13 de abril de 2012

Crítica | Titanic 2

por Eduardo Monteiro

Titanic II, EUA, 2010 | Duração: 1h29m50s | Lançado no Brasil em 2011, na TV | Escrito por Shane Van Dyke | Dirigido por Shane Van Dyke | Com Shane Van Dyke, Marie Westbrook, Bruce Davison, Brooke Burns, Michelle Glavan e D.C. Douglas.

Shane Van Dyke é um picareta. Neto do veterano Dick Van Dyke, o ator, diretor e roteirista tornou-se, nos últimos anos, colaborador da produtora norte-americana The Asylum (uma espécie de musa inspiradora da brasileira Vídeo Brinquedo), que frequentemente apropria-se de temas e da repercussão de sucessos hollywoodianos para lançar sua próprias versões baratas e de qualidade duvidosa daquelas produções, na maior parte das vezes voltadas para home video. Dessa forma, nos mesmos anos em que eram lançados nos cinemas de todo o mundo The Day The Earth Stood Still (O Dia em Que a Terra Parou), Transformers: Revenge of the Fallen (Transformers - A Vingança dos Derrotados) e Paranormal Activity (Atividade Paranormal), Van Dyke dirigiu, escreveu e/ou estrelou coisas como The Day The Earth Stopped, Transmorphers: Fall of Man e Paranormal Entity - e no caso desse último, a produtora sequer se deu ao trabalho de disfarçar a similaridade (eufemismo?) com o longa de Oren Peli, que fica mais que evidente na arte de divulgação criada para o produto.

Eis que chegamos em 2010 e a Titanic 2 que, com Shane Van Dyke responsável por direção, roteiro e protagonismo, obviamente não se trata de uma continuação do mega sucesso de James Cameron mas certamente aproveita-se da memória afetiva do público e da curiosidade gerada pelas diversas especulações que surgiram ao longo dos anos sobre possíveis sequências para o filme de 1997 para arrancar alguns trocados da audiência. Contando a história da viagem inaugural do navio Titanic II, lançado às pressas para celebrar o centésimo aniversário do predecessor, o filme acompanha o pedante, milionário e narcisista dono do navio, Hayden (Van Dyke), e sua relação mal resolvida com uma integrante da tripulação, Amy (Westbrook). Porém, o pai da mulher, o capitão James Maine (Davison), descobre que uma instabilidade na calota polar estaria causando o descolamento de grandes pedras de gelo e gerando, consequentemente, enormes tsunamis que prometem comprometer todas as embarcações do Atlântico - mas claro que, em questão de minutos, o Titanic II torna-se a única preocupação da guarda costeira.

Como se não bastasse toda a picaretagem, Van Dyke ainda faz questão de transformar o longa em uma sessão particular de massagem para o próprio ego, tendo seu personagem apresentado com a imponência de uma câmera lenta e na companhia de nada menos que quatro mulheres (de uma hora para outra, passam a ser apenas três - não me pergunte por quê), sem perceber, é claro, que isso não o configura como um conquistador galante, mas como um arrogante, babaca e cafajeste - o que é rapidamente corrigido, é claro, quando o roteiro reserva para ele o posto de salvador da pátria, levando-o a um sacrifício final e sua consequente redenção que tornam-se ainda piores graças à péssima simulação de hipotermia do ator. Além disso, o diretor e roteirista não parece minimamente incomodado em exaltar o próprio machismo em seu texto, seja apresentando as mulheres como meros pedaços de carne (a primeira parte do corpo de Michelle Glavan a aparecer no filme é o quadril - visto por trás), ou seja exibindo uma delas tecendo comentários com óbvia conotação sexual a respeito da grandeza do navio, segundos após a apresentação do protagonista.

Já do ponto de vista técnico, o longa é miseravelmente mal sucedido por assumir desafios maiores que o próprio orçamento e graças, também, à incompetência do diretor - algo que fica evidente, por exemplo, na baixa qualidade dos efeitos especiais, que desrespeitam as leis mais básicas da física e não convencem os espectadores em uma cena sequer. E se as tomadas internas jamais criam a ambientação convincente de um navio de verdade, a situação torna-se crítica quando a água praticamente não é vista durante o naufrágio e, quando finalmente aparece (após quase dois terços de filme), nunca passa de um filete que mal molha os pés dos personagens (com exceção apenas da última cena). Além disso, a péssima direção de figurantes sabota qualquer tentativa do longa de conferir algum realismo ao pânico vivenciado pelos passageiros, já que todos parecem correr em círculos quase literais - isso sem falar da ridícula predisposição de tropeçarem no final de uma escada específica do navio, plano este que é repetido incontáveis vezes pelo diretor.

Porém, como se o conjunto da obra já não fosse suficientemente ridículo, Van Dyke ainda tenta recriar (com resultados homogeneamente desastrosos) cenas ou diálogos de Titanic, desde a especulação da tripulação a respeito do tempo de naufrágio do navio ("Duas horas, talvez três") até a cena do embarque, na qual meia dúzia de figurantes despedem-se de outra meia dúzia com acenos incrivelmente artificiais e impessoais. O cúmulo, porém, é alcançado quando o diretor tenta reproduzir o horror da memorável cena em câmera lenta dos personagens de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em disparada pelos corredores do navio com uma monstruosa parede d'água os perseguindo, que, aqui, traz Van Dyke e Westbrook correndo desesperadamente de... um inofensivo spray d'água e de duas ou três goteiras. Além disso, a maior parte dos obstáculos são de uma estupidez alarmante e subestimam a todo momento a inteligência do espectador, como na cena em que o casal principal faz uma travessia pendurado em uma barra e, quando uma das mãos de Amy escorrega, Hayden simplesmente pega o braço da mulher e o conduz de volta - um esforço que ela obviamente conseguiria realizar sozinha.

Com um desfecho patético cuja cereja do bolo consiste no capitão Maine finalmente alcançando o navio segundos antes de naufragar por completo e respondendo a pergunta "Como você pretende chegar lá [na sala em que Amy se encontra]?" com um "Não importa", Titanic 2 é um esforço exatamente equivalente àquele desempenhado por Amy na última cena para reanimar Hayden: longuíssimo, inútil e terrivelmente anticlimático.