
Alvin and the Chipmunks: Chipwrecked, EUA, 2011 | Duração: 1h25m15s | Lançado no Brasil em 6 de Janeiro de 2012, nos cinemas | Escrito por Jonathan Aibel & Glenn Berger | Dirigido por Mike Mitchell | Com Jason Lee, David Cross, Jenny Slate, Andy Buckley, Phyllis Smith e as vozes de Justin Long, Matthew Gray Gubler, Jesse McCartney, Amy Poehler, Anna Faris, Christina Applegate e Alan Tudyk.

Na história, Dave (Lee), os Esquilos e as Esquiletes estão de volta com suas personalidades desinteressantes e, de férias, embarcam em um cruzeiro para protagonizar uma espécie de episódio d'A Turma do Didi, com direito a patacoadas como o tropeço de uma pessoa com uma bandeja cheia de copos e muitas crianças pentelhas atormentando a tranquilidade dos adultos. Porém, o egoísmo e a irresponsabilidade de Alvin (Long) faz com que os Esquilos e as Esquiletes tornem-se náufragos e acabam sendo levados para uma ilha aparentemente deserta, onde deverão se virar sozinhos para sobreviver até que sejam resgatados. Todavia, por ação do rotei... digo, destino, o vilanesco e falido ex-produtor musical Ian (Cross) é jogado na história e acaba sendo levado para a mesma ilha na companhia de Dave em sua missão de resgate.
Isento de originalidade e sem a preocupação de exibir personalidade própria, o roteiro de Jonathan Aibel e Glenn Berger (responsáveis pelo segundo filme, por Monstros vs. Alienígenas e pelos dois Kung Fu Panda) atira para todos os lados e altera o foco sempre que as situações exigem que algo de inesperado aconteça, apelando para besteiras e clichês como travessias perigosas sobre abismos ou tesouros perdidos. Como se não bastasse, a inteligência do espectador (qualquer que seja sua idade) é trivializada a todo momento, desde a forma como os esquilos deduzem a existência de um vulcão na ilha (isto é, graças às águas termais, e não ao visualizar uma montanha cuspindo fumaça) ou o modo como uma pipa com dificuldade de elevar cinco esquilos de, sei lá, cem gramas cada um, consegue arrastar com facilidade um adulto de pelo menos oitenta quilos. Além disso, os roteiristas trazem de seus trabalhos em animações da DreamWorks a tendência de inundar o texto com referências pop, homenageando forçosamente Glee, O Senhor dos Anéis, 007, Titanic e Os Caçadores da Arca Perdida - isso sem contar a excessiva apropriação de elementos de Náufrago, ou o Simone (Tudyk), aborrecida encarnação francesa de Simon (Gubler), claramente inspirada no Buzz espanhol de Toy Story 3.
Por outro lado, há de se reconhecer o mérito de Mike Mitchell (Shrek Para Sempre, Gigolô por Acidente), que realiza com relativa eficiência as tomadas nas quais nada acontece (para que só depois a animação seja inserida), por mais que todo o filme tenha sido dirigido com o mesmo automatismo com o qual o roteiro foi escrito. Enquanto isso, a animação dos esquilos e a interação com o ambiente continuam bem executadas - não o suficiente para nos convencer que um número de dança das Esquiletes seja melhor que de um trio de humanas - enquanto a trilha sonora volta a adotar músicas de grande sucesso do universo pop, dessa vez marcada por canções de Lady GaGa, Katy Perry e Rihanna.
Porém, uma das coisas que mais incomoda desde o primeiro Alvin e os Esquilos - além, claro, das vozes estridentes - é a personalidade de seus personagens, especialmente a do protagonista. É simplesmente impossível entender o que passa na cabeça de alguém que confere à sua criação principal traços de egoismo, arrogância, presunção e egocentrismo e ainda espera que esta seja amada. Sim, Alvin pode ser fofinho e seus defeitos poderiam ser justificados pela esperada mudança de comportamento ao longo das narrativas, mas até os próprios filmes parecem convencidos que Alvin não tem conserto - e o que é pior - parecem enxergar uma graça nisso. Basta ver a cena extra exibida durante os créditos, que parece inserida apenas para enfatizar que essa sua índole é crônica e aparentemente irremediável - o que, claro, abre espaço para que mais uma continuação seja produzida.
Trazendo ainda belas mensagens para o público infantil (a mais inspiradora talvez seja: se estiver à beira da morte, lamente por não ter conseguido chegar ao Festival Internacional de Música), Alvin e os Esquilos 3 é um produto aparentemente inofensivo mas que, em análise mais profunda, pode ser até mesmo nocivo para o desenvolvimento da molecada, uma vez que parece tentar a todo momento romantizar a imprudência, a competição, a vaidade, o egoísmo e, de forma praticamente literal, o desprezo pela palavra "responsabilidade". Resta agora aos pais decidirem se vale a pena aturar oitenta e tantos minutos de vozes irritantes para, pela terceira vez, correr o risco de transmitir valores desse tipo para seus filhos.
