13 de maio de 2012

Assassino do Bom Senso

Mesmo ciente da necessidade iminente de estudo intenso para uma prova de Equações Diferenciais A, realizada na manhã do último sábado, estive presente essa semana nas cabines dos filmes Piratas Pirados! e Battleship - A Batalha dos Mares, aos quais dediquei boas doses de atenção e dedicação até que conseguisse publicar a crítica deste último, às 11h30 de sexta-feira. Graças a um argumento surpreendentemente ponderado de minha mãe, deixei de comparecer à sessão para a imprensa de O Exótico Hotel Marigold, o que, ainda assim, não foi suficiente para que eu chegasse ao campus na manhã de sábado suficientemente preparado para o tal exame matemático.

Evitando aprofundar em minhas risíveis habilidades de administração de tempo e estabelecimento de prioridades, resumi o pequeno dilema envolvendo faculdade e blog na última semana para ratificar que, por mais irregulares, deficientes e defasados que meus textos possam ser, eles são fruto de minha paixão por Cinema e da vontade de falar algo relevante. Desde que comecei essa atividade há uma penca de meses, produzir um conteúdo original interessante, mesmo sem um mísero centavo em troca, é um objetivo que levo bastante a sério, mesmo que - repito - o resultado não alcance necessariamente a qualidade desejável (sou obrigado a confiar nas opiniões tendenciosas de amigos). Por isso mesmo, confesso que ficaria extremamente frustrado caso alguém se apropriasse indevidamente de trechos ou da íntegra de meus textos, especialmente caso o indivíduo excluísse minha participação na produção daquele conteúdo, colocando-se como o verdadeiro autor de minhas ideias.

Aliás, permitam-me fazer uma retificação: "ficaria extremamente frustrado" não é a expressão correta para o caso. Já pude experimentar pessoalmente essa sensação de impotência quando tive um texto copiado integralmente por determinado blog - e manter os créditos não altera o fato de que, enquanto o cidadão gasta 15 segundos acionando as funções copiar e colar em seu sistema operacional, meu desempenho ruim nas Equações Diferenciais Ordinárias de Segunda Ordem se mantém intacto.


Dito isso, há pouco mais de dois meses, lia um texto de um blogueiro (cujo desconhecimento alarmante sobre Cinema e português já havia chamado minha atenção) quando, de supetão, o texto se tornou inteligente e bem escrito. Mais adiante, os problemas adolescentes de pontuação, concordância e frases mal formuladas voltaram a surgir, sendo em seguida novamente interrompidos por frases bem elaboradas e coesas, destoando completamente de todo o trabalho já publicado anteriormente pelo autor. Intrigado, dei um rápido e descompromissado pulo no Copyscape e, utilizando o serviço gratuito de rastreamento de cópias oferecido pelo site, descobri a razão de meu espanto: frases inteiras - não uma ou duas, mas várias - haviam sido extraídas de um texto publicado em um dos grandes portais de cinema do Brasil. Alguns minutos e algumas buscas depois, conclui não só que aquele não era um caso isolado, como também que a apropriação indevida era quase um padrão daquela coluna do blog. Munido de um pequeno dossiê sobre o caso, criei um tópico em um grupo de discussão no Facebook (do qual o blogueiro fazia parte) para expor os plágios (com o apoio do amigo João Marcos Flores), confiando que um grupo formado basicamente por blogueiros cinéfilos se chocaria com a atitude.

A recepção, para minha surpresa, foi morna. Alguns manifestaram um espanto contido, como se expor o comportamento reprovável de um dos participantes fosse, de certa forma, extrapolar certos limites do bom senso. O "autor" calou-se; jamais voltou a dar as caras no tal grupo de discussão. Os textos apontados na denúncia foram rapidamente apagados, e o responsável jamais se manifestou sobre o caso. Sou levado a crer que, caso minhas colocações estivessem equivocadas, essa omissão de provas não seria necessária. A velha máxima "quem não deve, não teme" encaixa-se nesse caso como uma luva.

Dias depois, uma nova postagem no blog trazia um novo plágio. Voltei ao tópico de discussão para expor a reincidência, que foi ainda menos repercutida. Para minha surpresa, passei a ser tachado de chato e por uma misteriosa obra do destino, o plagiador se tornou a vítima da situação. Vítima de perseguição por minha parte, aparentemente. Fui informado que o correto seria me dirigir ao "autor", em particular. Ora, se os únicos resultados da exposição pública da transgressão, mesmo que diminuta (o grupo era formado por pouco mais de 100 usuários, inativos em sua maioria), haviam sido a estratégica exclusão dos rastros e uma inacreditável reincidência, que efeito uma conversa em particular poderia ter?

Nenhum - é a resposta que, assim como eu, vocês devem imaginar. Afinal, antes de publicar essa postagem nessa tarde de domingo, visitei o fatídico blog e meia dúzia desses textos ainda persistem. Para mim, a explicação é óbvia: a existência desse tipo de conteúdo no blog não é algo que incomoda o "autor", desde que os leitores não tenham conhecimento de sua nefasta origem. O objetivo primordial do cidadão é aumentar o número de acessos a qualquer custo - e um texto, como todos sabem, é uma fonte natural de palavras-chave para buscadores. A obsessão em aumentar as estatísticas do blog é tamanha que o tal "autor" conseguiu algo, na minha opinião, impensável: levar um dos maiores defensores dos direitos autorais de textos na internet a conseguir-lhe um punhado de visitas.

