
★★
Journey 2: The Mysterious Island, EUA, 2012 | Duração: 1h34m01s | Lançado no Brasil em 3 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Escrito por Richard Outten e Brian Gunn & Mark Gunn. Roteiro de Brian Gunn & Mark Gunn | Dirigido por Brad Peyton | Com Josh Hutcherson, Dwayne Johnson, Vanessa Hudgens, Luis Guzmán, Michael Caine e Kristin Davis.
Grosso modo, Viagem 2: A Ilha Misteriosa é uma espécie de Alvin e os Esquilos 3 voltado para um público um pouco mais velho e teoricamente mais exigente. Assim, em comparação, essa aventura de um grupo de personagens aprendendo lições de vida enquanto tentam escapar ilesos de uma ilha, por um lado, é salva por não conter cantorias estridentes e séries de eventos particularmente ilógicos, mas, por outro, o filme não está imune a um mínimo senso crítico de seu público, que eventualmente o relegará a um rápido e merecido esquecimento.
Roteirizado pelos primos Brian e Mark Gunn (responsáveis por alguns produtos adolescentes para TV e home video, como uma das diversas continuações de As Apimentadas) com base em uma história concebida juntamente com Richard Outten, o filme traz de volta Sean Anderson (Josh Hutcherson), o jovem aventureiro verneano que há quatro anos partiu na jornada-título de Viagem ao Centro da Terra - O Filme e agora está prestes a embarcar em uma nova aventura, motivado por uma mensagem codificada de rádio decifrada com a ajuda de seu cético padrasto, Hank Parsons (Dwayne Johnson). Preocupado com a sanidade mental do enteado, Hank parte com o garoto para Palau, nas ilhas Carolinas, para provar que as coordenadas que sugerem a existência de uma ilha desconhecida no meio do Pacífico não levam a lugar algum - o que, claro, não se confirma.
Lançado quatro anos após seu antecessor, que carregava o título de primeiro filme em live action produzido com o novo 3D digital, Viagem 2 não exibe a mínima preocupação em evoluir junto à linguagem da tecnologia - e, assim, cenas nas quais objetos voam "pra fora" da tela são recorrentes, gritantes e injustificáveis em certas ocasiões, como aquela na qual Dwayne Johnson rebate frutinhas com o peitoral. Em contrapartida, o péssimo uso do 3D encontra uma rara exceção próximo ao final, em um plano que desafia a percepção do espectador sobre o real tamanho de um tubarão nos arredores da ilha. Por outro lado, o diretor Brad Peyton (Como Cães e Gatos 2) praticamente não consegue explorar a beleza e a grandiosidade tanto das paisagens reais quanto das digitais, algo que fica claro na insossa panorâmica executada quando o grupo chega pela primeira vez no interior da ilha. Por outro lado, os efeitos especiais são geralmente bem executados, porém não o suficiente para que algumas criações digitais deixem de exibir uma inadequada plasticidade ou para que as paisagens de fundo não pareçam, em alguns momentos, os fundos digitalmente inseridos na pós-produção que são.
Sem perder tempo com explicações para o sumiço de personagens do longa anterior e partindo de uma ideia interessante e absurda - a de que Julio Verne, Robert Louis Stevenson e Jonathan Swift descreveram em seus A Ilha Misteriosa, A Ilha do Tesouro e As Viagens de Gulliver, respectivamente, diferentes territórios de uma mesma ilha -, o roteiro dos Gunn constrói sua narrativa misturando elementos das três histórias clássicas, de modo a dispor de uma maior gama de obstáculos e soluções para o grupo. Mesmo assim, os personagens enfrentam basicamente o perigo propiciado pela fauna e flora redimensionada da ilha (isto é, plantas e animais normalmente pequenos aqui surgem grandes, e vice-versa), algo que, além de relativo e antropocêntrico, confere aos animais uma nova e inexplicável natureza, da agressividade de um lagarto à passividade de abelhas. Somando-se ainda um afundamento da ilha cuja velocidade varia de acordo com as necessidades do roteiro, as liberdades artísticas do filme podem (e precisam) ser facilmente relevadas, uma vez que tanto o desapego à realidade (quais as chances de códigos e esboços de mapas arrancados de três livros diferentes se complementarem com perfeição?) quanto a despreocupação em dar maiores explicações para certos eventos (como o desfecho da queda do helicóptero) são posições introduzidas antes mesmo de Sean e Hank desembarcarem na ilha.

