por Eduardo Monteiro








Diary of a Wimpy Kid: Rodrick Rules, EUA, 2011 | Duração: 1h39m33s | Lançado no Brasil em 16 de Setembro de 2011, nos cinemas | Roteiro de Gabe Sachs e Jeff Judah. Baseado no livro de Jeff Kinney | Dirigido por David Bowers | Com Zachary Gordon, Devon Bostick, Robert Capron, Rachael Harris, Steve Zahn, Peyton List, Karan Brar, Laine MacNeil, Grayson Russell, Connor Fielding, Owen Fielding, Fran Kranz, Andrew McNee e Terence Kelly.

Adaptado por Gabe Sachs e Jeff Judah a partir do segundo livro da série escrita por Jeff Kinney (que faz uma ponta como pai do interesse romântico do protagonista), o roteiro de Diário de um Banana 2: Rodrick é o Cara! acompanha mais um ano na vida da família Heffley sob a ótica do filho do meio Greg (Gordon), que acaba de voltar às aulas após o fim das férias de verão. Antes perseguido por fazer parte da turma mais jovem da escola e tendo superado o incômodo da exposição negativa resultante da amizade com Rowley (Capron), o garoto agora terá que lidar com as diferenças com o irmão mais velho, Rodrick (Bostick), depois que seus pais, Susan (Harris) e Frank (Zahn), se deram conta que a relação entre os irmãos não estava tomando o rumo desejado. Assim, após infringirem em conjunto uma regra imposta pelos progenitores, os irmãos desenvolvem uma inesperada harmonia, que permite, dentre outras coisas, que o mais velho e experiente compartilhe com o mais novo "os segredos da vida fácil", incluindo, por exemplo, seus métodos para manipular os pais. Ainda assim, o desventurado Greg não consegue evitar se meter em confusões enquanto tenta conquistar uma garota do colégio ou fazer um vídeo que vire sucesso na internet.
Repetindo o ótimo desempenho visto no primeiro filme, o promissor e carismático Zachary Gordon carrega mais uma vez com segurança invejável a função de protagonista, exibindo uma expressividade admirável ao viver Greg como uma criança comum que tenta a todo custo levar uma vida normal e tranquila, ainda que uma galeria de personagens exóticos que o cercam impeça, de forma involuntária ou não, que isso aconteça. Robert Capron, mesmo com uma participação menor, também se sai muito bem como o sincero e bem-intencionado Rowley, enquanto Devon Bostick ganha tempo e espaço para desenvolver Rodrick que, mais do que um irmão mais velho provocador, luta pela notoriedade de sua banda e vive os próprios conflitos, adequados à sua idade e não menos importantes que os dos demais. Completando o elenco jovem, Laine MacNeil e Grayson Russell surgem muito mais divertidos com doses homeopáticas da durona Patty e do exótico Fregley, enquanto Peyton List tenta viver Holly, a bela colega de classe aparentemente inalcançável, da forma mais natural possível. Por fim, o pequeno Karan Brar não se sai tão bem, dando vida de forma (novamente) artificial ao indiano Chirag que, ainda por cima, protagoniza a subtrama mais deslocada e aborrecida da narrativa.
No entanto, o destaque dessa vez inegavelmente recai sobre a bela Rachael Harris, que ganha a chance de brilhar como a mãe dos garotos: casada com um bobalhão (Steve Zahn, que também não faz feio e se sai maravilhosamente bem), Susan se vê obrigada a assumir o posto de chefe de família em tempo integral, cuidando praticamente sozinha do marido e de três filhos em fases distintas e ainda tendo que conciliar o papel de mãe e esposa com o trabalho como colunista de um jornal. Assim, ao vê-la dançando solitária e alegremente em um evento escolar de Greg, não é um equívoco supor que sinta uma imensa falta da própria juventude, possivelmente sacrificada quando se viu obrigada a iniciar uma família e construir um lar ainda muito jovem. Da mesma forma, é tocante vê-la lutando contra suas próprias regras no intuito de preservar a amizade recém-desenvolvida entre os filhos ou então confessando que um de seus raros momentos de privacidade é quando vai ao banheiro e tem a oportunidade de passar a tranca na porta, deixando seus problemas temporariamente do lado de fora. Também nesse sentido, é possível dizer que há uma certa melancolia implícita em suas repetidas perguntas a Greg a respeito de seu interesse por Holly (List), como se notasse que já não possui mais controle sobre a vida do filho (e, de certo modo, antecipasse sua futura saída de casa) sempre que recebe respostas esquivas do rapaz.
