por Eduardo Monteiro





The Romantics, EUA, 2010 | Duração: 1h36m35s | Lançado no Brasil em 23 de Junho de 2011, nos cinemas | Escrito por Galt Niederhoffer | Dirigido por Galt Niederhoffer | Com Katie Holmes, Josh Duhamel, Anna Paquin, Malin Akerman, Adam Brody, Dianna Agron, Jeremy Strong, Rebecca Lawrence, Candice Bergen e Elijah Wood.
Sabe aquela sensação de "eu já vi este filme antes"? Pois é. Está ficando cada vez mais comum. Quando escrevi sobre O Noivo da Minha Melhor Amiga, observei como o subgênero formado por histórias de relacionamentos amorosos mal resolvidos entre noivos, padrinhos e madrinhas às vésperas do casamento está em franca expansão, mas lamentei que isto não é algo exatamente bom, quando os lançamentos não apresentam nada de novo ou interessante. Por isso, foi uma agradável surpresa constatar que O Casamento do Meu Ex, mesmo não podendo ser considerado particularmente original, funciona bem o bastante para não ser considerado medíocre.
Adaptado e dirigido por Galt Niederhoffer a partir de um romance de sua própria autoria, o filme acompanha a reunião de um grupo de amigos para o casamento de Tom (Duhamel) e Lila (Paquin) em uma casa de praia em Nova York. No entanto, o clima não é totalmente harmonioso, já que os casais de amigos não parecem muito seguros de suas próprias relações e Laura (Holmes), a única solteira dentre as damas de honra, teve um romance mal resolvido no passado com Tom, com quem inclusive não fala há anos. Mas a convivência forçada na noite anterior à cerimônia (com o auxílio de bebidas alcoolicas) pode ser fundamental para que todas aquelas pessoas entendam melhor seus sentimentos e reavaliem suas relações.
Para começar, O Casamento do Meu Ex ganha pontos por não se debruçar sobre o humor para desenvolver sua história e entreter o público. Por mais que conte com uma parcela de personagens secundários arquetípicos e dotados de comportamentos peculiares e excêntricos, o longa não pode ser considerado sequer uma comédia romântica. Assim, o drama vivido pela personagem de Katie Holmes é introduzido gradativamente (diferentemente de O Noivo da Minha Melhor Amiga, por exemplo, não há flashbacks), pecando apenas por soar expositivo demais em alguns instantes (o ensaio do discurso de Laura em frente ao espelho é um bom exemplo disso), mas beneficiado pelo sensível e contido desempenho da atriz. E enquanto Josh Duhamel pouco tem a fazer com um personagem em cima do muro, Anna Paquin se sai bem ao ilustrar a total insegurança de Lila em meio a doces, bebidas e cigarros, e sua inquestionável ânsia de que o casamento se concretize o mais breve possível, temendo que algo de inconveniente aconteça. Paralelamente, os casais Tripler (Akerman) e Pete (Strong), e Jake (Brody) e Weesie (Lawrence) ganham seus próprios e pequenos arcos que, ainda que simples, são bons indicativos sobre a personalidade de casa um. O mesmo não pode ser dito, porém, sobre a família da noiva: a única que chega perto de um papel interessante é a mãe (Bergen), com as preocupações e neuroses típicas das matriarcas, já que os irmãos Chip (Wood) e Minnow (Agron) são aborrecidos e não acrescentam praticamente nada à narrativa.
Com grande conhecimento do próprio material, Niederhoffer conduz a narrativa sem maiores problemas e é particularmente feliz em três momentos distintos do longa, todos eles envolvendo discursos ou diálogos que não só ajudam a definir as relações entre o triângulo amoroso como também pontuam de forma sensível a evolução psicológica de Laura diante da situação (mesmo que em uma delas peque pela falta de imaginação do mise-en-scène, alternando os tópicos da conversa juntamente com as árvores vistas ao fundo). Além disso, a diretora faz uso constante de câmera na mão, que ajuda a conferir um bem-vindo realismo às situações - o que não suaviza a inadequada decisão de incluir discursos constrangedores no jantar de ensaio ou o dramalhão do vestido rasgado. Da mesma forma, a diretora abusa um pouco da meteorologia para consolidar o simbolismo de seu desfecho, que ao menos é interessante por ser mais sugestivo do que conclusivo.
Contando ainda com uma boa trilha sonora composta por Jonathan Sadoff - que abre mão, por exemplo, da marcha nupcial em função de uma música mais adequada ao clima daquele matrimônio -, O Casamento do Meu Ex supera outros semelhantes por focar na busca pela retomada do romantismo (qual o problema com Os Românticos, tradução literal do título original?) perdido em algum lugar do passado recente de seus personagens ao invés de investir em um gênero desgastado, dependente de amontoados de piadas e gags para desviar a atenção do espectador de seus personagens unidimensionais. E a julgar pela construção cuidadosa de sua protagonista e das três cenas-chave com falas afiadas que citei anteriormente, nada mais justo que o filme receba uma tímida e breve recomendação.
