31 de agosto de 2011

Crítica | Amor a Toda Prova

por Eduardo Monteiro

Crazy Stupid Love, EUA, 2011 | Duração: 1h58m06s | Lançado no Brasil em 26 de Agosto de 2011, nos cinemas | Escrito por Dan Fogelman | Dirigido por Glenn Ficarra e John Requa | Com Steve Carell, Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Analeigh Tipton, Jonah Bobo, Marisa Tomei, Kevin Bacon, Joey King, John Carroll Lynch, Beth Littleford, Liza Lapira, Josh Groban.

"Se você não riu copiosamente com Cilada.com ou Quero Matar Meu Chefe, então você não tem senso de humor". Caso não contasse com o pomposo termo "copiosamente", esta fala certamente poderia ser atribuída a uma daquelas pessoas que, ávidas por risadas fáceis, se diverte com puns, travestis, palavrões aleatórios, inconsequências alcoolicas ou genitálias avantajadas ou diminutas, como se tudo isso fosse, por si só, histericamente engraçado. Entretanto, há casos em que boa parte dos momentos cômicos de um longa não são reagidos com tamanho entusiasmo pelo grande público - e é curioso constatar que geralmente podemos atribuir esse fato muito mais a existência de uma plateia cada vez mais acostumada com e sedenta por um humor mais óbvio e direto do que a deméritos ou ineficiência cômica da produção. Apenas como exemplo, cito minha risada ecoando solitária pela sala 8 daquele cinema quando, durante uma cena de Amor a Toda Prova, a personagem de Julianne Moore expõe sua suspeita de estar passando por uma crise de meia-idade e acaba confessando de forma ligeiramente torturada e enlouquecida que foi escondida assistir ao último filme de Crepúsculo e que ele de fato é bastante ruim.

Dirigido pela dupla Glenn Ficarra e John Requa (O Golpista do Ano) e roteirizado por Dan Fogelman (Carros, Enrolados), o longa inicia-se com o pedido de divórcio de Emily (Moore) após vários anos de casamento com Cal (Carell). Atordoado com a notícia, o homem enfia-se em um bar e, entre bebidas e sonoras lamentações, é abordado pelo confiante e sedutor Jacob (Gosling), que oferece assessorar Cal a superar o fim do relacionamento, tornar-se um homem mais atraente e voltar a aproveitar a vida. Enquanto isso, Robbie (Bobo), o filho mais velho do casal, vê sua família ruir ao mesmo tempo que tem de aprender a lidar com decepções amorosas por não ser correspondido pela babá da família, Jessica (Tipton), uma adolescente quatro anos mais velha que ele e que também alimenta um amor platônico por uma pessoa mais velha. Paralelamente, conhecemos um pouco da vida de Hannah (Stone), uma garota que mantém um relacionamento frio e instável com o namorado Richard (Groben) e que, em certo momento, passa a pertencer ao seleto grupo de mulheres que alguma vez na vida já esnobaram as investidas de Jacob.

Ainda que não seja particularmente notável do ponto de vista narrativo, Amor a Toda Prova consegue sobressair-se especialmente graças a seu excelente elenco, liderado pelo sempre ótimo Steve Carell que, mais uma vez (lembre-se de Pequenas Miss Sunshine ou Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada), contém boa parte dos histrionismos vistos em produções como Um Jantar Para Idiotas ou no seriado The Office (exageros, no entanto, adequados em ambos os casos) para conceber um personagem sensível e romântico, mas também terrivelmente desgastado e amargurado pela rotina do casamento e do trabalho. Julianne Moore também não decepciona e, mesmo com um papel menos complexo, consegue criar momentos reveladores sobre sua personagem através, por exemplo, de sua expressividade durante um telefonema para Cal feito diretamente "do porão" ou o modo sutil como demonstra seu desconforto na companhia do amante vivido por Kevin Bacon, o grande coadjuvante de luxo do longa. Já Ryan Gosling, em uma de suas raras participações em grandes produções e fugindo de seus tradicionais papéis de homens problemáticos, consegue o quase milagre de transformar um verdadeiro clichê ambulante (o cafajeste riquinho e machista que acaba se apaixonando por uma garota especial) em uma figura carismática e plenamente capaz de despertar a empatia do público. Fechando o elenco principal, Emma Stone, em uma participação menor, consegue encantar com sua beleza e simpatia (e também a habilidade de não transformar uma cena de embriaguez em uma enxurrada de vergonha alheia), enquanto a bela Marisa Tomei encarna de forma bastante segura e descontraída uma mulher fogosa e instável, capaz de ofuscar com facilidade todo o apelo de outra profissional do ramo.

