

Hoodwinked Too! Hood VS. Evil, EUA, 2011 | Duração: 1h26m22s | Lançado no Brasil em 2 de Setembro de 2011, nos cinemas | Escrito por Cory Edwards, Todd Edwards, Tony Leech e Mike Disa | Dirigido por Mike Disa | Com as vozes de Hayden Panettiere, Glenn Close, Patrick Warburton, Joan Cusack, Bill Hader, Amy Poehler, Cory Edwards, David Ogden Stiers, Martin Short, Brad Garrett, Andy Dick, Cheech Marin, Wayne Newton, Tommy Chong, David Alan Grier, Heidi Klum e Benjy Gaither.
Dinheiro não é tudo no mundo do cinema. Prova disso é Deu a Louca na Chapeuzinho, longa de animação dotado de qualidade técnica visivelmente deficiente mas que, mesmo assim, conseguiu despertar o interesse do público e da crítica no mesmo ano em que os gigantes Blue Sky, DreamWorks Animation, Aardman, Walt Disney Feature Animation e Tim Burton lançavam seus Robôs, Madagascar, Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais, O Galinho Chicken Little e A Noiva-Cadáver, respectivamente. Orçada em apenas US$15 milhões (para animações computadorizadas, é um valor irrisório), a subversão do conto de Chapeuzinho Vermelho rapidamente superou comparações com o tematicamente semelhante Shrek e ganhou vida própria, equiparando-se ou até mesmo superando alguns dos títulos supracitados - resultado da inserção de personagens simpáticos ou hilários em uma narrativa simples que, mesmo longe do brilhantismo, era interessante o suficiente para não ofender a memória do clássico japonês Rashomon, no qual sua estrutura é claramente inspirada. Naturalmente, diante de resultados de bilheteria que superavam em mais de três vezes o seu custo de produção, uma sequência para o sucesso foi anunciada rapidamente, contando, então, com o dobro do orçamento.
Mas dinheiro não é tudo no mundo do cinema. Concretizando sua tímida evolução técnica mais no âmbito da quantidade do que no da qualidade (mesmo tendo sido lançado seis longas primaveras após o original), Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também deixa a desejar no quesito roteiro que, preso ao que foi deixado em aberto pelo desfecho frouxo e ignorando o potencial cômico dos personagens mais divertidos do primeiro filme, investe em uma estrutura tradicional de leve sátira à espionagem (Carros 2 também não foi muito feliz nesse sentido), com uma trama insossa e pouco cativante dependente, por exemplo, de pancadas e tombos para gerar humor. Roteirizado pelos mesmos Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech do original, com o acréscimo do diretor e roteirista Mike Disa, o filme acompanha a equipe da Agência de Espionagem Felizes Para Sempre formada por Lobo Mau (Warburton), Vovózinha (Close), pelo esquilo hiperativo Ligeirinho (Edwards) e liderada pela jovem Chapeuzinho (Panettiere), em uma missão de resgate dos indefesos João (Hader) e Maria (Poehler) das garras da malévola bruxa Verushka (Cusack). Mas uma reviravolta no famoso conto muda o rumo da história, que acaba trombando com outros personagens de contos conhecidos, como os Três Porquinhos e o Gigante do Pé-de-Feijão.
Ainda que acerte na concepção de alguns novos personagens (como os vilões, curiosamente divertidos e ambíguos, e especialmente Verushka, que muda gradativamente a aparência para acompanhar sua evolução dentro da trama, com o bom uso de sombras e silhuetas), o fato é que Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também decepciona por não conseguir driblar suas próprias limitações técnicas, executando "movimentos de câmera" rígidos e travados (mesmo quando tenta inovar), com enquadramentos burocráticos que, muitas vezes e possivelmente de forma não intencional, remetem a jogos de video game dos mais diversos tipos (repare, por exemplo, como trechos da luta de Chapeuzinho na ponte parecem ter saído diretamente de um Street Fighter ou Mortal Kombat). Enquanto isso, a movimentação dos personagens surge, em alguns momentos, ainda mais artificial que antes (como a caminhada da protagonista pela sede da Irmandade do Capuz) - e é curioso notar que justamente Ligeirinho, um personagem altamente beneficiado pelos movimentos abruptos e limitados do primeiro longa, aqui move-se de forma inadequadamente fluida. Para completar, a decisão de transferir boa parte da ação para uma cidade grande contemporânea não só quebra o charme da ambientação de um conto (no primeiro filme, os elementos modernos pontuais não traziam prejuízos nesse sentido), como também apresenta uma série de desafios que os realizadores não conseguem vencer, como animar a ação vista segundo plano de forma natural e convincente.
