


Paranormal Activity 3, EUA, 2011 | Duração: 1h24 | Lançado no Brasil em 21 de Outubro de 2011, nos cinemas | Escrito por Christopher Landon. Baseado no filme "Atividade Paranormal", de Oren Peli | Dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman | Com Christopher Nicholas Smith, Lauren Bittner, Jessica Tyler Brown, Chloe Csengery, Dustin Ingram, Maria Olsen, Johanna Braddy, Sprague Grayden, Brian Boland e Katie Featherston.

Escrito por Christopher Landon (um dos roteiristas do segundo filme) com base nos eventos apresentados anteriormente, Atividade Paranormal 3 começa sem vinhetas de produtoras, créditos iniciais ou os tradicionais e tolos agradecimentos às famílias dos mortos, e nos leva diretamente ao fim da gravidez de Kristi, isto é, semanas antes de todos os acontecimentos que vimos nos outros dois filmes, para descobrirmos que Katie havia solicitado à irmã a gentileza de guardar temporariamente algumas caixas com objetos pessoais antigos em seu porão. Saltando até o momento em que a casa de Kristi é "arrombada" e revirada, sem que objetos de valor sejam levados (aqui, uma constatação referente a isso é alterada sem uma razão específica), a família encontra gravações antigas em VHS (concretizando este como um dos found footage mais literais, ainda que, pelo conteúdo das fitas, seja absurdo que estas tenham sido conservadas e estejam intocadas) feitas pelos pais (não lembro do filme mencionar que o homem é padastro das meninas, mas como Katie conversa com o pai por telefone no primeiro filme... bem, a opção tornou-se mais óbvia) de Katie e Kristi durante algumas semanas do longínquo ano de 1988, diante de estranhos eventos iniciados após as garotas começarem a se relacionar com o "amigo imaginário" Toby.
Carregando consigo o fardo de explorar a atividade de uma entidade de natureza mais que conhecida pelo público, Atividade Paranormal 3 perde automaticamente o fator surpresa (bem como ocorria no filme anterior) e, assim, surge com a missão ingrata de criar novos atrativos para sustentar e justificar sua própria existência. Felizmente, a mudança de ambientação da história introduz novos elementos capazes de despertar o interesse do público e alcançar novos patamares do suspense. Em particular, Landon e os diretores Henry Joost e Ariel Schulman (responsáveis pelo ótimo Catfish) divertem-se explorando os obstáculos que Dennis (Smith) enfrenta para driblar as limitações técnicas impostas pela tecnologia da época, como o reduzido tempo de gravação permitido pelas fitas, o zoom lento e barulhento das robustas câmeras e a dificuldade de abranger um campo de visão adequado em determinados cômodos, obrigando o rapaz a bolar uma geringonça envolvendo uma câmera e um ventilador desmontado para alternar a vigilância entre a sala de estar e a cozinha. Essa panorâmica improvisada, aliás, é uma das melhores sacadas do filme: acostumados com planos estáticos, onde qualquer alteração pode ser facilmente notada, somos desafiados e obrigados a redobrar a atenção para conseguir assimilar as novas imagens que surgem no canto da tela a todo momento, de modo a não deixar que nenhuma possível desarmonia passe despercebida, numa investida incrivelmente bem sucedida de suspense. Porém, ainda que a exigência de qualidade do público atual seja uma justificativa razoável para as imagens estarem dotadas de alta resolução e livres de ranhuras, o áudio impuro que tanto beneficiava o suspense do primeiro filme inexiste aqui, dando lugar mais do que nunca a silêncios profundos que remetem a todos aqueles exemplares do gênero que buscam o susto fácil.
O que não se distancia muito do visto aqui. Cientes que barulhos estranhos e objetos que parecem ter vida própria não são mais surpresas para o espectador, os realizadores optam por permear o suspense de sustos e, para isso, bolam uma série de truques para fazer o público saltar da poltrona - alguns honestos e bem sucedidos (como aquele resultante de um corte seco entre um momento silencioso e outro mais barulhento) e outros mais óbvios, porém aceitáveis (como os sustos propositais promovidos por personagens rindo-se do amedrontamento de Dennis). Dando pela primeira vez à mulher o papel cético e ao homem o papel assustado, o longa volta a falhar na falta de nexo de alguns registros feitos com a câmera, como os vários momentos em que Dennis assiste e analisa as próprias filmagens (o que ele pretendia alcançar filmando a si próprio nessa situação) ou então seus incrivelmente lentos e silenciosos passeios por cômodos desertos, sempre que ouve algum som estranho (e que acontece até mesmo em momentos de maior urgência). Por fim, o filme entrega-se de vez a convenções do gênero em seu terceiro ato, inserindo uma figura típica de filmes de terror que transforma seu clímax em uma passagem adequadamente assustadora, mas igualmente decepcionante.
Consertando de uma vez por todas os erros de nunca permitir que seus personagens saíssem de suas casas e de arranjar desculpas esquizofrênicas para que os casais evitassem usar a câmera como um apetrecho em suas vidas sexuais, Atividade Paranormal 3 é irrepreensível em pelo menos um ponto: seu elenco. Enquanto Katie Featherston é apenas uma interessante e ilustre presença, o casal interpretado por Christopher Nicholas Smith e Lauren Bittner transmite uma adequada espontaneidade e Dustin Ingram se sai muitíssimo bem como o Randy, um raro exemplar de personagem engraçado e medroso que consegue não irritar (e protagoniza uma ótima cena em que tensão e humor dividem graciosamente espaço). Por fim, a talentosíssima Jessica Tyler Brown exibe uma naturalidade invejável em absolutamente todas as nuances que a jovem Kristi exige - algo fundamental para que o projeto funcione.
Permitindo que aqueles que conferiram os filmes anteriores identifiquem objetos e situações conhecidas (não poderiam deixar passar a chance de exibir a icônica foto de Katie quando criança sendo tirada), Atividade Paranormal 3 sofre com a decisão tomada pelos produtores de relacionar as continuações com a história do primeiro filme e, para cumprir a promessa de assustar e simultaneamente evitar a repetição, afasta-se mais do que nunca da simplicidade dos elementos que fizeram o longa original ser o sucesso que foi, passando a flertar com o terror tradicional e deixando mais uma vez um final aberto e mal esclarecido - o que já se tornou praticamente uma marca da série e, possivelmente, exigiria um filme inteirinho apenas para esclarecer todos as pontas soltas. Taí uma ideia que, talvez, pudesse gerar uma boa sequência.