Mas, evidentemente, de nada adiantaria o admirável elenco caso não houvesse um roteiro eficiente conduzindo suas atuações - e o roteirista Dan Fogelman é particularmente competente ao construir situações fundamentalmente formulaicas de forma natural e espontânea, sem soarem ofensivas ou forçadas, ou ao conceber pequenas reviravoltas, coerentes e bem localizadas, que não buscam ser uma atração por si só, mas sim uma forma de colocar-nos na situação de desconhecimento dos personagens, convergir situações e, ainda, ajudar a movimentar a trama. Porém, nem tudo são flores: a mudança radical de um personagem (ressaltada por um travelling que mostra seu modus operandi em um bar) é forçada e abraça sem dó as convenções estabelecidas para a situação, enquanto o absurdo conselho que certa personagem recebe (e segue) sobre fotos sensuais serve apenas para fomentar uma subtrama deslocada e, na maior parte das vezes, aborrecida. Por fim, não há como ignorar a incapacidade de Fogelman de criar situações inéditas no roteiro já que, de modo geral, nenhuma das passagens vistas aqui pode ser considerada verdadeiramente original - o que, ainda assim, é perdoável, graças à eficiência de outros elementos que valorizam o conjunto da obra.

Trabalhando pela segunda vez na direção, Glenn Ficarra e John Requa revelam-se ótimas escolhas para a função, conferindo um bom ritmo à produção e demonstrando segurança e criatividade notáveis, mais que bem-vindas ao projeto. Conscientes do poder que têm em mãos, os diretores utilizam com talento e criatividade o melhor recurso disponível para contar bem a história e transmitir ou ressaltar sensações sobre o que está sendo visto na tela: a câmera. Repare, por exemplo, como em determinada sequência, o enquadramento e o posicionamento de Cal e Jacob são fielmente repetidos em diferentes ambientes, enfatizando o desconforto e a sensação de tempo estendido do primeiro diante da nudez do segundo, ou então como os diretores aproximam suavemente os personagens de Carell e Moore durante uma conversa em um corredor da escola de Robbie, permitindo que os dois dividam o mesmo quadro nos planos e contra-planos somente após o homem confessar que sente falta da mulher. Ainda, com a colaboração do montador Lee Haxall e dos compositores Christophe Beck e Nick Urata, a direção de Ficarra e Requa oferece também sua contribuição à definição da personalidade dos personagens, como o plano que ressalta a imponência e confiança de Jacob na sacada de um shopping ou a montagem clichê do rapaz e Cal fazendo compras, divertida por seu dinamismo. Para completar, a sequência que mostra a aproximação dos personagens de Gosling e Stone merece destaque por expôr com competência o casal abrindo mão lentamente da impessoalidade da sua até então breve relação - sem, contudo, deixar de divertir o público (a cena rápida da cadeira de massagem e a referência a Dirty Dancing - Ritmo Quente colaboram nesse ponto)

Não resistindo à tentação de encerrar-se com um discurso sentimentalóide (mas honesto) de um personagem diante de uma grande e silenciosa audiência, após estender-se um pouco que o necessário, Amor a Toda Prova cumpre bem a função de entreter e divertir sem, contudo, colocar as piadas acima da inteligência do espectador. É um filme que ganha o público com seus diálogos divertidos, como aquele em que um colega de trabalho de Cal faz seu divórcio parecer algo bom simplesmente por não ser câncer. E que fique claro que, quando citei comédias ruins no início desse texto, não foi com a intenção de, assim como no diálogo citado, fazer Amor a Toda Prova parecer bom apenas porque os outros são piores, mas sim de concluir que não só roteiristas como Bruno Mazzeo ou Rosana Ferrão ainda têm muito a aprender, como também que cabe ao público buscar melhores opções de humor e entender que algo um pouco mais sofisticado não significa menos divertido. E nada mais justo que, ao pagar o salgado preço do ingresso, você seja recompensado com algo que vá além do mau gosto de palavras obscenas, flatos ou membros grotescos.

Como (não) criar um pôster original

Mais um da série: "Eu já vi esse filme pôster antes". Estrelando: Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck., 2005) e Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), ambos dirigidos, estrelados e estampados por George Clooney.


Não consegue ver as semelhanças? Então retire-se imediatamente do meu blog note as singulares diferenças a partir do passo-a-passo do processo em que eu, usando o Paint do computador da faculdade, transformei o pôster de Tudo Pelo Poder em uma variação (atores, títulos e fontes nem sempre são os mesmos) daquele de Boa Noite e Boa Sorte.

1º Passo: inverta a imagem.


2º Passo: troque as cabeças flutuantes de posição e redimensionalize-as tanto quanto possível ou viável, de acordo com a tecnologia que estiver usando e o tempo e paciência que tiver disponível.


Está pronto!

30 de agosto de 2011

Crítica | Deu a Louca na Chapeuzinho 2

por Eduardo Monteiro

Hoodwinked Too! Hood VS. Evil, EUA, 2011 | Duração: 1h26m22s | Lançado no Brasil em 2 de Setembro de 2011, nos cinemas | Escrito por Cory Edwards, Todd Edwards, Tony Leech e Mike Disa | Dirigido por Mike Disa | Com as vozes de Hayden Panettiere, Glenn Close, Patrick Warburton, Joan Cusack, Bill Hader, Amy Poehler, Cory Edwards, David Ogden Stiers, Martin Short, Brad Garrett, Andy Dick, Cheech Marin, Wayne Newton, Tommy Chong, David Alan Grier, Heidi Klum e Benjy Gaither.

