

The Darkest Hour, EUA/Rússia, 2011 | Duração: 1h29m06s | Lançado no Brasil em 13 de Janeiro de 2012, nos cinemas | História de Leslie Bohem & M.T. Ahern e Jon Spaihts. Roteiro de Jon Spaihts | Dirigido por Chris Gorak | Com Emile Hirsch, Olivia Thirlby, Max Minghella, Rachael Taylor, Joel Kinnaman, Veronika Ozerova, Dato Bakhtadze, Gosha Kutsenko, Artur Smolyaninov.
Dirigido pelo inexperiente Chris Gorak (se em algum momento você pensou que o filme era comandado pelo "visionário cineasta Timur Bekmambetov" - que apenas produz -, então você caiu no golpe da campanha de divulgação), o longa acompanha um grupo de turistas americanos em Moscou que sobrevive à chegada nada amigável de seres alienígenas à Terra, em meio a uma tempestade elétrica que, como esperado, compromete mundialmente o fornecimento de energia elétrica e as telecomunicações. Após passarem alguns dias reclusos na despensa subterrânea de um bar, os jovens decidem ir até a embaixada dos Estados Unidos em busca de ajuda - e não desistem nem mesmo após andarem por horas pela cidade sem cruzar com uma vivalma sequer. Cientes da natureza elétrica dos alienígenas que, invisíveis, denunciam-se sempre que se aproximam de lâmpadas ou aparelhos eletrônicos, os jovens passam a evitar translados diurnos e, após algum tempo desempenhando atividades potencialmente perigosas, descobrem que uma embarcação para sobreviventes partirá em breve da cidade, o que alimenta neles uma esperança de sobrevivência e continuidade da espécie humana.
Escrito por Jon Spaihts a partir de uma história criada por ele mesmo juntamente com Leslie Bohem e M.T. Ahern, o roteiro de A Hora da Escuridão não parece preocupado em criar algo novo e, dessa forma, limita-se a repetir elementos e até mesmo sequências inteiras de eventos vistos em outros filmes apocalípticos ou sobre invasões alienígenas: sobreviventes alojarem-se em um shopping center, por exemplo, é algo que Madrugada dos Mortos já havia explorado; a cauterização dos humanos vista aqui, mesmo eficiente em sua intensidade PG-13, não difere muito da desintegração promovida pelos invasores de Guerra dos Mundos; e por fim, os jovens vislumbrarem um apartamento aceso em meio à escuridão da cidade, irem até lá e encontrarem um homem de meia idade e uma jovem bem adaptados àquele caos e, em seguida, ouvirem em um rádio uma transmissão militar que reacende a esperança de salvação, impulsionando-nos a percorrer um trajeto arriscado, é algo que já foi explorado, na mesmíssima ordem, em Extermínio, de Danny Boyle.
Dessa forma, se a natureza invisível e elétrica dos alienígenas é uma característica que poderia ter tornado o filme diferenciado de alguma forma, o modo como ela é explorada pelo roteiro surge como um completo desserviço e sabota qualquer potencial que a ideia poderia ter. Para começar, a invisibilidade até consegue gerar, de forma bastante literal, uma tensão advinda do temor por aquilo que não é visto (como ocorria, de outro modo, com os personagens-título de Alien, o Oitavo Passageiro ou Tubarão), até o momento em que nossa falta de domínio sobre a posição ou a velocidade de deslocamento dos invasores passa a ser um pretexto para que os protagonistas saiam ilesos de situações de alto risco - o que, de tabela, também diminui o impacto das cenas em que algum deles eventualmente acaba sendo vitimado, já que em ambos os casos o sucesso ou não dos ataques soa arbitrário e parece muito mais uma conveniência do roteiro do que uma relação clara de causa e consequência.
Repare, por exemplo, a cena em que Sean (Hirsch) e Ben (Minghella) são surpreendidos por um alienígena em plena luz do dia, na Praça Vermelha (o que seria deles se não houvesse um cachorro para alertá-los da aproximação dos alienígenas?): neste caso, não só a decisão aparentemente calculada de esconderem-se embaixo de uma viatura policial é ligeiramente absurda (como se eles, assim como nós, tivessem conhecimento da trajetória percorrida pelo alienígena), como também a certeza, alcançada segundos depois, de que não correm mais perigo é absolutamente incompatível com o que esperaríamos de pessoas que passaram mais de oitenta horas trancafiadas em um mesmo local por medo daqueles seres. Além disso, os roteiristas acovardam-se com a simplicidade da ideia inicial dos extraterrestres e, sob os cuidados da equipe de direção de arte, concebem um monstrengo com os traços mais tradicionais possíveis no comando da esfera eletromagnética invisível, algo que apenas reforça o desapego pela originalidade.
