adaptação de outros de seus produtos. Já consigo até imaginar a quebradeira entre corretores terráqueos e banqueiros intergaláticos robotizados em Monopoly - O Filme.
Aliás, para início de conversa, a tal missão dos invasores jamais fica clara - e isso não seria um grande problema caso o roteiro não tentasse dar explicações supostamente definitivas. Vista pelos humanos como uma versão em nível interplanetário da chegada de Colombo às Américas, a invasão e seus consequentes conflitos parecem, na verdade, um misto nocivo de mal-entendido com estupidez: colocando-nos repetidas vezes no ponto de vista dos alienígenas e de suas máquinas, o filme deixa bem claro o zelo da raça visitante com a espécie humana, o que fatalmente contradiz sua decisão de destruir impiedosamente navios tripulados ou causar certos danos à infraestrutura de cidades que, indiretamente, poderiam resultar em acidentes fatais para seus habitantes. Por outro lado, a hostilidade dos invasores é relativizada quando a interface alienígena nos adverte que o arsenal terráqueo só faz parte de seus alvos caso lhes ofereça um perigo evidente - isto é, esteja apontado na direção deles -, mas a regra não é mantida em tempo integral e vai contra o discurso de "aproximação da extinção humana" que o filme tenta martelar como uma verdade indiscutível na cabeça do espectador. Dessa forma, pela incoerência e falta de diálogo entre as partes (apesar, claro, das tentativas dos humanos), Battleship acaba parecendo uma versão de Marte Ataca! que se leva a sério demais.

Claro que, no fundo, há uma explicação muito boa para a estupidez dos alienígenas superar a dos humanos: criar um equilíbrio de forças na batalha, já que os visitantes possuem uma clara dianteira. Assim, somos obrigados a aceitar que habitantes de um planeta com atmosfera e distância solar equivalentes às da Terra deparem-se com condições físicas adversas por aqui ou que lutem de igual para igual com seres humanos mesmo munidos de robustas armaduras metálicas, bem como a facilidade com que são derrotados por um sujeito que interpreta erroneamente os ensinamentos de A Arte da Guerra. No quesito inteligência, todavia, os humanos não ficam muito atrás - e os maiores ofendidos pelos roteiristas provavelmente são as forças armadas dos Estados Unidos, que parecem incapazes de notar a intensa e suspeita movimentação alienígena em certo terreno, cabendo, portanto, a três cidadãos indefesos a tarefa de se desdobrarem para alertar Hopper sobre a situação - o que coloca nas mãos de uma tripulação presa em alto-mar por uma barreira de energia a única esperança de salvação do mundo. Os atores, claro, se esforçam para transmitir uma sensação de relevância e urgência: enquanto o veterano Liam Neeson surge sempre sisudo e deferindo ordens em suas poucas aparições como o Almirante Shane, o azarão Taylor Kitsch confere a Alex a mesma energia e intensidade que o fez ao personagem-título de John Carter: Entre Dois Mundos, ao passo que qualquer suposição sobre o futuro da carreira da cantora Rihanna no Cinema é absolutamente tola, já que a atriz coadjuvante é tão pau-mandado quanto sua personagem (que, evidentemente, foi construída em torno da persona cinematográfica estabelecida por Michelle Rodriguez ao longo dos anos).
Enquanto isso, os efeitos especiais se adequam bem ao investimento de produção, mas revelam-se irregulares, por exemplo, na movimentação frenética dos discos destruidores, na concepção dos alienígenas (que, não à toa, dão as caras em poucas ocasiões) ou sempre que muitas camadas de informações visual se sobrepõem na tela. Já o design das naves e o desempenho de seus mecanismos surgem como uma distração desnecessária que constantemente despertam más recordações de Transformers, ao passo que as cenas de ação, mesmo com toda a intensidade e destruição, mostram-se mais aborrecidas do que o ideal - com exceção, talvez, daquela envolvendo um encouraçado, que se destaca por exigir uma dinâmica maior e mais interessante da tripulação. Ademais, a forma encontrada pelos produtores para relacionar o filme com o jogo de Batalha Naval no qual é vagamente inspirado é até curiosa, mas acaba sabotada pela construção falha da sequência que a acolhe graças ao emprego abusivo de arbitrariedade para alcançar o sucesso do ataque remoto do Capitão Yugi Nagata (Tadanobu Asano) ao inimigo.
Juntando-se à trilogia Transformers no homogêneo grupo de produções descerebradas oriundas de produtos da Hasbro (que, agora, tem até sua própria vinheta no início do filme), Battleship - A Batalha dos Mares é um desanimador indício da inabilidade da empresa de brinquedos em contribuir artisticamente para o Cinema - e digo isso com base não só na risível cena pós-créditos, que deixa um gancho terrivelmente óbvio para uma possível continuação, mas também em temores sobre o que poderia ser realizado caso a Hasbro estendesse sua obsessão por alienígenas para a adaptação de outros de seus produtos. Já consigo até imaginar a quebradeira entre corretores terráqueos e banqueiros intergaláticos robotizados em Monopoly - O Filme.
