
★★★
The Woman in Black, Reino Unido/Canadá/Suécia, 2012 | Duração: 1h34m23s | Lançado no Brasil em 24 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Baseado no romance de Susan Hill. Escrito por Jane Goldman | Dirigido por James Watkins | Com Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Shaun Dooley, Janet McTeer, Misha Handley, Roger Allam e Liz White.
Pouco menos de 30 anos após suspender suas atividades na indústria cinematográfica graças, dentre outras razões, à saturação da própria fórmula e à competitividade do mercado, o estúdio britânico Hammer, consagrado por seus filmes de horror, voltou à ativa em 2007 sem grande expressividade: ignorando dois lançamentos menores, a produtora esteve envolvida no remake norte-americano do longa sueco Deixa Ela Entrar, produziu o embaraçoso A Inquilina e, agora, lança este A Mulher de Preto - o que não é muito animador para a nova sobrevida do estúdio, já que o filme não apresenta absolutamente nada de novo, apoia-se em uma infinidade de convenções do gênero e, mesmo que não ofenda a inteligência do espectador, tampouco a exercita.
Dirigido pelo promissor James Watkins (responsável pelo eficiente suspense Sem Saída, com Kelly Reilly e Michael Fassbender) e escrito por Jane Goldman (que colaborou com Matthew Vaughn em Stardust, Kick-Ass e X-Men: Primeira Classe) com base no romance homônimo de Susan Hill, o longa traz o jovem e viúvo advogado londrino Arthur Kipps (Daniel Radcliffe) sendo pressionado pela empresa em que trabalha a deixar para trás seu filho de três anos (Misha Handley) e dedicar alguns dias à papelada da venda da Casa Eel Marsh, uma antiga e isolada mansão abandonada após o falecimento de seus proprietários. Assim, Kipps parte para o remoto vilarejo de Crythin Gifford, onde é acolhido por Sam Daily (Ciarán Hinds), o mais abastado habitante do local, mas, em contrapartida, é tratado com rispidez e agressividade pelo restante da comunidade, afligida por mortes misteriosas de crianças e temerosa em relação a algum segredo envolvendo a mansão Eel Marsh - que Arthur logo descobre estar relacionado às estranhas aparições de uma mulher (Liz White) completamente vestida de preto.
Estabelecendo-se como mais um filme antagonizado por fantasmas rancorosos (O Chamado é uma lembrança recorrente), A Mulher de Preto não se intimida em permear sua narrativa com clichês, de modo que apenas quem nunca assistiu a um filme de terror ficará surpreso ao descobrir que a casa possui um ninho de corvos, papéis de parede que escondem mensagens sugestivas, cemitério próprio (obviamente usado pelo protagonista para fazer deduções sobre o passado dos moradores da mansão), encanamentos defeituosos que cospem água lamacenta (esses, em função da geografia do local, são bastante justificáveis) e as tradicionais fechaduras que chave nenhuma no mundo consegue abrir. Porém, por mais que saibamos que eventualmente a tal porta intransponível surgirá destrancada, é impossível compreender, por exemplo, as motivações do fantasma em adiar a entrada de Arthur naquele cômodo, dificuldade esta inserida apenas para ratificar que forças sobrenaturais poderosas estão atuando na mansão.
Por outro lado, relevando os comportamentos inexplicáveis dos fantasmas, é interessante que o longa evite manter a narrativa excessivamente confusa e esburacada para o espectador e assuma uma natureza clara para os diversos delírios de Kipps: das vozes no pântano enevoado aos estranhos eventos no interior do quarto supracitado, os devaneios se unem aos documentos estudados pelo advogado e dão forma ao tal episódio que acabou marcando a história daquela casa, de modo que quando as peças finalmente se juntam, a verdade sobre o caso não chega a constituir uma reviravolta propriamente, mas apenas uma conclusão natural do que havia sido mostrado até então.

Buscando uma atmosfera gótica através da decoração da mansão, da ambientação de época e da fotografia fria e dessaturada, A Mulher de Preto é beneficiado pelo ótimo design de produção de Kave Quinn, eficiente desde a escolha das locações (o isolamento da propriedade Eel Marsh é primoroso) até a concepção interna da casa, cuja arquitetura simples é absolutamente funcional na criação do suspense. Por outro lado, a trilha de Marco Beltrami, correta em boa parte do tempo, acaba recaindo nos sustos fáceis criados com a elevação do volume, enquanto a montagem de Jon Harris consegue com muito mais facilidade se tornar fundamental na criação do suspense - repare, por exemplo, como a simples expectativa por um corte em certo plano consegue gerar tensão na cena em que uma entidade (representada pela câmera subjetiva) se aproxima de Arthur pelas costas, uma vez que a inversão do eixo fatalmente revelaria essa assustadora presença.
Por fim, o elenco formado basicamente por rostos desconhecidos não desvia a atenção daqueles personagens que, no frigir dos ovos, realmente importam para a trama - e mesmo com seu aparente torcicolo crônico (que talvez também explique as caretas que faz quando engole saliva), Daniel Radcliffe consegue se desvencilhar do papel que marcou a última (e também a primeira) década de sua carreira e oferece uma performance satisfatória para o papel (que na versão produzida para a televisão em 1989, curiosamente, é vivido por Adrian Rawlins, ator que deu "vida" ao pai de Harry Potter na cinessérie), com destaque para a longa e bem construída sequência que narra a pernoite de Arthur na mansão e, de incrédulo que vai de encontro à assombração como um típico protagonista de filme de terror, o sujeito passa a fugir de miragens amedrontado e com um machadinho em punhos.
Trazendo modificações em relação ao desfecho original (sobre o qual desconheço detalhes), A Mulher de Preto é arrematado com - surpresa ou não - o clichê do "nunca termina quando acaba", compensado em partes por desconstruir outro clichê menor segundos depois - e alguns até podem tentar extrair explicações para a pieguice da moderadamente satisfatória resolução, o que não passa de uma tolice. Ao invés disso, deveriam começar a pensar em como tirar a imagem assustadora da mulher vestida de preto da cabeça sem que, para isso, precise ter o mesmo destino que alguns dos personagens.