Dinheiro não é tudo no mundo do cinema. Prova disso é Deu a Louca na Chapeuzinho, longa de animação dotado de qualidade técnica visivelmente deficiente mas que, mesmo assim, conseguiu despertar o interesse do público e da crítica no mesmo ano em que os gigantes Blue Sky, DreamWorks Animation, Aardman, Walt Disney Feature Animation e Tim Burton lançavam seus Robôs, Madagascar, Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais, O Galinho Chicken Little e A Noiva-Cadáver, respectivamente. Orçada em apenas US$15 milhões (para animações computadorizadas, é um valor irrisório), a subversão do conto de Chapeuzinho Vermelho rapidamente superou comparações com o tematicamente semelhante Shrek e ganhou vida própria, equiparando-se ou até mesmo superando alguns dos títulos supracitados - resultado da inserção de personagens simpáticos ou hilários em uma narrativa simples que, mesmo longe do brilhantismo, era interessante o suficiente para não ofender a memória do clássico japonês Rashomon, no qual sua estrutura é claramente inspirada. Naturalmente, diante de resultados de bilheteria que superavam em mais de três vezes o seu custo de produção, uma sequência para o sucesso foi anunciada rapidamente, contando, então, com o dobro do orçamento.

Mas dinheiro não é tudo no mundo do cinema. Concretizando sua tímida evolução técnica mais no âmbito da quantidade do que no da qualidade (mesmo tendo sido lançado seis longas primaveras após o original), Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também deixa a desejar no quesito roteiro que, preso ao que foi deixado em aberto pelo desfecho frouxo e ignorando o potencial cômico dos personagens mais divertidos do primeiro filme, investe em uma estrutura tradicional de leve sátira à espionagem (Carros 2 também não foi muito feliz nesse sentido), com uma trama insossa e pouco cativante dependente, por exemplo, de pancadas e tombos para gerar humor. Roteirizado pelos mesmos Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech do original, com o acréscimo do diretor e roteirista Mike Disa, o filme acompanha a equipe da Agência de Espionagem Felizes Para Sempre formada por Lobo Mau (Warburton), Vovózinha (Close), pelo esquilo hiperativo Ligeirinho (Edwards) e liderada pela jovem Chapeuzinho (Panettiere), em uma missão de resgate dos indefesos João (Hader) e Maria (Poehler) das garras da malévola bruxa Verushka (Cusack). Mas uma reviravolta no famoso conto muda o rumo da história, que acaba trombando com outros personagens de contos conhecidos, como os Três Porquinhos e o Gigante do Pé-de-Feijão.

Ainda que acerte na concepção de alguns novos personagens (como os vilões, curiosamente divertidos e ambíguos, e especialmente Verushka, que muda gradativamente a aparência para acompanhar sua evolução dentro da trama, com o bom uso de sombras e silhuetas), o fato é que Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também decepciona por não conseguir driblar suas próprias limitações técnicas, executando "movimentos de câmera" rígidos e travados (mesmo quando tenta inovar), com enquadramentos burocráticos que, muitas vezes e possivelmente de forma não intencional, remetem a jogos de video game dos mais diversos tipos (repare, por exemplo, como trechos da luta de Chapeuzinho na ponte parecem ter saído diretamente de um Street Fighter ou Mortal Kombat). Enquanto isso, a movimentação dos personagens surge, em alguns momentos, ainda mais artificial que antes (como a caminhada da protagonista pela sede da Irmandade do Capuz) - e é curioso notar que justamente Ligeirinho, um personagem altamente beneficiado pelos movimentos abruptos e limitados do primeiro longa, aqui move-se de forma inadequadamente fluida. Para completar, a decisão de transferir boa parte da ação para uma cidade grande contemporânea não só quebra o charme da ambientação de um conto (no primeiro filme, os elementos modernos pontuais não traziam prejuízos nesse sentido), como também apresenta uma série de desafios que os realizadores não conseguem vencer, como animar a ação vista segundo plano de forma natural e convincente.

Quanto às cenas de ação, Deu a Louca na Chapeuzinho 2 também não é bem sucedido, tanto pela falta de imaginação da coreografia e dos cenários (a perseguição pela floresta, concluída em um campo de moinhos, é terrivelmente anti-climática) quanto pelas atitudes incoerentes dos personagens (por que, em determinado instante, Chapeuzinho não faz uso de seu gorro como pára-quedas, se já o havia feito no primeiro filme e, posteriormente aqui mesmo na continuação, também acaba o fazendo?). Isoladamente, a fuga pé-de-feijão abaixo é um exemplo oposto: eficiente e bem realizada, ainda é beneficiada pela criativa concepção da monumental e artificial planta - e mesmo não tendo visto a versão em 3D, imagino que esta seja uma das poucas cenas em que a terceira dimensão valha a pena.