Quanto às cenas de ação, Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também não é bem sucedido, tanto pela falta de imaginação da coreografia e dos cenários (a perseguição pela floresta, concluída em um campo de moinhos, é terrivelmente anti-climática) quanto pelas atitudes incoerentes dos personagens (por que, em determinado instante, Chapeuzinho não faz uso de seu gorro como pára-quedas, se já o havia feito no primeiro filme e, posteriormente aqui mesmo na continuação, também acaba o fazendo?). Isoladamente, a fuga pé-de-feijão abaixo é um exemplo oposto: eficiente e bem realizada, ainda é beneficiada pela criativa concepção da monumental e artificial planta - e mesmo não tendo visto a versão em 3D, imagino que esta seja uma das poucas cenas em que a terceira dimensão valha a pena.
No entanto, o vazio deixado pelo carisma evadido dos personagens é um ponto em que os realizadores pecam gravemente. Chapeuzinho, Vovózinha e Lobo Mau, como o trio principal, não são interessantes o bastante para carregar o filme; Ligeirinho nem parece o mesmo personagem que, no primeiro filme, era capaz de gerar crises de riso com atitudes inocentes e bem intencionadas; e os demais, como o lenhador Kirk, a Harpa cantante, o Gigante e o chefe de polícia Urso, foram relegados a pontas apagadas ou até mesmo rebaixados a figuração. Para completar, o possível responsável pelas maiores risadas do longa original aqui ganha uma função semelhante à de Scrat em A Era do Gelo: inexplicavelmente volátil e aparentemente imbatível, o bode cantor Japeth (Gaither) surge em participações esporádicas que só conseguem despertar a lembrança e a frustração do espectador.
Tentando a todo custo ser engraçadinho através de, por exemplo, sotaques regionais ou metalinguagens forçadas (a "interrupção" e "recapitulação" de um flashback), os realizadores não se dão conta (ou talvez não se importem) de que abrem imensos buracos no roteiro enquanto preenchem o filme com piadas e gags: qual a graça, por exemplo, em inserir uma placa indicando que os personagens encontram-se no 1039º andar de um prédio se, a princípio, a construção não parece alta o suficiente para ter tantos pavimentos? Ou então, que porcaria de Irmandade é essa que, supostamente rigorosa na proteção de uma receita importante, passa 60 anos sem perceber que esta fora roubada? Ainda, a inexperiente produtora incorpora uma das mais inadequadas manias da gigante DreamWorks e espalha uma série de referências pop pela história gratuitamente, de menções a redes sociais virtuais até recriações de cenas de Os Embalos de Sábado à Noite ou O Silêncio dos Inocentes (e é interessante notar que, coincidência ou não, é durante esta singular aparição do vilão do primeiro filme que surge a única pista supostamente discreta a respeito do desvendamento do antagonista deste novo e, da mesma forma que as múltiplas dicas que nos levavam a antecipar as reais intenções do Coelho no longa anterior, esta aqui é de uma obviedade alarmante). E não há como deixar de citar o incômodo tremendo que senti quando, numa atitude assustadoramente recorrente em filmes inseguros sobre sua própria qualidade, nessa mesma cena é dita uma fala que soa como uma prepotente tentativa dos roteiristas em provar o valor de sua obra: "Ninguém mais lê livros. Filmes são muito melhores - especialmente continuações".
Mas, ao esquecer a falta de credibilidade do personagem que a profere, os roteiristas acabaram dando um tiro nos próprios pés - e, nessa hora, a vontade que dá é de perguntar de volta: "Será mesmo?".