O maior problema do roteiro, porém, não reside nos alienígenas, que - coitados! - apenas tiveram a infelicidade de escolher o único astro habitado do sistema solar (quiçá da galáxia) para extrair recursos também abundantes em outros corpos celestes. O que incomoda de verdade é a unidimensionalidade dos personagens (também é impressionante a forma gritante como os roteiristas estabelecem a hierarquia entre eles, de modo que não é muito difícil supor quais deverão morrer e em qual ordem), que mesmo com intérpretes moderadamente simpáticos, jamais conquistam o público e, para piorar, julgam que somos tão burros quanto eles próprios. Dessa forma, somos torturados com diálogos que fazem questão de mastigar toda informação nova sempre que alguma surge (Ben: "Não sabemos se eles podem ver ou ouvir". Sean: "Mas sabemos que podem matar"), na maioria das vezes sem a menor necessidade, como o que ocorre quando o grupo descobre que outras grandes capitais do mundo também foram atacadas (o interior, como sempre, não é interessante o suficiente para os alienígenas) e Natalie (Thirlby) toma a palavra para nos informar o óbvio: "Então Skyler (Kinnaman) estava certo" apenas para que, em seguida, insatisfeita, Anne (Taylor) reformule: "Não existe mais 'casa'...".
Aliás, se a ideia de situar a trama em Moscou tinha como intenção prestar uma homenagem à capital russa, o resultado alcançado é quase oposto, já que além de pensarem que todos os territórios externos aos Estados Unidos formam uma imensa nação cuja língua oficial é o espanhol, os quatro sobreviventes parecem ter uma necessidade quase patológica de abandonar o local, chegando ao extremo quando o personagem de Hirsch solta a possível pior fala do filme: "De que adianta salvar a vida das pessoas se não pode levá-las para casa?". Por outro lado, Gorak (que, além de ter dirigido Toque de Recolher, já havia trabalhado com Direção de Arte e Desenho de Produção) conduz com eficiência e segurança técnica a maior parte da projeção, explorando bem as paisagens russas (os efeitos especiais, que garantem a destruição e o abandono de grandes monumentos, também são eficientes), mas falhando sempre que o roteiro exige que imbecilidades sejam transformadas em imagens (como transformar uma cena na qual um personagem insiste em carregar uma arma, mesmo consciente de sua inutilidade, em algo convincente?) ou nos momentos em que precisa lembrar ao espectador que o filme é em 3D (inútil, diga-se de passagem), graças à ótima pontaria dos alienígenas, que sempre erram suas vítimas mas sempre acertam a câmera.
Com direito a pessoas bêbadas que não conseguem esboçar nenhuma reação diante de fenômenos curiosos ocorrendo no céu, descargas elétricas que não eletrocutam, ônibus desgovernados que terminam suas trajetórias em locais convenientes e pessoas que acreditam que duas dúzias de lâmpadas (ou "dispositivos de alerta", como os próprios personagens fazem questão de explicar) jogadas no chão de um espaço pequeno não são suficientes para denunciar a presença dos alienígenas e, assim, precisam lançar mais umas duas dúzias, A Hora da Escuridão é um filme cujo maior mérito é a pequena duração (pouco mais de oitenta minutos), que parece o único aspecto realmente consciente da besteira que o longa é. Isso, claro, caso você realmente decida por assistí-lo e precise procurar algo de bom nele.
Escrito por Jon Spaihts a partir de uma história criada por ele mesmo juntamente com Leslie Bohem e M.T. Ahern, o roteiro de A Hora da Escuridão não parece preocupado em criar algo novo e, dessa forma, limita-se a repetir elementos e até mesmo sequências inteiras de eventos vistos em outros filmes apocalípticos ou sobre invasões alienígenas: sobreviventes alojarem-se em um shopping center, por exemplo, é algo que Madrugada dos Mortos já havia explorado; a cauterização dos humanos vista aqui, mesmo eficiente em sua intensidade PG-13, não difere muito da desintegração promovida pelos invasores de Guerra dos Mundos; e por fim, os jovens vislumbrarem um apartamento aceso em meio à escuridão da cidade, irem até lá e encontrarem um homem de meia idade e uma jovem bem adaptados àquele caos e, em seguida, ouvirem em um rádio uma transmissão militar que reacende a esperança de salvação, impulsionando-nos a percorrer um trajeto arriscado, é algo que já foi explorado, na mesmíssima ordem, em Extermínio, de Danny Boyle.
Dessa forma, se a natureza invisível e elétrica dos alienígenas é uma característica que poderia ter tornado o filme diferenciado de alguma forma, o modo como ela é explorada pelo roteiro surge como um completo desserviço e sabota qualquer potencial que a ideia poderia ter. Para começar, a invisibilidade até consegue gerar, de forma bastante literal, uma tensão advinda do temor por aquilo que não é visto (como ocorria, de outro modo, com os personagens-título de Alien, o Oitavo Passageiro ou Tubarão), até o momento em que nossa falta de domínio sobre a posição ou a velocidade de deslocamento dos invasores passa a ser um pretexto para que os protagonistas saiam ilesos de situações de alto risco - o que, de tabela, também diminui o impacto das cenas em que algum deles eventualmente acaba sendo vitimado, já que em ambos os casos o sucesso ou não dos ataques soa arbitrário e parece muito mais uma conveniência do roteiro do que uma relação clara de causa e consequência.