No entanto, o vazio deixado pelo carisma evadido dos personagens é um ponto em que os realizadores pecam gravemente. Chapeuzinho, Vovózinha e Lobo Mau, como o trio principal, não são interessantes o bastante para carregar o filme; Ligeirinho nem parece o mesmo personagem que, no primeiro filme, era capaz de gerar crises de riso com atitudes inocentes e bem intencionadas; e os demais, como o lenhador Kirk, a Harpa cantante, o Gigante e o chefe de polícia Urso, foram relegados a pontas apagadas ou até mesmo rebaixados a figuração. Para completar, o possível responsável pelas maiores risadas do longa original aqui ganha uma função semelhante à de Scrat em A Era do Gelo: inexplicavelmente volátil e aparentemente imbatível, o bode cantor Japeth (Gaither) surge em participações esporádicas que só conseguem despertar a lembrança e a frustração do espectador.

Tentando a todo custo ser engraçadinho através de, por exemplo, sotaques regionais ou metalinguagens forçadas (a "interrupção" e "recapitulação" de um flashback), os realizadores não se dão conta (ou talvez não se importem) de que abrem imensos buracos no roteiro enquanto preenchem o filme com piadas e gags: qual a graça, por exemplo, em inserir uma placa indicando que os personagens encontram-se no 1039º andar de um prédio se, a princípio, a construção não parece alta o suficiente para ter tantos pavimentos? Ou então, que porcaria de Irmandade é essa que, supostamente rigorosa na proteção de uma receita importante, passa 60 anos sem perceber que esta fora roubada? Ainda, a inexperiente produtora incorpora uma das mais inadequadas manias da gigante DreamWorks e espalha uma série de referências pop pela história gratuitamente, de menções a redes sociais virtuais até recriações de cenas de Os Embalos de Sábado à Noite ou O Silêncio dos Inocentes (e é interessante notar que, coincidência ou não, é durante esta singular aparição do vilão do primeiro filme que surge a única pista supostamente discreta a respeito do desvendamento do antagonista deste novo e, da mesma forma que as múltiplas dicas que nos levavam a antecipar as reais intenções do Coelho no longa anterior, esta aqui é de uma obviedade alarmante). E não há como deixar de citar o incômodo tremendo que senti quando, numa atitude assustadoramente recorrente em filmes inseguros sobre sua própria qualidade, nessa mesma cena é dita uma fala que soa como uma prepotente tentativa dos roteiristas em provar o valor de sua obra: "Ninguém mais lê livros. Filmes são muito melhores - especialmente continuações".

Mas, ao esquecer a falta de credibilidade do personagem que a profere, os roteiristas acabaram dando um tiro nos próprios pés - e, nessa hora, a vontade que dá é de perguntar de volta: "Será mesmo?".

Os malefícios da dublagem

A discussão em torno da dublagem gera muito mais polêmica do que deveria. Acho que a conclusão é tão simples e óbvia que, na maior parte das vezes, sou acometido pela preguiça quando prevejo um debate sobre o tema.

No entanto, o sempre ótimo Pablo Villaça postou em seu blog um texto definitivo sobre dublagem - tão completo e certeiro que tentar contestar qualquer um dos argumentos apresentados seria de uma tolice assustadora.

Veja a introdução:

"Na última sexta-feira, O Planeta dos Macacos: A Origem chegou aos cinemas brasileiros com um anúncio preocupante feito pela Fox: o filme seria lançado com mais cópias dubladas do que legendadas em nossas salas. Reparem que estamos falando de um longa com classificação indicativa "12 anos" e que, portanto, esta decisão nada tem a ver com o conceito de torná-lo "acessível" aos espectadores mais jovens. Não, a ideia era atender a um público adulto que rechaça legendas - não por problemas físicos (falarei disto adiante), mas por simples preguiça de ler. Sim, os defensores da dublagem usam argumentos dos mais diversos (que contestarei abaixo), mas, no fundo, a questão é uma só: preferem a comodidade de assistir a um filme que não os obrigue a praticar o que aprenderam na alfabetização. Afinal, se já fugiram das bibliotecas, por que deveriam ser encurralados por letras nas salas de cinema?

Obviamente que os dublófilos não assumem isto, mas, pessoalmente, jamais encontrei alguém que tivesse o hábito da leitura e reclamasse de legendas. Assim, perceber que são estes espectadores medíocres e preguiçosos que estão sendo levados em consideração pelas distribuidoras, passando a moldar a experiência cinematográfica de todos aqueles que de fato amam esta Arte, é algo que me revolta absurdamente. Especialmente quando observo que, em sua defesa, apresentam os mais estapafúrdios argumentos - e antes de explicar por que a dublagem é nociva aos filmes, irei me deter nas "defesas" apresentadas por este contingente pró-mutilação."

Para ler o resto do texto, quando Pablo refuta os argumentos dos defensores da dublagem, clique aqui.

27 de agosto de 2011

O Último Filme de Brittany Murphy

Falecida precocemente no final de 2009, Brittany Murphy, que lamentavelmente dedicou a reta final de sua carreira a filmes com qualidade duvidosa lançados diretamente para home video, virou mais uma vítima de marqueteiros de plantão que, naturalmente, enxergaram na morte da atriz uma oportunidade única de promover seus últimos trabalhos em vida. O que provavelmente eles não esperavam é que profissionais de outras distribuidoras tivessem a mesma ideia.