Por outro lado, o lar selvagem construído pelo avô de Sean, vivido por Michael Caine, é um dos exemplos nos quais o filme extrapola e abusa da boa vontade do público, já que, por mais engraçadinho que seja ver um aviso de "favor não jogar folhas na privada" ou todos os outros apetrechos irrelevantes que transformam a residência do avô Anderson em um lar rústico e elaborado, tudo aquilo é ofensivamente inconcebível e lança o espectador para fora e bem longe do filme. Em contrapartida, algumas outras tentativas de humor conseguem alcançar resultados mais interessantes, como o desfecho de uma absurda conversa entre Sean e Hank (quem assistir ao filme identificará facilmente a passagem), que faz graça com a escalação de uma pessoa do porte físico de Dwayne Johnson para o papel, assim como o guia turístico Gabato, vivido por Luis Guzmán, que funciona na maior parte do tempo como um alívio cômico que utiliza bem sua persona cinematográfica sem se apoiar explicitamente em seu estrangeirismo. Enquanto isso, Josh Hutcherson (que até outro dia era uma criança bonitinha apaixonada em ABC do Amor e agora já é um homem feito) exibe carisma suficiente para o papel e, mesmo sem entregar uma performance particularmente marcante (e convenhamos, precisaria?), consegue ser mais natural em sua reação de surpresa ao acordar com uma mão submersa na água, por exemplo, do que a gesticulação de Dwayne Johnson procurando um apoio no helicóptero em turbulência.
Já Michael Caine faz o que pode para transformar o vovô aventureiro em uma figura estimulante, compensando sua limitação física (da qual excluo a capacidade de atuar debaixo d'água, algo que o veterano ator tira de letra) com sua vivacidade e energia, mesmo sendo obrigado a encenar uma imatura rivalidade entre seu personagem e o de Johnson. Fora isso, é compreensível que Kailani (Vanessa Hudgens), filha do personagem de Guzmán, seja apresentada soltando os cabelos durante uma batida tomada em câmera lenta, já que a beleza da personagem é provavelmente a única característica capaz de atrair a atenção de Sean e sustentar o romance bobo que se prolonga até o desfecho. Aliás, todas as tentativas de conferir alguma profundidade aos personagens e a seus dramas são terríveis, desde a pieguice da relação entre Sean e Hank até o tolo dilema de Kailani que, de tão relevante, só é apresentado às vésperas do terceiro ato com a intenção clara de adicionar novos desafios ao clímax do filme.
Ousando repetir piadas velhas (coisas semelhantes a "Se morrermos, mamãe nos mata!" aparecem ao menos duas vezes ao longo da projeção) e revolucionário a ponto de criar um inédito diálogo expositivo entre pessoas em ambientes diferentes ("O que é isso?" - "É o som de uma ilha naufragando!"), Viagem 2 é uma aventura tipicamente prejudicada pela previsível invulnerabilidade de seus personagens (o fôlego deles debaixo d'água não me deixa mentir), algo dedutível se associarmos a faixa etária do público-alvo ao reduzido elenco. Isso significa que, se algo minimamente surpreendente surgir em algum instante da projeção, já será um lucro para o público - e eu não recomendaria criar falsas esperanças de sair desse filme com o saldo muito positivo.
Obs.: vale aqui uma menção ao descaso com a legendagem da versão 3D do filme para os cinemas. Além de não traduzir What a Wonderful World, cantada pelo personagem de Dwayne Johnson em determinada cena com uma série de modificações pertinentes à história, as legendas em diversos momentos não se adequam à tridimensionalidade do filme, embaralhando a vista do espectador.
