3 de fevereiro de 2012

Crítica | À Beira do Abismo

Elizabeth Banks e Sam Worthington em À BEIRA DO ABISMO (Man on a Ledge)

★★★

Man on a Ledge, EUA, 2012 | Duração: 1h42m12s | Lançado no Brasil em 3 de fevereiro de 2012, nos cinemas | Escrito por Pablo F. Fenjves | Dirigido por Asger Leth | Com Sam Worthington, Elizabeth Banks, Jamie Bell, Ed Harris, Genesis Rodriguez, Anthony Mackie, Ed Burns, Titus Welliver, Kyra Sedgwick e Bill Sadler.

Pôster/capa/cartaz nacional de À BEIRA DO ABISMO (Man on a Ledge)
A premissa de À Beira do Abismo é, na pior das hipóteses, intrigante: um homem entra em um quarto do vigésimo primeiro andar de um hotel localizado no centro de Nova York, atravessa a janela e ameça se jogar. Em questão de minutos, uma mega operação envolvendo a polícia e os bombeiros é armada no local, enquanto uma diversificada multidão de curiosos se aglomera. Mas quem é esse homem? Ele pretende mesmo pular? Se não, qual é seu objetivo? E o mais importante: como isso pode render um filme de 102 minutos?

As respostas para todas essas perguntas são dadas, claro, aos poucos por Asger Leth e Pablo F. Fenjves, respectivamente diretor e roteirista do longa - e mesmo que nem sempre sejam satisfatórias, são o bastante para construir um thriller relativamente eficiente. Dessa forma, descobrimos que aquele homem é Nick Cassidy (Sam Worthington), um ex-policial foragido que aparentemente se colocou no parapeito daquele prédio para atrair a atenção da polícia, da imprensa e da população para, de alguma forma, provar sua inocência no crime pelo qual fora acusado e que o levou a ser sentenciado a 25 anos de prisão. A certa altura, ficamos sabendo também que a escolha do prédio não é arbitrária e que a negociadora Lydia Mercer (Elizabeth Banks) não é a única pessoa com a qual Nick se comunica, já que sua aparente tentativa de suicídio faz parte de um plano maior que envolve diretamente, em diferentes níveis, o irmão Joey (Jamie Bell), a cunhada Angie (Genesis Rodriguez) e o ricaço David Englander (Ed Harris).

Introduzindo gradativamente a que veio, À Beira do Abismo não enfrenta maiores dificuldades para fisgar o interesse do espectador nos primeiros minutos através do clima de apreensão e mistério, mas, assim que a participação de Joey e Angie no plano é revelada, o filme começa a apresentar problemas óbvios, oriundos da complexidade de suas tarefas. Assim, somos obrigados a aceitar, por exemplo, que uma empresa com cacife para instalar os mais sofisticados sistemas de segurança tem seus aparatos burlados por um louco correndo e disparando um extintor de incêndio. Além disso, na tentativa de injetar tensão nessa e em outras passagens, o diretor e o roteirista concebem cenas com alguns dos truques mais batidos do gênero, como o carro que atravessa a ferrovia milissegundos antes de um trem passar ou a personagem que deve cortar o fio certo de um dispositivo para evitar um desastre. Porém, o mau gosto atinge um de seus auges quando, por uma boba incredulidade de Mercer, Nick fica a dois segundos de se jogar da sacada após dar um prazo de longos 30 minutos para que determinada exigência fosse atendida.

Genesis Rodriguez e Jamie Bell em À BEIRA DO ABISMO (Man on a Ledge)

A segunda metade do filme, por outro lado, revela-se muito mais interessante, já que, dentre outras razões, possui um timing eficiente e a quantidade de personagens vai aos poucos sendo justificada - não o suficiente, claro, para que o personagem de Ed Burns deixe de ser apenas um policial insuportavelmente engraçadinho ou que a repórter vivida por Kyra Sedgwick seja mais que um estereótipo ofensivo de jornalista sensacionalista e inescrupulosa. E se Jamie Bell, Genesis Rodriguez, Ed Harris e Titus Welliver encarnam criaturas unidimensionais que em nada os desafiam como intérpretes, Sam Worthington surpreende e consegue transmitir a aflição e o empenho do personagem com bastante competência (repare a importância do gestual e da intensidade do ator em um momento no qual ameça se jogar) - algo fundamental para que o filme funcione bem como suspense, especialmente se pensarmos que Asger Leth falha miseravelmente, por exemplo, em causar vertigens no público com a situação do protagonista (chega a ser grotesca a incompetência da teleobjetiva de um ângulo baixo que percorre a fachada do prédio e torna ainda mais absurdo o fato de uma idosa ter sido a primeira a enxergá-lo no parapeito).

E não é só nesse ponto que a inexperiência de Leth fica evidente. Qual a importância da ferida nas juntas dos dedos de Nick, que justifique tantos planos-detalhe na mão do homem? E se já é bastante difícil aceitar que Nick observa movimentações em um prédio vizinho, por que em nenhum momento o diretor nos coloca em seu ponto de vista, para nos certificarmos que é sim possível acompanhá-las? Por outro lado, como já mencionado, Leth conduz com eficácia (e com a ajuda do montador Kevin Stitt) a perseguição que se sucede após o instante que o protagonista abandona o parapeito, salvando o longa do completo desastre.

Por fim, é lamentável que todo o plano de Nick dependa de vários fatores teoricamente imprevisíveis a princípio, em especial a postura e as reações da multidão de curiosos, que acabam sendo elementos definidores para que tudo saia nos conformes e tornando a narrativa ainda mais inverossímil. Por outro lado, é curioso que o roteiro encaminhe a narrativa para um momento no qual Nick é levado a tomar uma atitude emblemática, mas que, infelizmente, logo é eclipsada por uma postura simplesmente incompreensível por parte da polícia.

Diferentemente dos esforços de Nick para provar sua inocência, a impressão que fica é que a tentativa de Leth e Fenjves de provar competência não recebeu a mesma dedicação - o que é uma pena, já que nas mãos certas, À Beira do Abismo poderia ser um thriller exemplar.

Sam Worthington e Anthony Mackie em À BEIRA DO ABISMO (Man on a Ledge)