6 de julho de 2011

Crítica | Transformers: O Lado Oculto da Lua

por Eduardo Monteiro

Transformers: Dark of the Moon, EUA, 2011 | Duração: 2h34m23s | Lançado no Brasil em 1º de Julho de 2011, nos cinemas | Escrito por Ehren Kruger | Dirigido por Michael Bay | Com Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Josh Duhamel, John Turturro, Tyrese Gibson, Frances McDormand, Patrick Dempsey, John Malkovich, Kevin Dunn, Julie White, Alan Tudyk, Ken Jeong e as vozes de Peter Cullen, Hugo Weaving e Leonard Nimoy.

Nas duas vezes que assisti a Transformers: A Vingança dos Derrotados (quase não acredito que tenho coragem de confessar que revi o filme), me peguei questionando diversas incoerências durante o terceiro ato daquele longa. Primeiro: por que o personagem de Ramon Rodriguez, colega de quarto do protagonista, ainda não havia sido descartado e qual era sua função? E segundo: por que o personagem de John Turturro insistia em escalar uma pirâmide enquanto esta era destruída a partir do topo por um robô gigantesco? Ora, a covardia do personagem de Rodriguez já havia gerado sua cota de piadas, que em nada acrescentavam à narrativa, enquanto a atitude de Turturro era praticamente suicida já que, caso conseguisse alcançar o topo sem ser morto pelos blocos de pedra rolando pirâmide abaixo, como diabos ele poderia ajudar?

Pois eis que, após reconhecer publicamente que o segundo filme dos robôs transformistas alienígenas havia sido um erro (a ser consertado em uma continuação), Michael Bay retorna em Transformers - O Lado Oculto da Lua provando que há algum problema de comunicação (leia-se: bilheteria em alta) entre ele e o público, já que as mesmas perguntas que citei no primeiro parágrafo (qual a função de determinado personagem e por que aquele outro está agindo dessa forma?) não são difíceis de surgir aqui - e, de um modo geral, podem ser resumidas em uma só: a quem Michael Bay e o roteirista Ehren Kruger querem enganar?

Partindo novamente da premissa tola de que importantes acontecimentos históricos da humanidade teriam sido influenciados pela raça alienígena (lembrem-se que o primeiro filme afirmava que toda a tecnologia eletrônica e robótica da Terra teria sido desenvolvida a partir de estudos realizados no vilão Megatron) e dos furos colossais deixados pelo filme anterior, essa terceira parte sugere que a ida do homem à Lua teria sido motivada pela descoberta de uma nave dos bonzinhos Autobots em nosso satélite natural. Anos depois da viagem histórica, o fato desperta o interesse dos Autobots, que agora trabalham para o governo norte-americano, e dos vilões Decepticons, que vivem escondidos na Terra. Paralelamente, Sam Witwick (LaBeouf), agora com uma nova namorada bocuda, Carly (Huntington-Whiteley), enfrenta dificuldades para descolar um emprego e sofre com a estúpida decisão do roteiro de trazer seus pais de volta. Como esperado, ele acaba envolvendo-se novamente com a causa alienígena, o que naturalmente transforma a diretora do Departamento Nacional de Inteligência (McDormand) na pessoa mais sensata do longa, simplesmente por ser a única a perceber certeiramente que ele não mais tem capacidade de ajudar na resolução daqueles conflitos.

A indisposição de Bay em corrigir os erros do passado, aliás, já pode ser notada na primeira aparição de Carly, que surge apenas de calcinha e camiseta, vista por um ângulo baixo, segundos antes de presentear o namorado com um coelho de pelúcia inteiro como amuleto. Aliás, a própria escolha de uma modelo para o papel já diz muito da intenção para a personagem (Megan Fox ao menos era atriz), que volta a ficar evidente quando seu patrão, vivido por Patrick Dempsey, descreve a atração que sente por carros enquanto a câmera passeia pelo corpo da mulher, em um banho de obviedade.

Mas, de modo geral, o grande problema do elenco não reside em sua escolha, mas no excesso de personagens, consequência da incompetência de Ehren Kruger de criar histórias interessantes. Aliás, é espantoso que cada novo filme de uma franquia que sofre tanto com a falta de história aumente a duração em aproximadamente 7 minutos em relação ao anterior. Assim, toda a enrolação está ali apenas para levar ao megalomaníaco plano dos Decepticons e, consequentemente, a uma épica batalha final. E se citei o absurdo plano, é importante comentar a incoerência dos vilões: em um momento, anunciam a escravização da raça humana para, em seguida, iniciar seu extermínio sem dó. Vindo de seres que caem em joguinhos psicológicos baratos de mulheres voluptuosas, não é de se espantar.

E se as cenas de ação, juntamente com as engenhosas transformações, sempre foram os grandes atrativos da franquia, nisso O Lado Oculto da Lua é irrepreensível. Mesmo que o visual dos robôs se aproxime mais do que nunca (e inexplicavelmente) de formas humanas e animais (com direito, inclusive, a um equivalente a sangue jorrando durante a pancadaria, além de insetos-robôs parasitando as feridas de Megatron), as cenas de ação estão mais bem executadas, com menos cortes e mais estabilidade na câmera, contando, inclusive, com o bom uso de câmera lenta. No entanto, Michael Bay adota novamente ações paralelas acreditando que, assim, o público não notará a falta de lógica do que está ocorrendo em tela - o que pode ser facilmente notado quando Bumblebee aparece para salvar Sam de uma grande queda após enfrentar sozinho um adversário alienígena (aonde o robô-amigo estava durante isso, nunca saberemos), surge em seguida amarrado como refém dos Decepticons e, em sua próxima aparição, vemos Sam e Carly saindo de dentro dele, agora no formato de carro.

Mas o maior problema é, sem dúvida, a duração desse confronto - e esse é o ponto em que é mais difícil de compreender o que se passa na cabeça do diretor. Será que ele realmente achou o público ficaria entretido com 40 a 50 minutos de uma batalha contínua, sem grandes variações e que todos sabem como terminará? Ora, por mais atraente visualmente e empolgante que as cenas possam ser, a repetição acaba ficando escancarada e se tornando exaustiva. Assim, se o confronto fosse resumido e tivesse como clímax a ótima cena envolvendo a destruição de um prédio (ou será que alguém realmente acha fundamental ver soldados planando sobre Chicago por infindáveis minutos?), o filme certamente alcançaria um sucesso muito maior simplesmente por não torturar o espectador com um terceiro ato sem fim e ilógico. Complementado, há de se reconhecer que Michael Bay faz um bom uso do 3D, que ajuda, inclusive, a entendermos melhor a anatomia dos robôs.

Terminada a batalha, o diretor encerra o longa da mesma forma abrupta que os anteriores, como se a ação fosse, de fato, a resposta para os conflitos da narrativa. O que talvez responda a pergunta que levantei: Bay e Kruger estão tentando enganar justamente aqueles que querem ser enganados. E, meu amigo, pode ter certeza que esse público existe e irá encher os cofres da Paramount de verdinhas.