
★★
Underworld: Awakening, EUA, 2012 | Duração: 1h28m24s | Lançado no Brasil em 2 de março de 2012, nos cinemas | Baseado nos personagens criados por Kevin Grevioux e Len Wiseman & Danny McBride. História de Len Wiseman & John Hlavin. Roteiro de Len Wiseman & John Hlavin e J. Michael Straczynski e Allison Burnett | Dirigido por Måns Mårlind e Björn Stein | Com Kate Beckinsale, Stephen Rea, Michael Ealy, Theo James, India Eisley, Sandrine Holt, Charles Dance, Kris Holden-Ried, Wes Bentley.
Grosso modo, Anjos da Noite poderia ser descrita como a "saga" Crepúsculo dos filmes de ação; afinal, além de abordarem uma disputa de longa data entre seres míticos erroneamente chamados de vampiros e lobisomens, ambas trazem romances proibidos entre seres de naturezas diferentes (e que procriam gerando seres híbridos) como motivadores de seus conflitos, além de compartilharem a capacidade exímia de andar em círculos e repetir-se dentro de suas próprias propostas. Porém, apesar de a comparação soar como um ataque puro à série criada em 2003 por Len Wiseman, Danny McBride e Kevin Grevioux, é possível afirmar que, ao menos em Anjos da Noite (em particular, neste quarto exemplar), as boas sequências de ação conseguem justificar (em partes) toda a ladainha e compensar (também em partes) o tempo investido pelo espectador.
Fruto da associação de ideias oriundas de seis diferentes mentes - algo assombroso -, Anjos da Noite - O Despertar retorna à linha cronológica dos dois primeiros filmes com uma premissa até animadora: descobertos pelos humanos, vampiros e lycans (os tais lobisomens) são exterminados da face da Terra (se as poderosas raças enfrentam uma dificuldade tão grande de destruir uma à outra, não me pergunte como os humanos conseguiram o fazer), com exceção de um ou outro espécime mantido em estado criogênico em um laboratório farmacêutico. Porém, a alegria com as novas possibilidades para a série vislumbradas com o fim da tediosa guerra entre vampiros e lycans dura pouco, já que Selene (Kate Beckinsale), mantida inconsciente como cobaia por 12 anos, consegue fugir do laboratório e logo descobre que a erradicação de ambas as espécies é uma balela e que as pesquisas comandadas pelo inescrupuloso Dr. Jacob Lane (Stephen Rea) com base nela própria e na poderosa garota Eve (India Eisley) são, na verdade, motivadas por interesses obscuros.
Trazendo de volta aquele que sempre foi o grande chamariz fetichista da série - isto é, Kate Beckinsale com roupa coladinha, espartilho e sobretudo de couro distribuindo tiros, socos, pontapés e desempenhando coreografias em câmera lenta -, Anjos da Noite - O Despertar não parece empenhado em corrigir problemas dos filmes anteriores: mais uma vez, um retrospecto dos desinteressantes eventos que precedem a narrativa é feito através de um flashback que subestima (com razão) a memória do espectador, assim como, novamente, há um esforço descomunal e artificial de esconder a nudez de Beckinsale (esposa do produtor e roteirista Len Wiseman), enquanto a violência, por exemplo, é utilizada de forma extremamente questionável do ponto de vista moral (Selene não perdoa nem pessoas inocentes) e é apresentada sem nenhum pudor, com um grafismo extremo. Além disso, mesmo abandonando a predominância de cenas transcorridas em cenários decadentes como esgotos, porões e cavernas em noites sempre marcadas por relâmpagos, o longa parece inteiramente ambientado em locais com graves problemas na rede elétrica, já que inexplicáveis panes fazem com que luzes piscantes marquem presença na maior parte do tempo. Enquanto isso, a fotografia de Scott Keaven consegue fugir do azulão sem imaginação dos primeiros filmes, mas continua dominada por tons escuros e opressores que acabam prejudicando a profundidade propiciada pelo efeito 3D.

Por outro lado, os diretores suecos Måns Mårlind e Björn Stein (Identidade Paranormal) fazem um bom trabalho na condução das cenas de ação, que, relevando a invencibilidade da protagonista (há pelo menos duas ocasiões nas quais, em condições normais, Selene teria morrido), abandonam os cenários do submundo e investem em perseguições de carro ou embates em edificações que dispõem de elevadores, dutos de circulação de ar, corredores ou garagens a serem explorados. Por sorte, mesmo tolo, o roteiro não perde muito tempo com bobagens como o intragável senso de superioridade de vampiros anciãos (aliás, se vampiros não envelhecem, qual a lógica de os anciãos serem sempre velhos?), partindo para a ação acrobática sempre que a história parece exigir que algo de um pouco mais complexo precise ser construído. Com isso, Kate Beckinsale volta a desempenhar um papel que depende muito mais de sua presença física (mérito dividido, claro, com sua dublê) do que de seu talento como intérprete - não muito diferente do restante do elenco, que sequer possui nomes de peso para serem desperdiçados (destaque para a curta participação de Wes Bentley, que apenas reforça o desprestígio que o ator tem alcançado ao longo dos últimos anos de sua carreira).
Por fim, Anjos da Noite - O Despertar ainda consegue ter sua credibilidade abalada ao ousar introduzir conceitos novos após três longos filmes (a tolerância a raios solares de Selene, por exemplo, é de uma arbitrariedade tremenda - e caso tenha sido mencionada nos filmes anteriores, valeria uma menção no flashback), de modo que se torna incompreensível que alguns deles não tenham sido utilizados anteriormente (como a técnica de ressurreição executada por Selene em certo personagem), enquanto outros sequer mantém uma coerência interna (como a sincronia de ondas cerebrais entre parentes próximos). Mas de modo geral, arrisco-me a dizer que, especialmente diante do desastroso Anjos da Noite - A Rebelião, este quarto episódio representa uma ligeira surpresa, ainda assim longe de tornar atraente a possibilidade de uma continuação deixada pelo gancho final.
