
A meu ver, para que um filme concebido e filmado em 2D seja convertido para 3D com competência, é necessário um alto investimento; afinal, como a atual tecnologia consiste basicamente em criar dois filmes levemente diferentes, simulando pontos de vista ligeiramente distintos justamente para dar a sensação de tridimensionalidade proporcionada por nossos pares de olhos, o ideal seria que o filme inteiro fosse refeito, deslocando objetos e atores tanto quanto necessário, desenvolvendo moldes digitais destes para obter uma maior fidelidade tridimensional e recriando digitalmente o fundo que até então estes encobriam - além de todos os outros percalços ou desafios que uma arte complexa como o Cinema pode oferecer. Porém, mesmo com tudo isso, os técnicos encontrariam um obstáculo incontornável e que dificilmente permitiria que uma conversão se tornasse mais eficiente que um 3D legítimo: o fato de cada um ter sido inteiramente pensado e concebido visando um resultado específico dentro de sua própria linguagem e formato.
Mas a conversão, assim como o próprio 3D digital, ainda está engatinhando e, por isso, os estúdios aproveitam a falta de conhecimento técnico do público e a memória afetiva que determinadas produções despertam para encher os cofres de dinheiro - ou alguém acredita realmente que filmes como Gigolô Por Acidente, BloodRayne ou Glitter - O Brilho de uma Estrela ganharão versões em 3D dentro dos próximos, digamos, cem mil anos? Com isso, o investimento na conversão jamais alcança um nível desejável (li em algum lugar que o custo, atualmente, gira em torno de US$25 mil por minuto convertido - o que daria mais de US$3 milhões para este Star Wars), limitando-se a criar a sensação mínima suficiente para atrair ao mesmo tempo o público ainda deslumbrado com as possibilidades do 3D e os nostálgicos, que não perderiam a chance de rever um de seus filmes favoritos na tela grande, qualquer que fosse o formato.
É o caso de Episódio I - A Ameaça Fantasma, que, longe de ser um filme memorável, possui uma invejável legião de seguidores e volta aos cinemas em três dimensões na próxima sexta-feira, dia 10, com uma conversão no mínimo questionável. Quase 13 anos após seu lançamento oficial nos cinemas, o filme chega às telonas com uma ótima qualidade técnica (embora a resolução, vez ou outra, deixe a desejar), ressaltando os admiráveis efeitos especiais que, com exceção da animação de criaturas, mal parecem terem sido feitos há mais de uma década - e todas as criações digitais, de dróides a lasers, ganham um tratamento nitidamente mais eficiente na conversão. No entanto, o fato é que o filme possui uma infinidade de diálogos rodados em plano e contra-plano e, nesses casos, é fácil notar como a conversão foi feita: destacam-se os atores do cenário, posicionando-os em planos diferentes e pronto. Como resultado, temos cenas nas quais os personagens têm uma aparência chapada, planificada, e que muitas vezes não parecem olhar uns para os outros enquanto conversam.
Aliás, destacar atores ou objetos do fundo e posicioná-los em diferentes planos é a estratégia usada na maior parte do tempo, de modo que em raras ocasiões temos uma sensação real de profundidade nos cenários (em diversos planos mais abertos, a impressão que fica é que nada foi trabalhado). Por outro lado, é notável a atenção maior voltada para cenas mais importantes ou empolgantes - como é o caso da corrida de pods ou a luta entre Qui-Gon Jinn (Liam Neeson), Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Darth Maul (Ray Park). Além disso, é possível notar o cuidado especial dado a cenas com potencial tridimensional, como a queda de Darth Maul em um poço, o jovem Anakin (Jake Lloyd) consertando seu pod em movimento ou a chuva de pétalas do desfecho - e, como não poderia deixar de ser, os tradicionais textos que introduzem o episódio parecem mais do que nunca afastar da plateia em direção ao espaço.
Porém, por pior que ela seja, há de se reconhecer um aspecto fundamental da conversão: o cuidado com objetos reflexíveis ou transparentes. Afinal, simplesmente destacar um holograma, por exemplo, do cenário e colocá-lo em seu devido plano não é o suficiente para que aquilo funcione em três dimensões; é necessário também recriar o que vemos através dele, algo bem mais complexo e trabalhoso. O mesmo vale para superfícies brilhantes, em planos mais fechados: repare, por exemplo, como enxergamos, com cada olho, reflexos diferentes vindos do chão no qual Qui-Gon Jinn jaz após um golpe de Darth Maul, algo certamente desafiador para a equipe da conversão - e infelizmente, notado e valorizado por poucos.