Refiro-me, claro, a um dos mais importantes e respeitados críticos de cinema do Brasil que, inocentemente, foi induzido a convocar seus seguidores no Twitter a acessar o tal blog. A razão: o portal de cinema do qual é dono, bem como um site criado por alguns de seus ex-alunos, concorriam a uma premiação organizada pelo plagiador. O crítico, que possivelmente repudiaria a atitude do blogueiro caso tivesse conhecimento de suas ações, não tem culpa da própria inocência; afinal, como uma pessoa em sã consciência poderia suspeitar de um blog que, através de uma premiação, aparenta valorizar o esforço, a originalidade e a seriedade de outros blogueiros ou dos grandes portais, enquanto desfere-lhes apunhaladas pelas costas ao apropriar-se indevidamente de seus conteúdos?

Entretanto, por mais revoltantes que sejam a cara-de-pau do "autor", os mimos que ele recebe das distribuidoras ou a estupidez de seus leitores, o real motivo que me levou a escrever esse texto foi um comunicado impagável que recebi dele ontem, através de uma rede social de filmes. A pérola:

"Só quero informar que se mais alguma vez eu ler algum comentário negativo a meu respeito ou ao meu blog, vou dar andamento no pedido que meu advogado começou a mover contra isso".

Exatamente. Antes que eu consiga parar de gargalhar após ter lido este comunicado, estarei sendo processado, em pleno século XXI, por ter exercido meu direito constitucional de livre expressão. Um sujeito que violou direitos autorais de forma consciente e reincidente processará seu denunciante. Quando exaltei minha incredulidade quanto a essa possibilidade, recebi uma resposta ainda mais incrível, que compartilho com vocês:

"Cara até você falar o que bem entender de mim ou de quem você quiser, realmente é um direito de livre expressão, agora ameaça de morte, as coisas mudam de figura. Não sei se lembra, mas por 2 vezes eu recebi ameças de morte de sua parte, enfim foi só um recado, como você mesmo disse é de sua escolha continuar ou viver sua vida".

Aqui, a tentativa desesperada de impedir a divulgação de seus plágios atinge um nível psicótico. A invenção de uma mentira tão absurda e descabida - na forma de uma acusação gravíssima - é algo que foge da minha compreensão, como estudante de Engenharia.

Quanto a mim, aproveito a oportunidade para reafirmar minha promessa, como blogueiro cinéfilo amador, de tentar oferecer sempre um conteúdo interessante e, sobretudo, original. Terei muito mais orgulho dos meus poucos leitores do que outras pessoas por aí, com seus números expressivos alcançados por meios duvidosos - afinal, os leitores serão meus de fato.

Atualização: Pablo Villaça, um dos mais importantes e respeitados críticos de cinema do Brasil, escreveu um texto sobre o assunto, que pode ser lido aqui. Enquanto isso, alguns dos novos rastros expostos nesse texto já foram apagados. Tire suas próprias conclusões.

Atualização 2 (e, espero, última): Em publicação recente, o plagiador usou um questionável pedido de desculpas para tentar justificar suas injustificáveis ações e, novamente, colocar-se como vítima da situação. A retratação por suas ações, propriamente, foi colocada em segundo plano.

(...) fui acusado de plágio e sem saber de nada começou uma campanha contra minha pessoa e meu blog, só algum tempo depois alguns amigos me disseram que isso estava acontecendo e ai começou uma serie e ameaças e intimidação para que eu tirasse o blog do ar, o interessante é que nunca alguém chegou oficialmente ou mesmo informalmente e disse que eu estava plagiando textos (...)

De cara, evitarei detalhar meu desprezo pelo desrespeito ao português, pelas falsas acusações de ameaças e intimidações ou pela zombaria do uso da expressão "o interessante é que", focando naquilo que tenta ameaçar a reputação das minhas colocações. Repare como "sem saber de nada", "só algum tempo depois" e "nunca alguém chegou oficialmente ou mesmo informalmente e disse que eu estava plagiando" são uma afronta à verdade dos fatos, já que, como bem observei no decorrer deste texto, a primeira denúncia foi feita em um fórum que tinha o acusado como participante ativo - e como também apontei, ele imediatamente o deixou de ser, optando por adiar em meses as satisfações. E lendo suas explicações, confesso que acharia melhor se ele nunca tivesse se manifestado.

(...) as vezes a insegurança sobre alguma opinião é grande e por isso eu realmente peguei trechos para pouco menos de 15 críticas de filmes antigos mais clássicos e analises mais difíceis, sem intenção de me aproveitar do intelecto de ninguém ou mesmo querendo levar vantagem sobre isso (...)

Traduzindo: "Ciente da minha própria incapacidade de escrever sobre determinados filmes (antigos, clássicos ou de análises mais difíceis - e ainda não me decidi em qual categoria a trilogia Missão: Impossível se enquadra), ao invés de desistir de publicar posts sobre eles, optei por roubar trechos do trabalho de pessoas capazes sem pedir autorização, informá-las ou ao menos creditá-las. Fingir que ideias ou frases inteiras dos outros são de minha autoria não é um modo de levar vantagem ou de se aproveitar do intelecto alheio".

Mais do que nunca, sou levado a crer que a tal "humilhação pública" mencionada no pedido de desculpas merece o prefixo "auto", à medida que o autor do processo fica cada vez mais claro.