Resultado:


A rigor, Busca Alucinante foi lançado internacionalmente há menos tempo que Flashes de uma Psicose (sendo que, no intervalo entre esses lançamentos, ainda chegou ao público o thriller Correndo Contra o Tempo), de modo que, por esse lado, a Flashstar está errada em seu chamariz. No entanto, a distribuidora estaria certa se considerarmos que Flashes de uma Psicose foi lançado por último no mercado brasileiro e, por isso, a PlayArte teria se precipitado ao inserir a frase em Busca Alucinante.

Todavia, em último caso, a "disputa" pelo título mórbido é ainda mais tola tendo em vista que nenhum dos dois de fato é o último filme da atriz; Something Wicked, seu último trabalho, aguarda ser lançado.

25 de agosto de 2011

Crítica | Catfish

por Eduardo Monteiro

Catfish, EUA, 2010 | Duração: 1h27m22s | Sem previsão de lançamento no Brasil | Dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman | Com Nev Schulman, Rel Schulman, Henry Joost e Angela Wesselman.

Obs.: Não leia nada sobre Catfish antes de vê-lo. O mesmo vale para essa crítica, que revela detalhes fundamentais do documentário.

Antes da crítica em si, uma confissão: este será o primeiro texto verdadeiramente de minha autoria aqui no blog. Todos os outros são, na verdade, meras traduções do conteúdo publicado em um jornal local de Alicante, no litoral da Espanha, onde resido há anos. Julguei que, dizendo que ainda moro no Brasil, conquistaria com maior facilidade o público brasileiro (o escolhi por ser muito maior que o espanhol), por isso sugeri que ainda vivia em minha terra natal, Belo Horizonte. Unindo a isso a predominância de homens na atividade crítica e o fato de pessoas inexperientes serem mais facilmente perdoadas por erros (ou vocês acham que é fácil traduzir de espanhol para português?), optei por criar esse pseudônimo masculino e jovem quando desenvolvi o blog. Só estou compartilhando tudo isso porque acredito, do fundo do meu coração, que não prejudiquei ninguém - e por pressão do meu marido, que critica periodicamente minha postura em relação a tudo isso.

O que separa todas as informações pessoais que já divulguei, seja em posts passados, no Twitter ou no Sobre o Cinema Sem Erros, da confissão acima? Como você, caro leitor, poderá afirmar convictamente quem eu realmente sou? O que te garante que, ainda, eu não seja nem o jovem belorizontino e nem a plagiadora casada na Espanha? Obviamente, você poderia notar que, por exemplo, publiquei há algum tempo atrás um texto sobre as adaptações da Rede Globo, no qual fiz observações que uma pessoa residindo na Espanha dificilmente seria capaz de articular - e por mais que a possibilidade de ter copiado de alguma outra fonte seja válida, a incerteza levanta a suspeita, que apenas poderia ser sanada com algum tipo de investigação ou pesquisa mais aprofundada. Aliás, será que Alicante realmente existe e possui um jornal local que publica críticas de cinema?

É a partir desse tipo de questionamento, natural na vivência de qualquer internauta, que o documentário Catfish é desenvolvido. Inspirada por uma fotografia publicada em um jornal, a talentosa e jovem Abby transforma a imagem em uma bela pintura e, com a ajuda da mãe, Angela, entra em contato com o autor da foto, para que possam intercambiar suas obras - e, a partir disso, o fotógrafo Yaniv Schulman (ou simplesmente Nev) se torna o objeto de estudo dos cineastas com quem divide um escritório em Nova York, seu irmão Ariel Schulman (ou Rel, para os íntimos) e o amigo Henry Joost. Diante do talento inegável da garota prodígio, Nev desenvolve uma amizade virtual com sua família, incluindo a mãe, o pai Vince e a irmã mais velha da garota, Megan, por quem o rapaz passa a se sentir atraído. No entanto, o que era para ser apenas o registro documental de uma curiosa amizade e um inesperado envolvimento emocional via internet ganha novos contornos quando, em um belo dia, Nev recebe de Megan a gravação de uma música interpretada por ela mesma, porém dotada de uma qualidade de execução incompatível com o tempo hábil para produzi-la. Após uma breve pesquisa na rede mundial de computadores, o rapaz passa a desconfiar da veracidade das informações compartilhadas até então pela garota e parte rumo à residência da família, com o objetivo de conferir com os próprios olhos a realidade.