Mas, de modo geral, a verdade é que a versão em 3D de A Ameaça Fantasma em nada acrescenta, representando apenas uma chance rara para os fanáticos revisitarem um dos exemplares da cultuada saga na tela grande. Já aos cinéfilos comuns, só resta a esperança de que a onda de relançamentos como este não cresça demais e tome lugar de produções inéditas.
Mas a conversão, assim como o próprio 3D digital, ainda está engatinhando e, por isso, os estúdios aproveitam a falta de conhecimento técnico do público e a memória afetiva que determinadas produções despertam para encher os cofres de dinheiro - ou alguém acredita realmente que filmes como Gigolô Por Acidente, BloodRayne ou Glitter - O Brilho de uma Estrela ganharão versões em 3D dentro dos próximos, digamos, cem mil anos? Com isso, o investimento na conversão jamais alcança um nível desejável (li em algum lugar que o custo, atualmente, gira em torno de US$25 mil por minuto convertido - o que daria mais de US$3 milhões para este Star Wars), limitando-se a criar a sensação mínima suficiente para atrair ao mesmo tempo o público ainda deslumbrado com as possibilidades do 3D e os nostálgicos, que não perderiam a chance de rever um de seus filmes favoritos na tela grande, qualquer que fosse o formato.
É o caso de Episódio I - A Ameaça Fantasma, que, longe de ser um filme memorável, possui uma invejável legião de seguidores e volta aos cinemas em três dimensões na próxima sexta-feira, dia 10, com uma conversão no mínimo questionável. Quase 13 anos após seu lançamento oficial nos cinemas, o filme chega às telonas com uma ótima qualidade técnica (embora a resolução, vez ou outra, deixe a desejar), ressaltando os admiráveis efeitos especiais que, com exceção da animação de criaturas, mal parecem terem sido feitos há mais de uma década - e todas as criações digitais, de dróides a lasers, ganham um tratamento nitidamente mais eficiente na conversão. No entanto, o fato é que o filme possui uma infinidade de diálogos rodados em plano e contra-plano e, nesses casos, é fácil notar como a conversão foi feita: destacam-se os atores do cenário, posicionando-os em planos diferentes e pronto. Como resultado, temos cenas nas quais os personagens têm uma aparência chapada, planificada, e que muitas vezes não parecem olhar uns para os outros enquanto conversam.
Aliás, destacar atores ou objetos do fundo e posicioná-los em diferentes planos é a estratégia usada na maior parte do tempo, de modo que em raras ocasiões temos uma sensação real de profundidade nos cenários (em diversos planos mais abertos, a impressão que fica é que nada foi trabalhado). Por outro lado, é notável a atenção maior voltada para cenas mais importantes ou empolgantes - como é o caso da corrida de pods ou a luta entre Qui-Gon Jinn (Liam Neeson), Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Darth Maul (Ray Park). Além disso, é possível notar o cuidado especial dado a cenas com potencial tridimensional, como a queda de Darth Maul em um poço, o jovem Anakin (Jake Lloyd) consertando seu pod em movimento ou a chuva de pétalas do desfecho - e, como não poderia deixar de ser, os tradicionais textos que introduzem o episódio parecem mais do que nunca afastar da plateia em direção ao espaço.
Porém, por pior que ela seja, há de se reconhecer um aspecto fundamental da conversão: o cuidado com objetos reflexíveis ou transparentes. Afinal, simplesmente destacar um holograma, por exemplo, do cenário e colocá-lo em seu devido plano não é o suficiente para que aquilo funcione em três dimensões; é necessário também recriar o que vemos através dele, algo bem mais complexo e trabalhoso. O mesmo vale para superfícies brilhantes, em planos mais fechados: repare, por exemplo, como enxergamos, com cada olho, reflexos diferentes vindos do chão no qual Qui-Gon Jinn jaz após um golpe de Darth Maul, algo certamente desafiador para a equipe da conversão - e infelizmente, notado e valorizado por poucos.
Mas, de modo geral, a verdade é que a versão em 3D de A Ameaça Fantasma em nada acrescenta, representando apenas uma chance rara para os fanáticos revisitarem um dos exemplares da cultuada saga na tela grande. Já aos cinéfilos comuns, só resta a esperança de que a onda de relançamentos como este não cresça demais e tome lugar de produções inéditas.
Star Wars: Episode I - The Phantom Menace in 3D, EUA, 2012 | Duração: 2h16m01s | Lançado no Brasil em 10 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Escrito por George Lucas | Dirigido por George Lucas | Com Liam Neeson, Ewan McGregor, Natalie Portman, Jake Lloyd, Ian McDiarmid, Pernilla August, Ahmed Best, Ray Park, Samuel L. Jackson, Terence Stamp, Kenny Baker, Warwick Davis, Keira Knightley, Sofia Coppola e as vozes de Anthony Daniels, Andrew Secombe, Lewis Macleod e Frank Oz.