
★★
This Means War, EUA, 2012 | Duração: 1h37m32s | Lançado no Brasil em 16 de março de 2012, nos cinemas | História de Timothy Dowling e Marcus Gautesen. Roteiro de Timothy Dowling e Simon Kinberg | Dirigido por McG | Com Reese Witherspoon, Chris Pine, Tom Hardy, Til Schweiger, Chelsea Handler, Angela Bassett, Rosemary Harris, John Paul Ruttan, Abigail Spencer, Warren Christie.
Do ponto de vista comercial, Guerra é Guerra! é um primor: trazendo dois atores em bons momentos de suas carreiras disputando a atenção de uma atriz querida e carismática, que por sua vez atua em sua zona de conforto, a produção surge como uma comédia romântica em uma embalagem de filme de ação que busca agradar o público jovem, tanto masculino quanto feminino, de forma extremamente calculada, unindo fórmulas muitíssimo conhecidas e exaustivamente exploradas nos dois gêneros ao longo dos últimos anos. Porém, como o Cinema está longe de ser uma ciência exata, o longa deixa muito a desejar do ponto de vista artístico, aproximando-se de uma mistura perigosa do divertido Sr. & Sra. Smith com o pavoroso Noivas em Guerra.
Dirigido por McG e escrito por Marcus Gautesen e Timothy Dowling com base em uma ideia deste último e de Simon Kinberg (Sr. & Sra. Smith), Guerra é Guerra! traz Reese Witherspoon como Lauren, uma mulher solteira que, pressionada pela amiga Trish (Chelsea Handler), aceita marcar um encontro com um homem que descobre em um site de relacionamentos, o divorciado Tuck (Tom Hardy). O que ela não imagina é que ele e o solteiro FDR Foster (Chris Pine) - por quem Lauren acaba se interessando após um encontro casual - se conhecem, são melhores amigos de infância, trabalham como agentes secretos da CIA e usarão tudo que estiver ao alcance - incluindo recursos da própria agência - para decifrar e conquistar a mulher sem que, a princípio, isto interfira na amizade de longa data existente entre os dois.
Paralelamente (e aqui sou bondoso, já que o correto seria "pontualmente"), o perigoso e foragido criminoso internacional Heinrich (Til Schweiger), motivado pela morte do irmão durante uma mal sucedida operação comandada por Tuck e FDR, é visto planejando sua vingança, que, diante da importância conferida ao triângulo amoroso ao longo da projeção, pode facilmente ser antecipada pelo espectador. Com isso, o viés de ação acaba se resumindo à ambientação do filme em um universo de espionagem (inverossímil, é verdade, mas falemos sobre isso depois) e a duas ou três cenas de ação assustadoramente mal conduzidas por McG, com excesso de cortes e uma câmera extremamente instável que impossibilitam que o espectador compreenda o que está acontecendo - o que fatalmente decepcionará o público que inadvertidamente acabar sendo arrastado para o cinema em busca de perseguições, tiros e explosões.
Aliás, já que citei que a forma como certo aspecto é tratado pelo roteiro acaba levando o espectador a prever certeiramente eventos posteriores, vale mencionar que imprevisibilidade não é o forte de Guerra é Guerra!: a cada novo encontro entre Lauren e Tuck, imediatamente passamos a esperar que o mesmo ocorra entre a mulher e FDR (ou vice-versa) com duração e natureza parecidas - e nesse sentido, nunca somos desapontados. Dessa forma, o interesse de Lauren pelos rapazes raramente pende para um lado da balança, protelando estrategicamente a dúvida sobre os rumos do triângulo amoroso até quando for possível e desfazendo-a com a arbitrariedade esperada da construção feita até então e com a obviedade de uma equação matemática: A) Fulano desperta em Lauren um sentimento X; B) Trish diz para Lauren escolher aquele que lhe desperte o sentimento X; A + B = Fulano. E se o momento em que a protagonista é obrigada a escolher entre os dois homens pode ser apontado como uma das poucas boas sacadas dos roteiristas, ainda assim não é suficiente para que ignoremos que (e pule o final deste parágrafo caso não queira saber um spoiler apresentado pelo próprio filme com pouquíssimos minutos de projeção) a decisão é a mais óbvia dentre as soluções que garantiriam final feliz para os três, baseando-se essencialmente nos estados civis de Tuck e FDR.

Para completar, uma das maiores falhas de McG e sua equipe consiste na ambientação da narrativa em um universo excessivamente inverossímil, o que surge de forma recorrente como uma distração desnecessária: repare, por exemplo, como o depósito no qual FDR apresenta a Lauren obras de seu artista favorito funciona muito bem como um cenário de filme, mas, em uma análise mais cuidadosa, a limpeza e a harmonia entre os caixotes, os panos e as luzes indiretas representam um esforço absurdo de decoração para uma ocasião que, em circunstâncias reais, não duraria mais que quinze minutos e cujo foco são as pinturas. Ainda nesse sentido, jamais saberemos quem era a mulher que nadava no início do filme na piscina que encobre o corredor da sofisticada casa de FDR, ao passo que é impossível não ficar perplexo com a escuridão da alfaiataria visitada por Heinrich a certa altura do longa - isso sem levar em conta a inexplicável decisão do vilão de atravessar meio mundo para descobrir a identidade dos assassinos de seu irmão a partir de um retalho de paletó (aparentemente, no universo do filme, ternos são únicos e exclusivos como as varinhas em Harry Potter, e o alfaiate é como o vendedor de varinhas Sr. Olivaras: lembra-se de todos os seus clientes).
Porém, mesmo com todos esses problemas, nada é tão incômodo quanto a infantilidade de Tuck e FDR na guerra de nervos apontada pelo título: se em Noivas em Guerra o clichê da histeria feminina com casamentos era uma razão minimamente plausível para justificar a (insuportável, é verdade) troca de ferpas entre melhores amigas de infância, acreditar que as versões masculinas das personagens de Kate Hudson e Anne Hathaway abram mão de uma amizade aparentemente bastante consolidada e passem a agir como adolescentes, colocando em risco até mesmo a vida um do outro em função de uma mulher, é um exercício tão ardiloso quanto tentar compreender a incapacidade da CIA em avaliar mentalmente seus agentes. E se os atores Chris Pine e Tom Hardy até conseguem preservar suas dignidades apesar dos esforços contrários do roteiro, a comediante Chelsea Handler satura a paciência do espectador já em sua primeira aparição como a amiga conselheira e desbocada de Lauren, enquanto a própria Reese Witherspoon contenta-se em ligar seu tradicional piloto automático que de tão bem consolidado, a certa altura, quase consegue fazer a indagação "Você acha possível amar igualmente duas pessoas ao mesmo tempo?" não parecer algo absurdamente patético.
Falhando até mesmo ao referenciar Os Bons Companheiros, através de um curto plano-sequência em uma boate que não chega nem perto de fazer jus ao rodado por Scorsese e sequer consegue ser executado sem cortes escondidos, Guerra é Guerra! é um produto que poderia ser comparado, em uma analogia bem rasteira, àqueles tradicionais salgadinhos industrializados que fazem a alegria da criançada: a embalagem é até atraente, o conteúdo acabará agradando a muitos, mas certamente será evitado por aqueles que prezam pela saúde - nem que seja a do próprio bolso.