Repare, por exemplo, a cena em que Sean (Hirsch) e Ben (Minghella) são surpreendidos por um alienígena em plena luz do dia, na Praça Vermelha (o que seria deles se não houvesse um cachorro para alertá-los da aproximação dos alienígenas?): neste caso, não só a decisão aparentemente calculada de esconderem-se embaixo de uma viatura policial é ligeiramente absurda (como se eles, assim como nós, tivessem conhecimento da trajetória percorrida pelo alienígena), como também a certeza, alcançada segundos depois, de que não correm mais perigo é absolutamente incompatível com o que esperaríamos de pessoas que passaram mais de oitenta horas trancafiadas em um mesmo local por medo daqueles seres. Além disso, os roteiristas acovardam-se com a simplicidade da ideia inicial dos extraterrestres e, sob os cuidados da equipe de direção de arte, concebem um monstrengo com os traços mais tradicionais possíveis no comando da esfera eletromagnética invisível, algo que apenas reforça o desapego pela originalidade.
O maior problema do roteiro, porém, não reside nos alienígenas, que - coitados! - apenas tiveram a infelicidade de escolher o único astro habitado do sistema solar (quiçá da galáxia) para extrair recursos também abundantes em outros corpos celestes. O que incomoda de verdade é a unidimensionalidade dos personagens (também é impressionante a forma gritante como os roteiristas estabelecem a hierarquia entre eles, de modo que não é muito difícil supor quais deverão morrer e em qual ordem), que mesmo com intérpretes moderadamente simpáticos, jamais conquistam o público e, para piorar, julgam que somos tão burros quanto eles próprios. Dessa forma, somos torturados com diálogos que fazem questão de mastigar toda informação nova sempre que alguma surge (Ben: "Não sabemos se eles podem ver ou ouvir". Sean: "Mas sabemos que podem matar"), na maioria das vezes sem a menor necessidade, como o que ocorre quando o grupo descobre que outras grandes capitais do mundo também foram atacadas (o interior, como sempre, não é interessante o suficiente para os alienígenas) e Natalie (Thirlby) toma a palavra para nos informar o óbvio: "Então Skyler (Kinnaman) estava certo" apenas para que, em seguida, insatisfeita, Anne (Taylor) reformule: "Não existe mais 'casa'...".
Aliás, se a ideia de situar a trama em Moscou tinha como intenção prestar uma homenagem à capital russa, o resultado alcançado é quase oposto, já que além de pensarem que todos os territórios externos aos Estados Unidos formam uma imensa nação cuja língua oficial é o espanhol, os quatro sobreviventes parecem ter uma necessidade quase patológica de abandonar o local, chegando ao extremo quando o personagem de Hirsch solta a possível pior fala do filme: "De que adianta salvar a vida das pessoas se não pode levá-las para casa?". Por outro lado, Gorak (que, além de ter dirigido Toque de Recolher, já havia trabalhado com Direção de Arte e Desenho de Produção) conduz com eficiência e segurança técnica a maior parte da projeção, explorando bem as paisagens russas (os efeitos especiais, que garantem a destruição e o abandono de grandes monumentos, também são eficientes), mas falhando sempre que o roteiro exige que imbecilidades sejam transformadas em imagens (como transformar uma cena na qual um personagem insiste em carregar uma arma, mesmo consciente de sua inutilidade, em algo convincente?) ou nos momentos em que precisa lembrar ao espectador que o filme é em 3D (inútil, diga-se de passagem), graças à ótima pontaria dos alienígenas, que sempre erram suas vítimas mas sempre acertam a câmera.
Com direito a pessoas bêbadas que não conseguem esboçar nenhuma reação diante de fenômenos curiosos ocorrendo no céu, descargas elétricas que não eletrocutam, ônibus desgovernados que terminam suas trajetórias em locais convenientes e pessoas que acreditam que duas dúzias de lâmpadas (ou "dispositivos de alerta", como os próprios personagens fazem questão de explicar) jogadas no chão de um espaço pequeno não são suficientes para denunciar a presença dos alienígenas e, assim, precisam lançar mais umas duas dúzias, A Hora da Escuridão é um filme cujo maior mérito é a pequena duração (pouco mais de oitenta minutos), que parece o único aspecto realmente consciente da besteira que o longa é. Isso, claro, caso você realmente decida por assistí-lo e precise procurar algo de bom nele.
