



Mission: Impossible - Ghost Protocol, EUA, 2011 | Duração: 2h12m42s | Lançado no Brasil em 21 de Dezembro de 2011, nos cinemas | Roteiro de Josh Appelbaum e André Nemec. Baseado no seriado de televisão criado por Bruce Geller | Dirigido por Brad Bird | Com Tom Cruise, Simon Pegg, Jeremy Renner, Paula Patton, Michael Nyqvist, Vladimir Mashkov, Léa Seydoux, Josh Holloway, Samuli Edelmann, Miraj Grbic, Anil Kapoor e Tom Wilkinson.

Com uma equipe competente, definitivamente não. Produzido por J.J. Abrams (diretor do longa anterior e um dos grandes responsáveis pela ressurreição da franquia), por seu parceiro Bryan Burk e pelo astro Tom Cruise, Missão: Impossível - Protocolo Fantasma possivelmente tem como maior problema o desinteressante resgate das antigas e exaustivamente exploradas tensões da Guerra Fria como fio condutor de sua narrativa - mesmo que tente tolamente suavizar a vilanização dos russos com um óbvio e politicamente correto "Quer dizer então estamos do mesmo lado?" dito por uma autoridade russa após uma longa perseguição ao agente da IMF -, além das pequenas confusões criadas em certas passagens graças ao excesso de nomes de personagens apresentados, mesmo que a trama em si trate de uma problemática relativamente simples. Dessa forma, o filme torna-se muito mais interessante quando volta-se para tudo aquilo que Brad Bird trabalhou com brilhantismo em Os Incríveis, como a natureza colaborativa da missão ou as cenas de ação, encontrando espaço até mesmo para brincar com as convenções da própria série, como na cena em que uma fuga aparentemente certa de Hunt (Cruise) é interrompida quando este hesita pular de uma determinada altura.
Na história, Ethan Hunt é resgatado de uma prisão em Budapeste pelo recém promovido agente de campo Benji Dunn (Pegg) e pela parceira Jane Carter (Patton) e logo recebe a missão de interceptar códigos de ativação de mísseis nucleares guardados no Kremlin, em Moscou. Entretanto, o agente descobre que a IMF não foi a única a enviar uma equipe atrás dessas informações naquele dia e, minutos após Hunt abortar a missão, a fortaleza é parcialmente destruída por uma explosão - desencadeando no estabelecimento do Protocolo Fantasma, que consiste na completa dissolução da IMF e no uso de Hunt como bode expiatório, visando a manutenção da estabilidade das relações diplomáticas entre EUA e Rússia. Porém, o agente consegue escapar das autoridades na companhia do analista William Brandt (Renner) e comanda uma missão extraoficial para impedir os planos megalomaníacos de Kurt Hendricks (Nyqvist), que enxerga na guerra nuclear uma oportunidade única de renovação da sociedade.
Absurdos, como sempre, são esperados desta série que, caso respeitasse o próprio título, não conseguiria passar sequer do primeiro exemplar. "Tudo o que resta da IMF somos nós quatro e esse vagão", por exemplo, é tão absurdo quando a completa dissolução da agência já que, por razões nunca explicadas, Hunt e sua equipe continuam tendo acesso a um amplo e sofisticado aparato tecnológico sem o qual sua missão não seria possível. Por outro lado, a invencionice dos equipamentos continua sendo uma ótima estratégia para permitir que os personagens contornem grandes obstáculos e, desse modo, tornar as missões possíveis, com destaque para a criativa solução usada por Hunt e Benji para atravessar sem serem vistos um corredor monitorado por um porteiro, com um dispositivo que comprova a inteligência da equipe de produção por levar em consideração as leis fundamentais da ótica em sua concepção. Aliás, mesmo repetindo fórmulas dos filmes anteriores, as cenas de ação têm sempre como pano de fundo desculpas aceitáveis para que ocorram e são executadas suficientemente bem para não parecerem meras repetições de ações já vistas, como o clímax transcorrido em um estacionamento vertical ou as ótimas tomadas (feitas em locação!) de Tom Cruise escalando, correndo ou saltando pelas laterais do Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo.
Voltando a encarnar Ethan Hunt com a mesma energia de 15 anos atrás, Tom Cruise prova que perucas mirabolantes são uma maldição apenas para filmes de Nicolas Cage já que, mesmo remetendo a seu próprio visual visto no pior filme da série (o segundo, comandado por John Woo), confere ao personagem a habilidade de um agente calejado através da frieza em momentos necessários ou de outros detalhes menores como o modo discreto que corre quando não quer levantar suspeitas ou a velocidade que muda seu disfarce de general russo para turista. Já Simon Pegg, um claro alívio cômico, não recai em exageros e faz um ótimo trabalho ao afastar Benji tanto dos agentes superexperientes quanto de nerds inabilidosos que jamais conseguiriam a promoção, enquanto o promissor Jeremy Renner volta a comprovar seu talento e energia em cena e a linda Paula Patton faz excepcionalmente bem seu papel de mulher durona, sensual e impetuosa. Por fim, a pequena participação de Josh Holloway tem como único problema o fato de ser tão curta (apesar de adequada e lógica), já que o talentoso ator alçado à fama em Lost domina com facilidade os poucos minutos que aparece em cena.
Para completar, Missão: Impossível - Protocolo Fantasma ainda brinda o espectador com pequenas surpresas inseridas ao longo da projeção, como breves aparições de personagens conhecidos e uma singela e discreta homenagem aos estúdios Pixar, onde Bird trabalhou em seus dois últimos longas - além, é claro, da icônica cena de Hunt despencando e ficando pendurado de barriga para baixo próximo a algo perigoso, que curiosamente inova ao dispensar cordas e ao dar a chance de um coadjuvante protagonizá-la. E mesmo que o longa não se encarregue de tirar Ethan Hunt de cena em seu desfecho (algo que o filme anterior tentou discretamente fazer), essa inovação pode futuramente servir como uma deixa a ser interpretada como uma passagem de bastões, garantindo a continuidade da franquia sem a necessidade de ser protagonizada por um idoso (Tom Cruise ainda está em forma, mas já é quase um quinquagenário!). O que não seria nada mal, já que Protocolo Fantasma prova que, nas mãos certas, a série ainda tem fôlego para continuar divertindo seu público.
