
★★
The Awakening, Reino Unido, 2011 | Duração: 1h44m18s | Lançado no Brasil em 10 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Escrito por Nick Murphy e Stephen Volk | Dirigido por Nick Murphy | Com Rebecca Hall, Dominic West, Imelda Staunton, Isaac Hempstead Wright, John Shrapnel, Joseph Mawle, Shaun Dooley.
Poucos gêneros dependem tanto de boas relações de pista e recompensa para funcionar quanto o terror ou, mais especificamente, o suspense. Grande parte do desafio de dirigir ou roteirizar um exemplar do gênero consiste justamente na capacidade de manter o espectador tenso, interessado e também confuso durante o desenvolvimento para, no fim, amarrar as pontas soltas e compensá-lo com uma explicação plausível que sustente bem e se conecte com o que fora construído até então. Não é o caso de O Despertar - que, após um desenvolvimento relativa e adequadamente tenso, interessante e confuso, é arrematado com uma explicação que abusa do bom senso e cuja arbitrariedade faz nosso investimento naquela história parecer uma enorme perda de tempo.
Dirigida por Nick Murphy e escrita por ele mesmo e Stephen Volk, a produção britânica é ambientada no ano de 1921 pressupondo que, em função da guerra e da gripe, aquele fora um período marcado por fantasmas. Nesse contexto, conhecemos Florence Cathcart (Rebecca Hall), uma mulher cética empenhada em desvendar armações por trás de aparições de supostos fantasmas, algo que a levou, inclusive, a escrever um livro sobre o assunto. No entanto, Florence acaba presenciando estranhos eventos que a obrigam a rever os próprios paradigmas, após ser convocada por Robert Mallory (Dominic West) a investigar uma suposta assombração em uma mansão onde funciona um colégio interno para garotos, antes usada como residência.
Jamais atingindo um nível desejável de tensão, O Despertar investe em sustos fáceis alcançados através do mais trivial dos recursos: a elevação da trilha sonora no exato momento em que algo alheio surge na tela. E não é só nesse aspecto que o trabalho do compositor Daniel Pemberton se revela óbvio: em mais de uma ocasião, a trilha recorre a acordes alegres que falham em induzir uma tranquilidade no espectador, já que não é muito difícil supor que um susto "inesperado" nos aguarda - o que sempre se confirma. Ainda nesse aspecto, há também o momento em que a presença de uma pessoa/vulto/fantasma estática em determinado ambiente não é musicalmente exaltada, apenas para que no instante seguinte, quando a câmera retorna e revela que a entidade não se faz mais presente naquele lugar, a trilha entre em cena com tudo para ressaltar a ausência, como quem quer dizer: "Vocês lembram que havia uma pessoa ali agora mesmo? Céus, onde ela foi parar?".

Por outro lado, o ceticismo de Florence e as subtramas envolvendo a investigação sobre a morte de um aluno ou a agressividade de determinado personagem, mesmo não estabelecendo paralelo algum com o mistério central, ajudam a conferir ritmo à narrativa e a criar um clima de inquietação ("Eles [os fantasmas] devem odiar você", comenta Mallory sobre Florence em determinado instante), assim como nosso limitado conhecimento acerca daqueles personagens, algo que naturalmente nos leva a desconfiar das intenções de todos, de Robert à governanta Maud (Imelda Staunton), e jamais permite que nos sintamos à vontade com Judd (Joseph Mawley), zelador frequentemente visto em posse de uma espingarda, dividindo a tela com a protagonista. Porém, a cena de tensão mais bem construída é sem dúvida aquela que traz Florence explorando uma casa de boneca, réplica da própria mansão, que dispensa vultos, gritos ou escuridão em favor do medo puro, simples e crescente que toma conta da protagonista, tida até então como uma mulher difícil de se abalar - um benefício, também, da firmeza de Rebecca Hall, que desempenha maravilhosamente bem a evolução psicológica de uma personagem inteligente (ela é uma rara "mulher instruída", como muitos personagens insistem em observar) que, mesmo em seus momentos mais vulneráveis, parece capaz de manter um mínimo de sanidade e equilíbrio.
Mas nem mesmo essa ótima cena ou a boa atuação de Hall salvam o enorme tropeço que a revelação final constitui, algo iniciado quando certo personagem faz uma constatação não surpreendente vinda de um filme de fantasmas (e pare de ler aqui caso se incomode com spoilers leves): alguém ali não está vivo. Assim, o filme se torna particularmente embaraçoso quando o terror vivido até então por Florence se revela absurdo e infundado, demandando que explicações tolas para os sustos dados na mulher ao longo da hora anterior ou para a aparência assustadora do fantasma sejam formuladas às pressas. Para piorar, excetuando os pontos que sequer são explicados (por exemplo, como e por que a cigarreira some de um lugar e reaparece em outro?), a maioria dos acontecimentos estranhos da estadia de Florence na casa é amarrado por um amontoado de elementos importantes apresentados inteiramente às vésperas do desfecho propriamente dito, fazendo o flashback soar arbitrário e claro, terrivelmente anticlimático.
Assim, a concentração de carga dramática no terceiro ato se torna incompatível com todo o suspense visto até então, fazendo o filme soar como um O Orfanato (tematicamente semelhante, mas com um melhor equilíbrio entre suspense e drama) que não deu certo - e basta observar o tratamento forçado que o romance entre Cathcart e Mallory, por exemplo, recebe. Com isso, enquanto um dos personagens desperta de um longo e figurativo estado de dormência, o público é involuntariamente compelido a percorrer o caminho inverso - mas nesse caso, no sentido literal.
