



Conviction, EUA, 2010 | Duração: 1h47m05s | Lançado no Brasil em 28 de Outubro de 2011, nos cinemas | Roteiro de Pamela Gray | Dirigido por Tony Goldwyn | Com Hilary Swank, Sam Rockwell, Minnie Driver, Melissa Leo, Peter Gallagher, Ari Graynor, Loren Dean, Conor Donovan, Owen Campbell, Ele Bardha, Bailee Madison, Tobias Campbell, Clea DuVall, Karen Young, Talia Balsam, John Pyper-Ferguson e Juliette Lewis.

Felizmente não é o caso de A Condenação que, mesmo tendo um desfecho forte, não abusa da inteligência do público e não comete o erro de restringir sua narrativa apenas aos trâmites do processo. Dirigido por Tony Goldwyn a partir de um roteiro de Pamela Gray escrito com base em uma incrível história real, o filme inicia-se apresentando-nos à sangrenta cena do crime pelo qual Kenny Waters (Rockwell) viria a ser condenado a prisão perpétua. Convicta de que o irmão não cometeu o assassinato e preocupada com seu estado mental, Betty Anne Waters (Swank) toma uma decisão arriscada e inusitada: entrar para uma faculdade de direito visando advogar pelo irmão e tirá-lo da cadeia. O processo, porém, é repleto de percalços: além de ter que sacrificar etapas de sua vida pessoal, Betty Anne compartilha com Kenny a angústia do longo prazo de espera dos trâmites legais e das burocracias do sistema judiciário e - o que é pior - acaba esbarrando com autoridades poderosas dispostas a colocar politicagem e interesses próprios acima da lei.
Logo de cara, Goldwyn e Gray apresentam com eficiência os elementos fundamentais para contextualizar a história, isto é, o julgamento que levou à prisão de Kenny e a forte ligação que este sempre teve com a irmã. Desse modo, o filme introduz as provas e os depoimentos principais do caso para que tenhamos um panorama geral e entendamos em quais pontos Betty Anne poderá aprofundar-se em sua defesa e, paralelamente, testemunhamos diferentes épocas da trajetória dos irmãos, de modo que quando revemos certa mobília de uma delegacia em um momento posterior do filme, por exemplo, sabemos o significado que ela possui e o por que a câmera para nela por alguns segundos. Essa opção de estudar a trajetória dos personagens é de grande importância, não só por deixar bastante clara a intensa conexão existente entre os irmãos (que justifica a dedicação de Betty Anne), mas também por mostrar que Kenny, sendo ou não inocente, é um homem explosivo, impulsivo e, por mais que não tenhamos conhecimento suficiente para julgá-lo, consideravelmente suspeito e potencialmente perigoso. Em contrapartida, Betty Anne é uma mulher simples, obstinada, dedicada e, acima de tudo, uma mãe amorosa, preocupada em passar bons valores e a importância do companheirismo entre irmãos a seus filhos - com o grande mérito de ser vivida com energia, intensidade e uma ampla gama de nuances por Hilary Swank, desde já perdoada por envolver-se em A Inquilina.
No restante da projeção, os realizadores adotam algumas estratégias para manter o espectador intrigado (principalmente mantendo o suspense sobre a verdade) e, nesse ponto, o filme traz acertos e erros. A obstinação de Betty Anne de encontrar uma certa caixa com provas é algo que o público consegue compreender com facilidade e, portanto, soltar um "Eu sei que essas provas existem em algum lugar" beira o ridículo e acaba diminuindo a expectativa do público. Em outro instante, numa tentativa de contornar o fato de que, diferentemente do público, Betty Anne deveria conhecer a verdade a respeito da participação do irmão no crime (chances de perguntá-lo diretamente não faltaram), o roteiro cai na besteira de fazê-lo levantar diante da irmã a dúvida sobre ter ou não cometido o assassinato ("Não importa se sou culpado ou não, já que sou uma pessoa ruim"), permitindo que a artificialidade da cena se sobressaia. Fora isso, os obstáculos que surgem durante o caminho soam bastante reais, possíveis e complexos, a ponto de nos preocuparmos sinceramente com o andamento do processo e com o futuro de Kenny. Complementando, é curioso que, durante os depoimentos que levaram à condenação do réu, um argumento específico soa bastante insuficiente aos olhos do público atual mas, o que a princípio parecia uma inconsistência de roteiro acaba revelando-se uma decisão possivelmente premeditada, já que ele é retomado posteriormente graças ao avanço da tecnologia do período em que a narrativa se passa.
A Condenação é, portanto, um filme inspirador que não trai o bom senso nem a inteligência do espectador e que ainda consegue instigar reflexões a respeito de questões polêmicas como, por exemplo, pena de morte. O que é um tremendo mérito se consideramos que muitos desses filmes são construídos em torno apenas de uma sensação final pretendida que, aqui, é apenas uma consequência natural dos fatos anteriores - como todo filme deveria ser.
