




The Ides of March, EUA, 2011 | Duração: 1h40m43s | Lançado no Brasil em 23 de Dezembro de 2011, nos cinemas | Escrito por George Clooney & Grant Heslov e Beau Willimon. Baseado na peça "Farragut North" de Beau Willimon | Dirigido por George Clooney | Com Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei, Max Minghella, Jeffrey Wright, Jennifer Ehle, Gregory Itzin e Michael Mantell.

Mas todas essas extrapolações não representam nem um décimo do que o novo filme de George Clooney oferece a seu espectador. Vendo um candidato qualquer em meio a uma campanha eleitoral, raramente pensamos na quantidade de pessoas por trás de suas aparições, o papel decisivo que alguns desses rostos desconhecidos possuem ou a influência que exercem no rumo de uma eleição. Baseado na peça Farragut North de Beau Willimon, adaptada para o cinema por ele próprio juntamente com Clooney e Grant Heslov, o filme acompanha de perto o ambicioso e jovem Stephen (Gosling), assessor da campanha primária democrata presidencial do governador Mike Morris (Clooney) comandada por Paul (Hoffman). Enquanto os concorrentes Morris e Pullman (Mantell) tentam modificar o quadro da acirrada disputa que se sucede no estado de Ohio, a campanha do primeiro aproxima-se de uma crise quando a informação sobre o breve envolvimento de Morris com a estagiária Molly (Wood) corre o risco de vir à público, bem como um encontro secreto entre Stephen e Tom Duffy (Giamatti), o cabeça da campanha do adversário, enquanto, por fora, o senador Thompson intenciona apoiar o outro candidato, o que deve comprometer de vez a corrida de Morris à presidência.
Aproveitando-se da combinação da relativa inexperiência com a palpável ambição de Stephen, o roteiro estuda a fundo um personagem que, mesmo após exaltar sua crença de estar trabalhando para o melhor candidato, aceita encontrar-se com o comandante da campanha do adversário (que sugere que sua dedicação pode estar sendo em vão diante da possibilidade de derrota de Morris) e - o que é pior - fica intimamente balançado com o que escuta. Vivido com a competência habitual por Ryan Gosling, Stephen é um homem que, ao declarar-se "casado com a campanha", parece não o fazer apenas como um afago ao patrão: seu enorme foco no trabalho só é estremecido pelas insinuações intensas da subordinada Molly e, mesmo envolvendo-se emocionalmente com a garota, sua prioridade volta imediatamente para a campanha depois que descobre o affair dela com Morris e o risco que isso pode trazer, passando a tratá-la com uma impessoalidade assustadora e até mesmo uma certa desconfiança (algo comprovado pelo momento em que ele lhe passa por bilhete - rasgado logo em seguida - um recado que não acarretaria em maiores problemas caso fosse transmitido verbalmente). Por outro lado, também é interessante notar a evolução do personagem brilhantemente desempenhada pelo ator ao longo da narrativa, passando de um comportamento mais impulsivo e agitado e uma aparência mais desleixada, com o nó da gravata sempre frouxo, para uma postura mais ereta, pomposa, fria, com o paletó e a gravata impecáveis.
Além disso, Tudo Pelo Poder também é altamente beneficiado por um elenco secundário formidável. Clooney, certeiramente, evita ao máximo que as atenções principais voltem-se para seu personagem, mantendo-se afastado durante boa parte do primeiro ato para que compremos uma discreta preferência por ele antes que possamos conhecê-lo verdadeiramente, especialmente seus defeitos. Por outro lado, o sempre ótimo Philip Seymour Hoffman vive Paul como um profissional calejado e inteligente, exibindo sutilezas como o momento em que, fugindo das soluções fáceis e prontas que geralmente vemos sendo dadas, o personagem vê-se obrigado a literalmente parar para refletir sobre o complexo quadro geral após o aparecimento de uma nova informação, ou a forma propositadamente diferente como reage às duas importantes confissões feitas por Stephen em momentos diferentes da projeção. Por último, Paul Giamatti também confere grande veracidade e inteligência ao personagem, tornando críveis e intrigantes suas manobras ao longo do filme, enquanto Marisa Tomei vive uma jornalista política que representa a postura geral da imprensa em relação ao processo eleitoral, fazendo os malabarismos necessários para preservar boas fontes e ao mesmo tempo entregar matérias relevantes a seus editores.
Demonstrando uma maturidade impressionante como cineasta, George Clooney, com auxílio do montador e antigo colaborador Stephen Mirrione, confere ao filme um ritmo impecável que acompanha o crescimento das tensões da trama e constrói com irrepreensível clareza o jogo de intrigas entre seus personagens, sem jamais perder a atenção do espectador com passagens sem relevância para o arco narrativo. Porém, o trabalho do cineasta atinge seu auge no tenso diálogo entre Stephen e Morris no terceiro ato da projeção, que resume e define com perfeição o jogo de gato e rato desenvolvido até ali, aproximando gradativamente a câmera dos rostos dos atores na tentativa inútil de flagrar algum deslize que denuncie as verdadeiras intenções de cada um dos personagens.
Encerrado com uma sequência que remete ao próprio início e arrematado com um questionamento adequadamente irônico, Tudo Pelo Poder é muito mais que uma luz no fim do túnel em um ano fraco de lançamentos como 2011; é também um dos melhores dramas políticos dos últimos anos. E caso não seja devidamente reconhecido na temporada de premiações (que também são processos eleitorais, movidos por politicagens), ao menos já teremos um bom modelo para supor as razões por trás de tamanho absurdo.
