22 de setembro de 2011

Crítica | Premonição 3

por Eduardo Monteiro

Final Destination 3, Alemanha/EUA/Canadá, 2006 | Duração: 1h32m49s | Lançado no Brasil em 7 de Julho de 2006, nos cinemas | Escrito por Glen Morgan & James Wong. Baseado nos personagens de Jeffrey Reddick | Dirigido por James Wong | Com Mary Elizabeth Winstead, Ryan Merriman, Kris Lemche, Alexz Johnson, Sam Easton, Jesse Moss, Gina Holden, Texas Battle, Chelan Simmons, Crystal Lowe e Amanda Crew.

Pôster nacional e crítica de PREMONIÇÃO 3 (Final Destination 3) Imagine a seguinte situação: um sujeito transitando desatento em frente à sua residência deixa cair um bilhete de loteria que, graças à ação do vento, entra pela janela e pousa em seu colo. Suponha ainda que, nesse mesmo dia, o sorteio do tal concurso seja realizado e você acaba sendo premiado com uma pequena fortuna. Para completar, imagine que os números contidos nesse bilhete são sequenciados, algo como 01 - 02 - 03 - 04 - 05 - 06. Agora responda: quais são as chances de essa série de eventos ocorrer com você? Ora, correntes de vento de fato conseguem elevar objetos leves a alturas razoáveis, ao passo que números sequenciados têm exatamente a mesma probabilidade de serem sorteados que qualquer outra combinação - e, por isso, a resposta correta para a pergunta é: as chances de tudo isso ocorrer são mínimas - mas repare, elas existem. Caos, desordem, entropia ou qualquer que seja a terminologia utilizada caracterizam o princípio da improbabilidade de eventos favoráveis consecutivos acontecerem ao acaso - ou no caso da franquia Premonição, eventos bastante desfavoráveis.

Após as premonições que evitaram mortes na explosão de um avião no primeiro filme e em um acidente rodoviário no segundo, agora vemos a colegial Wendy (Mary Elizabeth Winstead) prevendo um acidente fatal na montanha-russa de um parque de diversões segundos antes de ela mesma partir para uma volta na atração. Apavorada com o realismo da visão, a garota consegue sair do carrinho antes que este deixe a estação e, na confusão, faz com que uma série de amigos também abandonem o brinquedo - que acaba de fato descarrilando e matando alguns de seus colegas, inclusive seu namorado Jason (Moss). Porém, quando duas colegas salvas do acidente acabam falecendo dias depois sob misteriosas circunstâncias, Wendy e o amigo Kevin (Merriman) passam a desconfiar que suas vidas correm risco, já que teriam atrapalhado o "plano da Morte" e esta cedo ou tarde retornaria para concluir o serviço inacabado.

Depois de introduzir o conceito com base no suspense no primeiro filme e explorar o potencial cômico das mortes elaborados no segundo, a franquia finalmente acha o tom ideal nessa terceira parte que, assim como o ótimo Zumbilândia, estabelece um parque de diversões como o cerne de sua trama, num indicativo claro de que, em ambos os filmes, a diversão será a válvula de escape para o suspense. Por isso, por mais fúnebre que possam ser, as mortes vistas aqui não deixam de ter um viés cômico, graças a uma ponta de exagero que encontra equilíbrio no eficiente clima de suspense desenvolvido no restante da projeção. Por outro lado, é admirável que, excetuando uma ou outra ventania, luz piscante ou interferência eletromagnética, boa parte dos eventos que precedem as mortes dos personagens são consequência não exatamente de um plano ambicioso e complexo de uma entidade maligna, mas sim de diversas atitudes displicentes e irresponsáveis tomados pelas vítimas, que assumem a todo momento uma série de riscos - como o desprezo por regras das garotas e do funcionário na clínica de bronzeamento artificial, os precários padrões de segurança do show de fogos de artifício ou o comportamento desleixado dos personagens em um depósito de materiais de construção.

Dessa forma, Premonição 3 é um filme que se diverte explorando até as últimas consequências todas aquelas chances remotas citadas no primeiro parágrafo já que, em última instância, não há indícios concretos de participação de entidades paranormais nas mortes de seus personagens. E esse é um dos grandes méritos dos realizadores, que concebem com competência e riqueza de detalhes os ambientes e as circunstâncias em que as mortes ocorrem, tonando ainda mais interessante, dinâmico e intrigante o conceito introduzido a respeito da possibilidade de prever através de fotografias os causas mortis. E já que toquei nesse assunto, é importante ressaltar que, ainda que ligeiramente episódicos, os óbitos desse exemplar não ferem nenhuma lógica e soam naturais dentro dos limites cabíveis, o que é extremamente positivo e surpreendente para uma franquia como essa. Nesse sentido, o retorno de James Wong (do Premonição original) se revela uma grata surpresa, já que o diretor consegue, com o auxílio do montador Chris Willingham, criar o clima de inquietação através de diversos planos-detalhe em objetos supostamente perigosos que, em última análise, representam muito mais a paranóia de seus personagens (e naturalmente, a nossa também) do que ameaças reais - e de fato, apenas como exemplo, nenhum evento anterior ao embarque na montanha-russa apresenta algum caráter realmente macabro, mas a sensação é transmitida graças à trilha sonora de suspense, à crescente inquietação de Wendy e ao fato de termos consciência de estar assistindo a mais um filme da série Premonição.

Pecando apenas nos efeitos especiais deficitários e em certas inconsistências narrativas oriundas de uma estrutura fechada e limitada, Premonição 3 é um esforço bem sucedido para dar uma cara nova e definitiva à franquia, resultado de uma acertada lapidação do que já tinha sido testado nos dois primeiros filmes. É uma pena, portanto, que necessidades comerciais hollywoodianas enxerguem no "modo Jogos Mortais de se fazer filmes" uma mina de ouro. Vide Premonição 4.