Mergulhado no universo virtual desde seus primeiros segundos, quando o próprio globo da Universal Pictures surge pixelizado e sendo manipulado por um cursor, o documentário é hábil ao retratar o alcance e a velocidade das informações que circulam na internet, sem a qual tanto a premissa quanto o desenvolvimento do documentário sequer teriam existido. Nesse sentido, Joost e Schulman acertam, por exemplo, ao utilizar serviços de mapeamento virtuais para apresentar locais importantes da trama ou a distância que separa a casa da garota do escritório do fotógrafo, uma técnica que, além de absolutamente coerente com a atmosfera da produção, reforça a discussão temática levantada pelos realizadores. Ainda nesse aspecto, é curioso perceber que, quando o trio dirige rumo à cidade da família de Abby, uma foto de satélite da estrada permite que o espectador note a imperfeição existente até nos mais sofisticados sistemas; o trajeto interpretado pelo programa não corresponde rigorosamente ao traçado real da via, sugerindo que, mesmo com o altíssimo nível da tecnologia, há também informações incompatíveis com a realidade em meio à imensidão de dados disponíveis on-line, algo que se conecta diretamente com a situação vivida pelos irmãos Schulman e por Joost.

Porém, a grande discussão em torno de Catfish desde sua primeira exibição no Festival de Sundance tem sido em torno da veracidade dos acontecimentos documentados - e ela é tão legítima quanto os questionamentos levantados por Nev sobre Abby e sua família. De fato, a suposta ideia inicial para o projeto é digna de suspeita: que tipo de material os cineastas esperavam obter registrando uma amizade virtual apenas curiosa? Além disso, o longa possui uma narrativa muito bem amarrada, com evolução gradual e repleta de nuances que engrandecem o tema, o que soa tão improvável quanto a disposição de uma mulher adulta de criar e movimentar diversas contas em redes sociais ou manter duas linhas telefônicas simplesmente para prolongar uma amizade à distância baseada em mentiras. Da mesma forma, uma briga entre os irmãos Schulman parece inserida apenas como um conflito adicional ao contexto geral (e para lembrar a todos que aquilo de fato é um documentário, graças à sua "naturalidade"), assim como uma carta abandonada em uma caixa de correio e uma ligação recebida durante um momento de lazer na praia são capazes de deixar uma pulga atrás da orelha até mesmo no espectador mais ingênuo.

Porém, há também uma série de elementos que sustentam a posição dos crédulos - e o principal deles é, sem dúvida, a competência do "elenco". Repare, por exemplo, como a jovem Abby reage com uma confusão absolutamente natural quando questionada sobre seus hábitos de pintura; como a primeira conversa entre Nev e "Megan" por telefone gera um constrangimento convincente; ou ainda, a crível e sutil expressão de antecipação do fotógrafo enquanto ouve diferentes versões de uma mesma música, sem saber se prefere descobrir ou não que seu interesse romântico mentiu sobre a gravação. Todos esses detalhes, acrescidos da recorrência de câmeras desprevenidas e dificuldades técnicas evolvendo imagem e, principalmente, áudio, são fortes indício de que toda aquela trama de fato deve ter ocorrido - e, mesmo considerando que boa parte desses elementos poderia facilmente ter sido ser encenada ou incluída em uma pós-produção, não há razão para, a princípio, julgar que tudo tenha sido ensaiado e combinado.

Por outro lado, quase todos os problemas relacionados ao desfecho do longa (que também falha por entender-se um pouco além do necessário) parecem tornar a coisa mais ambígua e aumentar ainda mais a dúvida: a necessidade latente de humanizar a família de Abby é exagerada e foge um pouco do propósito geral, parecendo uma estratégia para que o lançamento do filme não afetasse radicalmente a vida pessoal e a reputação de Angela, tida até então como uma louca desvairada ou, no mínimo, uma mulher extremamente carente e insegura. Porém, não consigo deixar de pensar no modo como o marido de Angela deve ter reagido ao descobrir que sua esposa trocava mensagens praticamente pornográficas com outro homem e ainda alimentava um amor platônico por ele - ou será que, quando cedeu os direitos de imagem à produção, a mulher pensou que Vince nunca descobriria tudo isso? Para completar, o depoimento que posteriormente deu nome ao filme é absolutamente desconexo do restante da narrativa, criando em uma desnecessária artificialidade.

Fora tudo isso, é interessante notar como os diretores conseguem, com o auxílio do montador Zachary Stuart-Pontier e do compositor Mark Mothersbaugh, conferir uma atmosfera confortante e agradável ao primeiro ato do longa, induzindo o espectador a comprar o falso carisma daquela família da mesma maneira que o fotógrafo o faz. Para tal efeito, a evolução dos relacionamentos virtuais é mostrada através de textos na tela (quando não há outro tipo de material para apresentar o fato) e fragmentos de páginas de sites de relacionamento intercalados com depoimentos de um Nev enfeitiçado, sempre embaladas por uma trilha inocente e doce. Essa indução, que nos leva a digerir calmamente as informações, revela uma grande inteligência dos realizadores, já que é fundamental para o sucesso do documentário que vivenciemos as mesmas emoções e incertezas que o trio, reagindo da mesma forma que os amigos a cada nova descoberta. Por outro lado, também é interessante observar como Nev, a princípio, cogita rápida, sutil e automaticamente a possibilidade dos perfis virtuais serem falsos ("As crianças são ótimas. Pelo menos no Facebook"), mas faz isso com a falta de seriedade natural de alguém incapaz de prever a dimensão dos próximos acontecimentos, ou como a equipe, em determinados momentos, não descarta a possibilidade de estar correndo algum perigo, seja em um nível inicial e seguro ("Eles são psicopatas! Aposto que estou falando com um homem!") ou em um nível mais real e palpável, como durante a visita a uma fazenda desabitada no meio da noite.

