10 de janeiro de 2012

Crítica | As Aventuras de Agamenon - O Repórter

por Eduardo Monteiro

As Aventuras de Agamenon - O Repórter, Brasil, 2012 | Duração: 1h19m15s | Lançado no Brasil em 6 de Janeiro de 2012, nos cinemas | Roteiro de Marcelo Madureira e Hubert | Dirigido por Victor Lopes | Com Hubert, Marcelo Adnet, Luana Piovani, Pedro Bial, Marcelo Madureira, Ruy Castro, Luiz Carlos Miele, Alcione Mazzeo, Paulo Coelho, Gulhermina Guinle, Tonico Pereira, Russo e a narração de Fernanda Montenegro.

Quando criança, eu, muito brincalhão (e modesto, como devem supor), tinha por hábito criar pequenas anedotas cuja graça residia exclusivamente na falta de nexo das situações ou falas apresentadas. Se não me falha a memória, a título de exemplo, a principal delas era: "Um garoto perguntou: 'Mãe, me dá uma bicicleta?'. E ela respondeu: 'Não, meu filho, você já tem uma cama'. Depois daquele dia, o menino nunca mais comeu macarrão". No entanto, os anos chegaram e, com eles, a maturidade me fez perceber que aquilo não era mais suficiente para arrancar boas risadas dos meus amigos - a não ser, é claro, que estes estivessem suficientemente alterados sob efeito de algum tipo de entorpecente. Porém, prestes a completar 21 anos de idade, deparo-me com algo absolutamente desanimador: As Aventuras de Agamenon - O Repórter, filme nacional com um roteiro (escrito por dois cidadãos cujas idades somadas ultrapassam em 5 vezes a minha) voltado para o público adulto que parece acreditar que a falta de nexo por si só é algo ridiculamente engraçado - além, claro, da busca incessante por risadas contínuas, através de uma overdose de trocadilhos e piadas sexuais e escatológicas gratuitas jogadas a esmo.

Adotando uma estrutura que mescla (bondade minha) documentário com ficção, o filme se propõe a contar a história do jornalista fictício Agamenon Mendes Pedreira (Adnet, na fase jovem, e Hubert, na fase adulta), uma espécie de Forrest Gump brasileiro: mentalmente desfavorecido, o sujeito participa (certas vezes, de forma ativa) de diversos momentos da história mundial recente enquanto interage com o robô (talvez seja um ser humano, mas não posso precisar) Pedro Bial ou, mais diretamente, com a esposa Isaura (Piovani) e o psicoproctologista... er... Jacintho Leite Aquino Rêgo (Madureira), ambos inseridos exclusivamente para encaixar piadas sobre, respectivamente, traição e exame de próstata.

Episódico como uma sitcom repleta de pequenos esquetes, o longa dirigido por Victor Lopes sequer tenta disfarçar a linguagem televisiva enraizada e a própria falta de objetivo e limita-se a entregar um torturante episódio estendido de Casseta & Planeta (como não associar, por exemplo, as geringonças mirabolantes às Organizações Tabajara?), utilizando a profissão de seu protagonista como pretexto para abraçar todo e qualquer fato histórico que permita uma ou duas piadas. Incapazes de perceber que insinuações sobre tamanho do pênis não são a forma mais sofisticada de se fazer humor, Hubert e Madureira (que passaram - pasmem! - dois anos desenvolvendo o roteiro) não se intimidam nem mesmo em inserir grandes desastres dentre os eventos comicamente presenciados por Agamenon, rebaixando fatos como o ataque ao World Trade Center, a bomba atômica detonada em Hiroshima ou a morte da princesa Diana a situações dignas de chacota.

Dessa forma, adequando o desenvolvimento (bondade minha) da história à demanda por piadas, o diretor e os roteiristas criam uma verdadeira bagunça cinematográfica que, até para os padrões do próprio filme, assusta pela incoerência e pelo excesso de pontas soltas (como relacionar de forma coerente, por exemplo, o assassinato visto no começo do filme com os acontecimentos do desfecho?). Além disso, ignorando os óbvios problemas de ritmo (um clímax até é esboçado, mas o longa logo é encerrado de forma abrupta - o que no fundo acaba sendo um alívio), o filme apresenta uma série de problemas de linguagem, algo que não surpreende por tratar-se de um filme derivado de uma coluna escrita do Jornal O Globo produzida para o cinema por incompetentes - e repare, por exemplo, como o relato da infância de Agamenon se enquadraria perfeitamente em um show de stand-up ("Quando eu era criança, era tão pobre que todo mundo lá em casa usava uma roupa só: o vestido de noiva da minha mãe" - pausa para risos da plateia) mas, transformado em audiovisual, torna-se algo embaraçosamente sem graça.

