
★★★
Extremely Loud & Incredibly Close, EUA, 2011 | Duração: 2h09m15s | Lançado no Brasil em 24 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Baseado no romance de Jonathan Safran Foer. Escrito por Eric Roth | Dirigido por Stephen Daldry | Com Thomas Horn, Tom Hanks, Sandra Bullock, Max von Sydow, Zoe Caldwell, Viola Davis, Jeffrey Wright e John Goodman.
Thomas Horn, que dá vida ao protagonista de Tão Forte e Tão Perto, é uma revelação: estreando no cinema, o talentoso garoto confere admirável naturalidade a Oskar Schell, um rapaz possivelmente acometido pela Síndrome de Asperger que, justamente em função disso, enfrenta uma dificuldade descomunal de superar a morte do pai, Thomas (Tom Hanks), no atentado terrorista às Torres Gêmeas. A boa atuação do ator mirim, entretanto, alcança resultados distintos: por um lado, consegue gerar comoção através das sutilezas que ressaltam a dimensão da dor do emocionalmente introspectivo garoto em sua busca por uma resposta racional para a fatalidade, mas por outro, somos levemente torturados por sua personalidade mimada, tagarelice e por uma narrativa que, assim como tudo na vida de Oskar, é permeada por informações irrelevantes.
Quarto trabalho de Stephen Daldry na direção (os anteriores foram Billy Elliot, As Horas e O Leitor), o longa, escrito por Eric Roth (O Curioso Caso de Benjamin Button) a partir do romance de Jonathan Safran Foer, acompanha o jovem Oskar um ano após a trágica morte do pai naquele que ele próprio passou a nomear como "o pior dia". Acostumado a embarcar em "expedições de reconhecimento" elaboradas por Thomas (algo semelhante a caças ao tesouro, possivelmente desenvolvidas com o intuito de obrigar o rapaz a enfrentar suas fobias e explorar o mundo), Oskar sai em uma busca pela fechadura compatível com uma chave encontrada junto aos pertences do pai, na esperança de que isso lhe traga algum conforto ou resposta para a fatalidade.
Narrado pelo ponto de vista do garoto, o filme não se atém a sutilezas ao apresentar a relação de Oskar com os pais: a mãe, Linda (vivida com competência por Sandra Bullock), permanece distante ou ausente durante a maior parte do tempo, enquanto o personagem de Tom Hanks exibe a simpatia natural do ator e surge, em sua breve participação, dedicando toda sua atenção ao filho. Porém, enquanto Bullock aproveita bem suas poucas oportunidades dramáticas para exibir seu talento (repare o convincente alívio de Linda ao se certificar que o filho chegou em segurança em casa mais uma vez, apesar de ser novamente esnobada por ele), Hanks se supera especialmente naquelas passagens que sequer exigem sua presença física em cena: as gravações na secretária eletrônica da residência dos Schell, registros de ligações feitas por Thomas minutos antes do desabamento, são tocantes e precisas em sua evolução, comprovando a competência do ator.

Em uma situação oposta, o veterano Max von Sydow vive um homem misterioso que mora em um quarto alugado na casa da avó de Oskar (Zoe Caldwell) e, sem dizer uma palavra sequer, transmite uma gama admirável de emoções (repare como, depois de certo tempo, o personagem começa a gesticular como se estivesse prestes a pronunciar alguma coisa, como se pela primeira vez em anos sentisse a necessidade de se expressar oralmente) e estabelece uma dinâmica interessante com o garoto enquanto o acompanha na expedição por Nova York, desempenhando um papel fundamental nos rumos que esta acaba tomando. Infelizmente, a própria jornada constitui uma enorme perda de tempo: por mais que o filme tente nos convencer de algo diferente, as pessoas que Oskar e o inquilino visitam não passam de uma galeria típica de personagens exóticos que em nada acrescentam e apenas incham o filme, que certamente seria beneficiado caso 20 ou 30 minutos da duração fossem cortados.
Potencializando o trauma generalizado decorrente do 11 de setembro através das fobias de Oskar, Tão Perto e Tão Forte também se vale da personalidade do garoto para construir o complicado drama de superação: angustiado, impetuoso, curioso, sistemático, inteligente e apegado a dados irrelevantes do próprio dia-a-dia, Oskar acaba escolhendo um meio tortuoso de lidar com a perda do pai, acumulando o maior número possível de peças na ilusão de que estas formem um quebra-cabeça que lhe conforte. Assim, é tocante ver o garoto se torturando involuntariamente ao reconstruir seu trajeto da escola até a própria casa no "pior dia" e ao confrontar inadvertidamente a normalidade daquela sua manhã com a antecipação contida do pai momentos antes da catástrofe. Da mesma forma, é devastador vê-lo analisando a fundo uma fotografia de um homem caindo de um dos prédios antes do desabamento, sem perceber que as suposições sobre as circunstâncias exatas da morte do pai não levarão a lugar algum e apenas fomentam ainda mais sua própria dor.
Porém, por mais que o filme tente arrancar lágrimas do espectador a todo momento, o fato é que Tão Forte e Tão Perto é emocionalmente deficiente, já que Oskar beira o insuportável em várias passagens e só compadecemos plenamente pelo garoto quando este compreende que para certas perguntas não há resposta - e aí então, em retrospecto, concluímos: "É, sim. Foi mesmo difícil". Tanto para ele quanto para nós.
