7 de julho de 2011

Crítica | Rápida Vingança

por Eduardo Monteiro

Faster, EUA, 2010 | Duração: 1h37m59s | Lançado no Brasil em 6 de Julho de 2011, em DVD e Blu-ray | Escrito por Tony Gayton & Joe Gayton | Dirigido por George Tillman Jr. | Com Dwayne Johnson, Billy Bob Thornton, Oliver Jackson-Cohen, Carla Gugino, Maggie Grace, Moon Bloodgood, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Tom Berenger, Mike Epps, Xander Berkeley, Lester Speight, Matt Gerald, Annie Corley, Jennifer Carpenter, Michael Irby, Courtney Gains, Aedin Mincks.

Vingança. A lista de filmes que mostram personagens ressentidos buscando este tipo de redenção violenta é enorme e, só para citar alguns poucos bons exemplos, podemos pegar Kill Bill, Sin City - A Cidade do Pecado, V de Vingança, Amnésia, O Grande Truque, Sobre Meninos e Lobos, Xeque-Mate À Prova de Morte. Mas o que diferencia essas grandes obras de outras como Doce Vingança ou deste Rápida Vingança são roteiros complexos e execuções brilhantes, méritos que não necessariamente dizem respeito ao tema em questão - e até obras inferiores como Adrenalina conseguem ser interessantes por criar atrativos que funcionem e a particularizem. Mas, quando a única coisa que se têm para abordar é a vingança em si, o resultado pode acabar sendo raso e dispensável.

Dirigido por George Tillman Jr. a partir do roteiro de Tony e Joe Gayton, o filme já se inicia introduzindo o personagem vivido por Dwayne Johnson como um homem perigoso e ameaçador mesmo que ainda não saibamos os motivos que o fizeram passar 10 anos preso. Sem perder tempo, ele já inicia a vingança da morte de seu irmão (Gerald) em suas primeiras horas fora da prisão, e logo passa a ser procurado por dois policiais (Thornton e Gugino) e um assassino (Jackson-Cohen), contratado por uma das prováveis vítimas do protagonista.

Introduzindo o trio de personagens principais com legendas reducionistas (Johnson é o motorista, Thornton é o policial e Jackson-Cohen é o assassino) que mais parecem querer explicitar o caráter unidimensional de suas existências, o longa apresenta uma série de incosistências que, de modo geral, não dizem respeito a problemas de direção, mas sim ao roteiro, que não consegue criar personagens mais interessantes do que os textos que os caracterizam. Assim, Billy Bob Thornton vive um policial decadente em fim de carreira que é mal visto pelos colegas de trabalho e tem problemas de relacionamento com a ex-mulher (Bloodgood) e o filho (Mincks). Johnson, favorecido por seu absurdo porte físico e sua relativa inexpressividade, vive um motorista de fuga que vai preso após um golpe onde toda sua gangue é assassinada e passa toda a projeção sem dizer muito - e, por conveniência da trama, se tornou um matador implacável durante sua estadia na cadeia, conseguindo assustar as pessoas apenas por mostrar uma tatuagem, sobre a qual nunca descobrimos o real significado. E Jackson-Cohen vive um jovem milionário que faz trabalhos como assassino de aluguel como um capricho à própria vaidade, mas decide abandonar o serviço atual (leia-se: matar o motorista) antes de sua conclusão, a pedido da noiva (Grace).

Com toda a falta de assunto, o filme até tenta conferir um pouco de profundidade a cada uma dessas subtramas - e a tentativa que chega mais perto é a do assassino, quando é levantada a discussão sobre a natureza de seus serviços (hobby ou obsessão?) e o conflito com sua noiva, mas basta assistir a projeção até o fim para notar que a palavra "tentativa" permanece como a mais adequada. E em meio a encontros absurdamente falsos e desprovidos de fatalidades (como o do motorista com o assassino), o diretor tenta criar um clima de tensão constante, fazendo com que achemos que o motorista está perseguindo os responsáveis pela morte de seu irmão a todo momento, criando cenas absurdas como aquela em que o homem aborda a própria mãe com a arma mirada para a cabeça dela - e as tentativas de justificar esse tipo de atitude são mais estúpidas do que as próprias "pegadinhas".

No que diz respeito à direção, o mais próximo que Tillman Jr. chega de criar algo conceitualmente interessante é quando usa câmera lenta para ressaltar dois comportamentos distintos: o andar ameaçador do motorista e, logo em seguida, o caminhar decadente do policial. No entanto, se há um aspecto em que o longa se mostra verdadeiramente inteligente é na opção de incluir uma igreja instalada em uma tenda, remetendo a um circo, numa crítica ao comportamento excessivo dos fiéis durante as missas - como mostrado no próprio filme, no momento em que a multidão continua aos berros de "Amém!" mesmo após o pastor (Akinnuoye-Agbaje) ser emudecido pela simples entrada do motorista no recinto (me lembrou a cena em que o pastor de O Último Exorcismo passava uma receita de culinária durante a pregação e os fanáticos não percebiam). E se os letreiros que fazem a contagem de dias desde o início da vingança deveriam servir para explicitar sua rapidez (e talvez justificar o seu título), o efeito obtido é diametralmente oposto, já que o motorista mata em média uma pessoa por dia, sem nada que o impedisse que esse número fosse maior. Assim, o roteiro ainda se aproveita desse período de tempo para tentar suavizar gradativamente o mau caráter do protagonista, preparando o terreno para que, na (não) surpreendente reviravolta do desfecho, possamos transferir nosso desprezo para o novo antagonista.

Eu, que não cai na arapuca do roteiro, fiz diferente: direcionei o meu desprezo a todo o conjunto da obra.