No entanto, o aspecto mais interessante do longa não está na tela, mas na relação do público com o que está sendo visto; há algo de curioso e incrível no modo como a plateia, de forma quase imperceptível, se projeta na figura de Nev. Enquanto vê o homem sendo categoricamente enganado, o espectador coloca-se involuntariamente em uma posição defensiva e passa a procurar furos (como aqueles apontados no 5º parágrafo desse texto) que sustentem a hipótese de que a produção é uma farsa, como se temesse sofrer da mesma espécie de ingenuidade que o fotógrafo. E é nessa relação que o documentário acaba acertando em cheio: basta pesquisar na internet para perceber que a rede mundial de computadores (logo ela!) foi o grande fórum escolhido pelos espectadores para discutir e refletir sobre segurança e confiabilidade de informações fáceis e bem apresentadas - e quer tenha sido motivada pelo conto da carochinha de Angela, quer pela suposta incredibilidade dos diretores estreantes (que, para completar, aceitaram o convite para dirigir Atividade Paranormal 3, um filme de ficção com abordagem realista), o importante é que a reflexão existe e é imprescindível em uma época de aparências e impessoalidade como a que vivemos. Seja ou não real, a verdade é que a história vista em Catfish poderia sim ter acontecido - e isso, por si só, já faz valer todo o envolvimento e investimento.

19 de agosto de 2011

Crítica | Professora Sem Classe

por Eduardo Monteiro

Bad Teacher, EUA, 2011 | Duração: 1h28m12s | Lançado no Brasil em 19 de Agosto de 2011, nos cinemas | Escrito por Gene Stupnitsky & Lee Eisenberg | Dirigido por Jake Kasdan | Com Cameron Diaz, Justin Timberlake, Lucy Punch, Jason Segel, John Michael Higgins, Phyllis Smith, Thomas Lennon, Molly Shannon, Eric Stonestreet, Dave 'Gruber' Allen, Matthew J. Evans, Kaitlyn Dever, Kathryn Newton, David Paymer.

Há pouco menos de dez anos, o ótimo Papai Noel às Avessas contava a história de um ladrão bêbado e derrotado que trabalhava em épocas natalinas fantasiado como o bom velhinho em shoppings centers apenas para, com esse disfarce, infiltrar-se nos bastidores desses complexos de compras a fim de executar assaltos nos estabelecimentos locais - e mesmo que por vezes o protagonista vivido por Billy Bob Thornton apresentasse condutas com as quais o público conseguia se identificar, o longa não se intimidava em abraçar seu mau caráter até os últimos instantes de projeção a fim de divertir, desenvolver o personagem e, sobretudo, manter-se coerente. Rodeado de comparações que já se iniciam pelos próprios títulos originais (Bad Teacher aqui e Bad Santa lá), Professora Sem Classe também aposta na radical subversão promovida por um indivíduo desprezível em uma profissão que lida diretamente com crianças. Mas, por mais divertidamente absurdas que ambas as situações sejam - e a permanência em uma função que claramente não dominam talvez possa ser explicada pela ingenuidade e inércia dos jovens com os quais os protagonistas têm de lidar -, não há como ignorar que, em um dos dois casos, o realismo da premissa é seriamente comprometida após ser botada em xeque já nos primeiros minutos de projeção. Obviamente me refiro à produção mais recente: contrapondo-se ao filme de 2003, onde era fácil aceitar o contexto e as circunstâncias (seja pela omissão do administradores do shopping center, pela relativa insignificância de um grupo de animadores sazonais ou por sua volatilidade), é impossível não se incomodar com a inexplicável recontratação da professora Elizabeth Halsey (Diaz) após nada menos que um ano lecionando na escola sem sequer se dar ao trabalho de disfarçar sua incompetência ou desprezo pela dinâmica da instituição ou pelos bons costumes.

E isso é apenas o começo. Partindo desse contexto fundamentalmente falho, os roteiristas Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg (merecedores do céu pela versão americana do seriado The Office e do inferno pelo desastroso Ano Um) abordam um ano da vida de uma professora bastante incomum: com evidente aversão a regras, colegas de trabalhos e alunos, Elizabeth enxerga a profissão como uma forma fácil de ganhar dinheiro, em função de férias de verão desocupadas, horários reduzidos e a aparente facilidade de convencer os demais da credibilidade de seu método de ensino (que consiste em exibir filmes que vão de O Preço do Desafio a Pânico, enquanto ela própria dorme) através de explicações dotadas de um ar de falsa relevância. Porém, após levar um fora do noivo rico, ela passa a dividir apartamento com um operador de reboque e, para se sustentar, acaba sendo obrigada a regressar à sala de aula. Somando a tudo isso o projeto de fazer um implante de silicone nos seios, Elizabeth enxerga no milionário e recém-contratado professor-substituto Scott Delacorte (Timberlake) a chance de sanar seus problemas financeiros e finalmente subir na vida, mas terá de lidar com a concorrência da professora-exemplo Amy Squirrel (Punch) e as investidas do professor de Educação Física Russell Gettis (Segel).