Por outro lado, uma das coisas que mais encantam em Diário de um Banana 2 é a abordagem inocente dada às situações vividas por Greg, o que pode ser claramente percebido durante a festa promovida por Rodrick que, mesmo seguindo o típico estilo colegial americano (com direito a copo vermelho e o escambau), não apresenta o consumo de álcool e, ainda por cima, faz isso parecer algo normal e possível de acontecer. Assim, quando uma montagem ao estilo daquela vista nos créditos finais de Se Beber, Não Case! é produzida aqui como compacto da festa, conseguimos nos divertir não por atitudes inconsequentes de pessoas alcoolizadas, mas sim por constatar a alegria genuína de jovens se esbaldando em meio a refrigerantes, salgadinhos e outras guloseimas. Por outro lado, cientes da existência de um público adulto, os roteiristas também não se intimidam em soltar algumas sutis sugestões sexuais, como quando Frank proíbe que os filhos recebam pessoas em casa durante uma viagem do casal, sendo que o recado é direcionado com especial ênfase a um Rodrick visivelmente nervoso. Da mesma forma, o longa é particularmente eficiente em explorar com bom humor certos aspectos naturais de uma dinâmica familiar, seja através do tratamento diferenciado dado ao caçula Manny (vivido pelos gêmeos Fielding), que esbanja esperteza ao usar a mesma justificativa dada pelos próprios pais para suas peripécias ("Eu só tenho 3 anos") como pretexto para fazer coisas erradas, ou da forma intensa como Susan reage a uma briga entre Greg e Rodrick, através de um sermão que, em uma ótima montagem, parece render ao longo de vários dias, surpreendendo até mesmo os irmãos, que se assustam quando a mãe abruptamente retoma o assunto na mesa de jantar ou no sofá da sala de TV.
Embalado por uma deliciosa trilha sonora, Diário de um Banana 2 também supera o antecessor por conseguir inserir de forma mais orgânica as rápidas animações com desenhos de traços simples que remetem ao diário do protagonista (e naturalmente ao livro que deu origem ao filme), assim como as memórias ou os delírios imaginativos de Greg, com destaque para o hilário devaneio hippie do garoto após sua mãe sugerir despretensiosamente que aprender a tocar um instrumento é fundamental caso um dia decidam formar uma banda familiar. E se em certos momentos o humor não exibe sua melhor forma (o modo como Rodrick acorda seletivamente não faz sentido e... bem, não é engraçado), logo são compensados por outras investidas muito mais inspiradas, como a genial passagem em que Greg, orientado a sempre dizer verdades, obriga a mãe a sair de casa para que ele possa dispensar uma ligação telefônica indesejada sem ter que mentir para o interlocutor, ilustrando de forma lúdica as dificuldades de transferir valores para os filhos durante a criação.
Capaz de fazer boa parte do público se sentir ultrapassado por saber utilizar um telefone de disco, Diário de um Banana 2 acaba tropeçando em sua metade final, quando apela para um conflito óbvio e utiliza um show de talentos da escola para amarrar sua história da forma mais convencional e previsível possível, cedendo a necessidades pedagógicas provavelmente oriundas da obra original de Kinney. Mesmo assim, pela experiência adorável que este filme representa, o único clichê que realmente chega a incomodar é a forma como a franquia vem sendo insistentemente esnobada no Brasil (o primeiro filme foi lançado direto - e apenas - em DVD). E espero sinceramente que o lançamento (mesmo limitado) dessa divertida segunda parte nos cinemas seja um passo decisivo contra esta ultrajante ignorância - e que não se repita quando Greg viver seus Dias de Cão, a próxima aventura da série.
Obs.: há uma cena adicional durante os créditos finais.
