20 de setembro de 2011

Crítica | Missão Madrinha de Casamento

por Eduardo Monteiro

Bridesmaids, EUA, 2011 | Duração: 2h10m22s | Lançado no Brasil em 23 de Setembro de 2011, nos cinemas | Escrito por Annie Mumolo & Kristen Wiig | Dirigido por Paul Feig | Com Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Wendi McLendon-Covey, Ellie Kemper, Greg Tuculescu, Jill Clayburgh, Michael Hitchcock, Rebel Wilson, Matt Lucas, Richard Riehle, Joe Nunez, Terry Crews.

Antes de querer fazer rir, uma comédia deve conseguir entreter seu público - e esse é o grande mérito de Missão Madrinha de Casamento. Surgindo como um raro exemplar de comédia dominada por personagens femininas interessantes e repletas de atitude (algo já sugerido pela pose imponente das mulheres no pôster), o filme consegue prender a atenção do espectador ao longo de suas mais de duas horas de duração e marca o retorno aos bons ares do produtor Judd Apatow que, após viabilizar a produção dos terríveis Ano Um e O Pior Trabalho do Mundo, traz ao grande público uma comédia romântica inovadora e surpreendente, que foge dos clichês de filmes do gênero (especialmente daqueles que envolvem preparativos matrimoniais) e investe em uma narrativa construída em torno de um argumento consistente e original concebido pela atriz Kristen Wiig em parceria com Annie Mumolo.

Ó céus, como eu gostaria que tudo isso fosse verdade!

Entretanto, sob o comando de Paul Feig (Menores Desacompanhados), o filme traz a derrotada Annie (Wiig) tentando se reerguer após o término de seu namoro e a falência de sua confeitaria, sendo então obrigada a dividir um apartamento com um casal de irmãos bizarros e sem traquejo social, a trabalhar em um emprego arranjado do qual não gosta e a circular com um carro velho caindo aos pedaços. Enquanto procura inutilmente um homem interessado em um relacionamento sério, a mulher recebe a inesperada notícia de que sua melhor amiga Lillian (Rudolph) acaba de ficar noiva. Porém, a missão de encarnar a madrinha de casamento não será uma tarefa fácil para psicologicamente abalada Annie que, durante os preparativos para a grande cerimônia, terá de conviver com as damas de honra Megan (McCarthy), cunhada da noiva, Becca (Kemper), uma amiga do trabalho, a prima Rita (McLendon-Covey) - e o que é pior - disputar as atenções com a bela e rica Helen (Byrne), que pode ameaçar anos e mais anos de amizade entre a dupla principal.

Se minha sinopse não parece muito original, suponho que você não espera que o filme o será. Da mesma forma, também acredito que não contará pontos para o longa se eu acrescentar que, durante esse processo, Annie conhece um homem com quem possui uma evidente empatia mas, demora (o tempo conveniente para o roteiro) para se sentir atraída por ele, ou ainda se eu disser que cada mulher representa um estereótipo (santinha ingênua e infantilizada; mãe de família ninfomaníaca; mulher rica, porém mal-amada; e por aí vai) e, em alguns casos, essas personagens secundárias além de não demonstrarem ter a mínima intimidade com a noiva, não possuem função alguma no arco geral da narrativa, de modo que acabam completamente descartadas e inutilizadas no desfecho. Para completar, prefiro não acreditar que alguém ainda se sinta realizado ao assistir a um longa que utiliza escatologia como uma forma gratuita e histérica de se fazer humor, ou então que necessite usar recorrentes stablishing shots para informar o espectador sempre que a protagonista se encontra em casa, como se o próprio cenário ou a presença marcante de seus colegas de quarto (se Annie estiver em casa, é fato que eles irão aparecer) não fossem o bastante para transmitir essa informação.

Ainda por cima, fico perplexo quando tento compreender a razão pela qual as roteiristas e o diretor optaram por prolongar tanto certas sequências que, de certo modo, estavam até funcionando antes de se excederem. A disputa entre Annie e Helen pelo discurso mais emocionante e marcante na festa de noivado de Lillian estava até eficiente, transmitindo com simplicidade e sutileza o princípio de desconforto da protagonista com o surgimento inesperado de uma adversária - mas acaba se estendendo demais, exigindo que situação adquira contornos irreais ou, no mínimo, improváveis. A sequência dentro de um avião, da mesma forma, nos presenteia com um vai-e-vem incessante e tedioso, revelando-se divertida apenas na fobia de uma passageira (vivida em uma ponta pela roteirista Annie Mumolo) e ainda por cima anula a disputa a respeito de quem teria tido a melhor ideia para a despedida de solteira, tópico este que parecia ter alguma importância para a narrativa. Por outro lado, o momento repetitivo e razoavelmente extenso em que Annie tenta de diversos modos hilários atrair a atenção de um policial, ainda que absurdo, se revela um dos poucos instantes genuinamente divertidos do longa e, por isso, merece ser destacado.

Com todos esses problemas, não é de se espantar que o elenco não desempenhe interpretações particularmente memoráveis. Roteirizando e produzindo o longa, Kristen Wiig finalmente consegue um papel de maior destaque em uma comédia mas, ironicamente, não tem muitas oportunidades de utilizar seu moderadamente eficiente e particular timing cômico, já que sua personagem permanece boa parte do tempo tentando tolamente se sobressair diante da presença e disponibilidade progressiva de Helen e evitar que, no processo e em função dos esforços, seus conflitos internos extravasem. Da mesma forma, Maya Rudolph encarna uma personagem ora dotada de personalidade forte e ora sem a mínima percepção do que acontece a seu redor, inconstância essa estritamente necessária para que o jogo de gato e rato entre Annie e Helen dure tanto tempo. Por outro lado, suponho que Rose Byrne, uma atriz em plena evolução, ao menos tenha se divertido durante a composição da antagonista Helen, já que a personagem de Ellie Kemper mais parece uma ligeira variação da secretária Erin do seriado The Office, Chris O'Dowd vive o policial Nathan Rhodes com o carisma necessário mas sem grandes oportunidade e, finalmente, a Megan vivida por Melissa McCarthy se revela uma versão feminina quase literal do personagem vivido por Zach Galifianakis em Se Beber, Não Case!, sem jamais surgir suficientemente interessante ou divertida.

O que naturalmente nos traz à comparação surgida durante a fase de divulgação de Missão Madrinha de Casamento, que sugeria que o longa seria uma versão de Se Beber, Não Case! estrelada por mulheres. Bom, a verdade é que ainda falta muito arroz e feijão para que Feig, Wiig e Mumolo aprendam que jogar dois ou três conflitos às vésperas de um casamento e somar a isso um personagem gordo, de sexualidade questionável e atitudes imprevisíveis e impensáveis não são elementos suficientes para se criar uma boa comédia.