Para piorar, a mediocridade dos roteiristas volta a ficar evidente quando uma série de piadas, que já eram sofríveis a princípio, são repetidas sem pudor algum ao longo do próprio filme, desde citações a fatos ou personalidades em épocas anteriores às suas existências até as recorrentes sugestões de que certos xingamentos são na verdade elogios. Além disso, a insistência em exibir seus personagens repetindo os próprios nomes, concebidos através de trocadilhos infantis (como o já citado Jacintho Leite Aquino Rêgo ou o Barão do Pau Barbado), só não é mais irritante que a importância dada à mediocridade da imprensa marrom brasileira, desde a ressurreição do caso do jogador Ronaldo com os travestis (céus, alguém ainda se importa com isso?) até as diversas menções ao Big Brother Brasil, possibilitadas graças à participação vexatória do apresentador Pedro Bial. E como se isso não fosse suficiente para datar o humor do filme, Hubert e Madureira ainda inserem paródias desconexas a produções nacionais (Bruna Surfistinha, Chico Xavier e Cidade de Deus), que certamente deixariam orgulhosos os americanos Aaron Seltzer e Jason Friedberg (Os Vampiros Que Se Mordam, Espartalhões, Deu a Louca em Hollywood). Ainda por cima, os roteiristas demonstram uma completa estagnação de seus sensos de humor, em especial, quando tentam emplacar piadas envolvendo a sexualidade de Leonardo DiCaprio que, derivadas de um ciúme masculino bobo e generalizado da época de Titanic, quando o ator fazia sucesso entre as mulheres, ignoram os mais quase quinze anos de carreira que se sucederam dali e que foram mais que suficientes para enterrar a sete palmos esse preconceito estúpido.

Surpresa ou não, tecnicamente, o filme também deixa bastante a desejar - a não ser, é claro, que o bunker (um trocadilho para "bunda", como descobri com o filme) de Hitler visto em certo momento seja uma homenagem enrustida aos cenários do seriado Chaves, produzido para a televisão na década de 70. Há de se reconhecer, entretanto, que os efeitos utilizados na transmutação do Agamenon jovem no adulto são eficientes, mas nem isso mascara a preguiça dos autores de criar uma explicação decente para a mudança repentina de aparência do protagonista e nem diminui o fardo da constatação de que dali para frente seremos obrigados a aturar em tempo integral a caricata performance de Hubert. Aliás, tirando Luana Piovani, que não é obrigada a usar dentaduras ou perucas que mais parecem assessórios do Pânico na TV, e Russo, o lendário assistente de palco da Rede Globo que, sumido há anos, aqui surge em uma ponta no único esquete minimamente divertido de todo o longa (aquele envolvendo a disputa que definirá o próximo papa), todos os profissionais envolvidos na produção deveriam se envergonhar de suas colaborações, alguns em maior grau (o falso depoimento de Fernando Henrique Cardoso é embaraçoso) e outros com menor vigor (shame on you, Fernanda Montenegro!).

O que nos leva, claro, à participação do ótimo Marcelo Adnet, tida como única esperança de salvação de um projeto que aparentemente já nasceu condenado. E não, nem o comediante consegue salvar as cenas que protagoniza, já que elas invariavelmente sofrem dos mesmos problemas citados anteriormente e obrigam o ator a entregar uma interpretação irregular, caricata e repleta de tiques falsos e irritantes, que talvez funcionassem em seus programas na MTV - quando, então, ele teria o benefício de texto, talento e criatividade próprios. E já que citei sua carreira televisiva, a (péssima e deslocada) cena em que Agamenon interpreta um funk em um navio militar é claramente inspirada nas paródias ou composições improvisadas que marcaram (e ainda marcam) os programas que elevaram Adnet ao estrelato, mas que, por outro lado, contavam com o descompromisso de estarem inseridas em um programa de TV, algo assumidamente descartável, despretensioso e passageiro.

Por fim, após muito sofrimento vendo Agamenon, pensando em Agamenon e escrevendo sobre Agamenon, ao menos um privilégio irei me autoconceder: o de encerrar o texto referenciando uma das piadas do filme. As Aventuras de Agamenon - O Repórter até que não é um filme ruim. É um filme péssimo (risos - ou não, né!).