9 de novembro de 2011

Crítica | Brasil Animado

por Eduardo Monteiro

Brasil Animado, Brasil, 2011 | Duração: 1h15 | Lançado no Brasil em 21 de Janeiro de 2011, nos cinemas | Roteiro de Mariana Caltabiano e Eduardo Jardim | Dirigido por Mariana Caltabiano | Com Eduardo Jardim, Fernando Meirelles, Daiane dos Santos, Ariel Wollinger, Mariana Caltabiano e Fabiano Perez.

Uma palavra que descreve bem Brasil Animado é desânimo. Foi o que senti durante toda a projeção e é o que sinto quando penso que projetos como esse conseguem sair do papel, denegrindo a imagem do cinema nacional. Como já dediquei tempo demais a esse que se vangloria por ser o primeiro filme brasileiro em 3D, serei breve em minhas colocações. Colocando o 3D como parte integrante de sua narrativa, o longa consegue fazer um dos piores usos da tecnologia (senão o pior) e, ao adotar uma estrutura de guia turístico, ofende o investimento tanto do cinéfilo quando do espectador padrão e ainda subestima a grandeza e diversidade do Brasil quando ousa ressaltar estereótipos que apenas reforçam a visão limitada que muitos ainda têm de nosso país.

Dirigido por Mariana Caltabiano (do problemático documentário VIPs - Histórias Reais de um Mentiroso), o filme acompanha (os cachorros?) Stress e Relax (dublados por Eduardo Jardim), dois amigos com personalidades opostas que, perdendo-se entre narradores e protagonistas, decidem percorrer o Brasil em busca do Grande Jequitibá Rosa, que pode trazer grandes riquezas para o primeiro. No entanto, a rasa narrativa é apenas um pretexto para exibir os principais pontos turísticos do Brasil e esboçar pedestres ensinamentos sobre a história do país.

No quesito execução, Brasil Animado é uma produção deplorável, repleta de problemas técnicos diretamente ligados àquilo que supostamente é seu grande atrativo. As cenas passadas em animação em 2D, quando colocadas em 3D, apresentam um óbvio e deselegante problema de profundidade que frequentemente embaralha a mente do espectador, gerando confusão quando objetos que parecem estender-se de um plano mais próximo até outro mais distante (como o próprio chão) estão, na verdade, sempre orientados verticalmente, como folhas de papel sobrepostas. Já as imagens captadas em locação, estáticas ou lentas panorâmicas, apresentam um grave problema de definição, surgindo com uma resolução baixa que prejudica ainda mais seu já deficiente 3D e com um tratamento de imagem amador que consegue a proeza de transformar belas praias em paisagens desinteressantes. Para completar, Caltabiano tenta criar o efeito de "objeto saindo da tela" durante uma cena envolvendo capoeiristas - e, surpresa ou não, é incrivelmente mal sucedida.

Viajando de carro pelo Brasil apenas para exibir a marca de um patrocinador e da própria produtora de Caltabiano, Stress e Relax (para um filme com a proposta que tem, a escolha do idioma dos nomes beira o ridículo) perambulam por ambientes onde as populações locais exercem suas ditas tradições regionais com a sutileza de elefantes, ressaltando estereótipos que cada vez mais deveriam e mereciam ser desconstruídos. Assim, se passam por Minas Gerais, agem como caipiras e entopem-se de pão-de-queijo; se vão para o Amazonas, andam no meio da floresta e interagem com populações indígenas; quando no Rio Grande do Sul, cruzam com pessoas fazendo danças típicas e dizendo "Tchê!"; na Bahia, são guiados por um paspalho com fala lenta, comem acarajés, jogam capoeira e seguem um trio elétrico. Dessa forma, além de ofender indivíduos de todas as culturas brasileiras, o roteiro não consegue disfarçar sua abordagem bairrista, visitando 6 dos 7 estados das regiões Sul e Sudeste (e, obviamente, dedicando muito mais tempo a Rio de Janeiro e São Paulo do que a todos os demais) e apenas o Distrito Federal e mais 4 estados do restante das regiões, focando-se, nesse caso, prioritariamente em praias. Para piorar, Caltabiano aventura-se em abordar eventos da história do Brasil, com a parcialidade necessária para fazer estrangeiros de diferentes nacionalidades soarem como vilões inescrupulosos que vieram ao nosso país tendo como único intuito roubar nossas riquezas.

Contando com uma trilha sonora repetitiva e estrategicamente criada para assombrar o cérebro do espectador por dias, Brasil Animado possui possivelmente os piores diálogos já construídos na história do cinema, fruto da inexperiência, falta de foco e do argumento ridículo de Caltabiano. Repleto de piadas dedutíveis e que fazem Zorra Total soar como Monty Python, o roteiro é uma verdadeira fonte de constrangimento para o espectador, que torce pelo encerramento rápido de cada uma de suas piadas toscas com a mesma intensidade que lamenta a curiosidade de um senhor de idade que, surpreso com uma câmera montada no meio de uma calçada de São Paulo, acabou tornando-se motivo de piada em uma vexatória "dublagem de pensamentos" inserida enquanto o homem observa a aparelhagem e consome tranquilamente seu picolé.

Episódico do início ao fim (como não poderia deixar de ser, segundo sua péssima proposta) e com diversas cenas nas quais a desconexão beira o constrangedor (Daiane dos Santos fazendo uma acrobacia é o melhor exemplo que me vem à mente), Brasil Animado é um filme que poderia perfeitamente ser exibido em escolas primárias por professoras preguiçosas mas que, por fim, chegou aos cinemas colocando o 3D em um patamar excessivamente elevado e expondo sua falta de conhecimento sobre a tecnologia ao comparar-se com Avatar, numa referência desnecessária que condena definitivamente a longevidade do filme - algo que, sinceramente, não me causa o mínimo incômodo.