Lamentavelmente, Professora Sem Classe é mais um daqueles filmes que moldam todos os seus elementos à necessidade de criar piadas e gags, mesmo que isso soe absolutamente falso e comprometa o conjunto da obra. Observe, por exemplo, como a trilha sonora de Michael Andrews (que desde que compôs para Donnie Darko parece ter se especializado em comédias), quando não soa como uma quase transposição do trabalho de John Murphy para O Cara, tenta forçadamente conferir humor a certos diálogos, como aquele em que a personagem de Diaz veste uma máscara de boazinha na intenção de manipular o diretor da escola, vivido por John Michael Higgins como uma figura nula que, caso tivesse todas suas cenas cortadas, possivelmente não afetaria o resultado final.

Os personagens, aliás, já nasceram condenados, variando entre arquétipos e estereótipos que, na maior parte dos casos, não conseguem ser salvos nem mesmo por seus intérpretes: Cameron Diaz, sempre com roupas e maquiagem marcantes ou provocantes, até alcança um bom desempenho como Elizabeth, desde seu evidente desdém até sua falsa simpatia, mas é limitada por um roteiro que não explora bem o potencial oferecido pela premissa, especialmente quando opta por resoluções fáceis e previsíveis que flertam com convenções de comédias românticas. Já Lucy Punch, como a inconstante e insegura professora Squirrel, usa e abusa da teatralidade de sua personagem, mesmo que não consiga estabelecer uma boa química com Justin Timberlake que, este sim, mostra-se cada vez mais à vontade em cena, interpretando aqui um professor politicamente correto, palerma, infantil, romântico e possivelmente o maior injustiçado da história, já que o roteiro induz uma rejeição a Scott simplesmente porque este não se interessou por Elizabeth no momento apropriado da narrativa. E se Phyllis Smith surge como uma agradável surpresa num divertido e doce contraponto à protagonista, Jason Segel, tão eficiente quando em projetos certos (como Ressaca de Amor), decepciona pela falta de carisma daquele que é o único personagem real e sensato da trama e que, por isso, permanece à espera para ser usado em um previsível e de difícil deglutição truque final - que só poderia ser considerado uma carta na manga no caso de um paletó invisível.

Incapaz de apresentar uma lógica interna decente, a narrativa desenvolve-se entre as diversas tentativas de Elizabeth de juntar dinheiro (o que resulta em uma das poucas boas sacadas, quando a protagonista vende os Achados e Perdidos e as latinhas de alumínio recolhidas no colégio) e a disputa com Amy pelas atenções de Scott, como se pulasse de um esquete para outro - isso quando não resolve concentrar-se no bullying sofrido por um aluno, subtrama que é dizimada imediatamente após cumprir sua função: fazer com que Elizabeth dê conselhos em um discurso que, no fundo, aplica-se a ela mesma (prefiro não comentar sobre o absurdo convite que a família do garoto faz à professora para uma reunião familiar no Natal). Por outro lado, há bons momentos que merecem o devido reconhecimento e apreciação, como a cena em que Elizabeth exibe sutilmente seu desinteresse pelos alunos quando mantém com o pai de um deles um diálogo neutro no qual jamais arrisca o uso de um pronome masculino ou feminino que denunciaria seu desconhecimento quanto ao sexo do(a) jovem. Da mesma forma, o diretor Jake Kasdan acerta na construção de uma cena que brinca com a abordagem comumente dada a assassinos de aluguel, quando a protagonista, temendo as consequências das ações de um personagem que pode destruir sua "reputação", incumbe seu brutamontes colega de quarto de encontrá-lo e entregá-lo um perigoso... envelope.

Apelando ainda para o clichê do cantor que dedica uma música a uma mulher especial e acaba gerando expectativas equivocadas em outra (e, no caso, estupidamente infundadas) ou para uma freada brusca em reação a uma notícia excepcional, deixando o espectador assustado pela constatação que, apesar de não parecer, o carro estava em movimento, Professora Sem Classe, ainda merece descrédito por sua passagem de tempo displicente (apesar de letreiros indicarem que passa-se um ano, a impressão que fica é que tudo aconteceu em 3 ou 4 semanas) e por, no desespero para distrair o público de seu roteiro falho, acabar recorrendo a gags disfuncionais e deploráveis, como a escatologia gratuita, um garoto com fisionomia congelada e boca aberta em dois momentos distintos (!!!) ou o jovem espinhento que não consegue esconder uma ereção quando vê uma mulher em trajes provocantes e molhados.

E que venham os palhaços, babás ou pediatras maus. Nas mãos certas, muito provavelmente teriam melhores chances do que essa reles professora.