4 de março de 2012

Crítica | A Saga Molusco: Anoitecer

Eric Callero e Heather Ann Davis em A SAGA MOLUSCO: ANOITECER (Breaking Wind)


Breaking Wind, EUA, 2011 | Duração: 1h21m46s | Lançado no Brasil em 2 de março de 2012, nos cinemas | Roteiro de Craig Moss | Dirigido por Craig Moss | Com Heather Ann Davis, Eric Callero, Frank Pacheco, Michael Adam Hamilton, Flip Schultz, Peter Gilroy, Alice Rietveld, John Stevenson, Rebecca Ann Johnson, Taylor M. Graham, Kelsey Collins e Danny Trejo.

Pôster/capa/cartaz nacional de A SAGA MOLUSCO: ANOITECER (Breaking Wind) Poucos produtos possuem uma legião de fãs tão cegos, fiéis e histéricos quanto a autointitulada saga iniciada em 2008 com Crepúsculo. Dessa forma, chega a ser curioso que, tentando desviar o foco da baixa qualidade do produto, a distribuidora nacional tenha apelado para o patriotismo dos brasileiros para angariar mais espectadores ao incluir, em sua pesada campanha de marketing para Amanhecer - Parte 1, uma caixa de texto que destacava a existência de cenas exclusivas rodadas no Brasil. Em resposta a isso, a distribuidora da paródia A Saga Chamusco: Escurecer decidiu incluir em sua campanha de divulgação a irônica constatação da inexistência de tais cenas em seu produto - e há algo de muito errado quando a melhor piada de um filme estadunidense supostamente concebido como uma comédia se encontra na versão brasileira de seu pôster.

Escrito e dirigido por alguém chamado Craig Moss, A Saga Minúsculo: Abastecer atraca (ou seria "naufraga"?) nos cinemas brasileiros com um enorme desafio: satirizar Crepúsculo em épocas em que a própria cinessérie já alcança níveis respeitáveis de autoparódia. Na tentativa, Moss usa o esboço de arco dramático criado pelos quatro episódios já lançados e consegue a proeza de criar uma narrativa (não sei se é a palavra adequada, mas vá lá) infinitamente mais ilógica do que aquela vista nos filmes parodiados, cujo único propósito consiste em encaixar comentários sexuais e escatológicos que, em algum lugar do mundo, devem levar alguém às gargalhadas.

Tão arbitrário e aleatório quanto o título nacional, A Saga Lusco-Fusco: Apodrecer atira para todos os lados (desde que envolvam ou terminem, repito, em sexo ou escatologia), jamais conseguindo relacionar de forma lógica ou orgânica seus projetos de piada com a própria trama. Dessa forma, em certo momento, o longa simplesmente para pra ouvir um relato do personagem de Danny Trejo que, completamente alheio à história, é usado apenas para jogar a esmo referências a produções de destaque como Avatar ou - pasmem - sugerir que, de Willy Wonka a Jack Sparrow, Johnny Depp interpreta sempre os mesmos personagens (algo derrubado pelas próprias imitações dos personagens vistas no próprio filme) - e como se os intermináveis 81 minutos já não fossem suficientemente ofensivos em todos os níveis possíveis, ser obrigado a ver um personagem querido como Edward Mãos-de-Tesoura defecando na cara de alguém beira a canalhice. Aliás, chega a ser constrangedor que um filme que não traz uma atuação interessante sequer (no semelhante e - céus, nunca imaginei que falaria isso! - superior Os Vampiros Que Se Mordam, ao menos a estreante Jenn Proske reproduzindo os trejeitos de Kristen Stewart era digno de reconhecimento) ouse criticar atores como Depp ou Brendan Fraser durante seu desenrolar apenas para, nos créditos finais, dedicar de 10 a 15 segundos a trechos do desempenho de cada integrante de seu péssimo elenco.

(Diante de algo tão absurdamente desestruturado quanto A Saga Corpúsculo: Agradecer, peço a compreensão de todos pela interrupção deste texto para um breve desabafo: honestamente, qual a graça de Bella (Heather Ann Davis) e Jacob (Frank Pacheco) transando aos berros na presença de um Edward (Eric Callero) que inexplicavelmente parece incapaz de notá-los? Em que instante eu deveria começar a rir e por quê? Obrigado).

Frank Pacheco em A SAGA MOLUSCO: ANOITECER (Breaking Wind)

E se em algum momento minhas menções às intrusões de sexo e escatologia parecerem repetitivas, talvez A Saga Prepúcio: Adormecer possa lhe ajudar a rever seus conceitos sobre o termo, já que a obsessão de Moss com tais opções de humor é tão absurda que, a partir de certo instante, os personagens passam a dar vazão à flatulência sem que haja um mínimo sentido por trás disso (no filme, esta frase seria usado como piada para sexo anal), mas simplesmente por ter passado 15 segundos sem que ninguém o tenha feito - e devo mencionar também que até mesmo o conflito central da trama é resolvido com um peido barulhento e ardido. Ainda nesse sentido, a ideia de ironizar o mal trabalhado conceito de imprinting em Crepúsculo é até uma boa sacada, mas Moss a joga no lixo quando o transforma em um mero orgasmo fulminante que, novamente, surge sempre interrompendo cenas que fatalmente não levariam a lugar nenhum.

Sabotado por direção, roteiro e interpretações, A Saga Músculo: Decrescer (que, vale notar, chega diretamente em home video nos Estados Unidos e tem sua estreia agendada em apenas dois ou três países de todo o mundo) ainda consegue ser prejudicado pelos aspectos técnicos, da fotografia insossa de alguém que não pretendo citar à trilha sonora dominada por canções de um intérprete único que desde já possui o meu desprezo - e até o trabalho trivial da edição de som consegue ser deficiente, algo explicitado na cena em que Carlisle (John Stevenson) deve digitar os famosos e odiados códigos anti-spam para acessar certo site e os sons que denunciam seus repetidos erros surgem, mais de uma vez, antes mesmo que o personagem termine de digitar. Além disso, Craig Moss (anotem esse nome) parece convencido que nanismo e homossexualidade são por si só piadas prontas, o que simplesmente dispensa comentários.

Mas como não há nada ruim o bastante que não possa piorar, A Saga Rebusco: Enaltecer consegue se superar quando, em seu desfecho, dedica o filme aos fãs de Crepúsculo e, em especial, a Emma Clark, cujos videos registrando suas primeiras e intensas reações aos trailers dos últimos longas da "saga" rapidamente se tornaram hit na internet (e nessa "homenagem", alguns trechos são inclusive exibidos). Porém, o que Moss parece incapaz de perceber é que a tortura a que fomos submetidos na hora anterior é tão severa que consegue fazer Crepúsculo parecer algo até bastante razoável e, dessa forma, somos naturalmente compelidos a compadecer por Clark e reprovar a ridicularização a que fora submetida - e quando um filme consegue despertar nossa empatia pela mais histérica das crepusculetes, é porque há algo de muito, mas muito errado mesmo.

Obs.: há uma cena adicional depois dos créditos finais, cujo despropósito é assustador e consegue superar até mesmo "o homem inflando a própria barriga" em Cada um Tem a Gêmea Que Merece.

Danny Trejo em A SAGA MOLUSCO: ANOITECER (Breaking Wind)