4 de junho de 2011

Crítica | O Noivo da Minha Melhor Amiga

por Eduardo Monteiro

Something Borrowed, EUA, 2011 | Duração: 1h52 | Lançado no Brasil em 13 de Maio de 2011, nos cinemas | Baseado no romance de Emily Giffin. Escrito por Jennie Snyder Urman | Dirigido por Luke Greenfield | Com Ginnifer Goodwin, Kate Hudson, Colin Egglesfield, John Krasinski, Steve Howey, Ashley Williams, Geoff Pierson e Jill Eikenberry.

Quando escrevi sobre as semelhanças entre o pôster de O Noivo da Minha Melhor Amiga e o de outro filme da mesma distribuidora, sugeri que o desfecho do longa poderia ser facilmente deduzido a partir de sua arte de divulgação. Enganei-me. Por mais que boa parte dos elementos que me fizeram ter essa idéia estejam presentes no novo filme de Luke Greenfield, meu palpite (que não revelarei para não estragar a "surpresa") foi totalmente equivocado. Esse fato é extremamente adequado para gerar uma reflexão sobre a validade de criar expectativas e predisposições para qualquer filme - mas não pode ser encarado como um sinal da eficiência e capacidade de surpreender desta obra em particular. Aliás, não ser completamente previsível pelo pôster talvez seja um dos únicos méritos do filme.

Estabelecendo-se como mais um exemplar do limitado subgênero de comédias românticas com histórias que antecedem um casamento e apresentam um triângulo amoroso envolvendo pelo menos um dos noivos, o filme acompanha o desconsolo de Rachel (Goodwin) diante do noivado de uma antiga paixão de faculdade, Dex (Egglesfield), com sua melhor amiga, Darcy (Hudson). Mas a situação se complica após Rachel e Dex trocarem alguns beijos e descobrirem que nutrem uma paixão secreta e mútua, dando início a um relacionamento afetivo que pode botar em risco as amizades envolvidas.

Mas o que esperar de um filme que, já em seus primeiros minutos, demonstra total falta de confiança na inteligência do espectador ao martelar informações através de diálogos expositivos mesmo que já estejam sendo transmitidas por meio de outras estratégias mais sutis? Se o fato de Rachel já ter conhecimento de sua própria festa surpresa era sugerido na primeiríssima cena, havia realmente a necessidade de colocar alguém perguntando-lhe se fora mesmo surpreendida? E se, nesta mesma festa, é Darcy quem rouba as atenções com um discurso que exalta sua alegria com seu próprio noivado, além da decoração formada por imagens suas segurando cartazes de congratulações à amiga, é realmente necessário que o amigo Ethan (Krasinski) explicite duas vezes o óbvio egocentrismo da mulher? Para o roteiro de James Snyder Urman, baseado no romance de Emily Giffin, essas intervenções são sim necessárias, assim como o video exibido durante a ocasião, que é usado para apresentar de forma didática o passado dos quatro personagens centrais, sem a mínima cerimônia.

A partir daí, o que se segue é um vai-e-vem interminável que não se diferencia em praticamente nada de tantas outras comédias românticas do subgênero, já que até mesmo o título nacional reduz o filme a uma versão alternativa de, por exemplo, O Melhor Amigo da Noiva (até eu, que raramente confundo nomes de filmes, gaguejei na hora de comprar o ingresso!). Além da falta de originalidade, o filme se torna extremamente aborrecido por investir em acontecimentos implausíveis para dar uma falsa sensação ao espectador que algo de fato está ocorrendo. Desse modo, quando Rachel e Dex são acordados na manhã seguinte à primeira transa por uma ligação de Darcy à procura do noivo, o casal opta por ter um ataque de nervos ao invés da protagonista simplesmente atender ao telefone e conversar naturalmente com a amiga como se nada tivesse acontecido. Ou ainda: após derrubar acidentalmente todas as suas canetas na sala da faculdade, o que impede Rachel de solicitar ao colega da fileira da frente a gentileza de pegá-las no chão ao invés de entrar em desespero? E como explicar a repentina mudança de humor de Rachel ao dançar com Darcy uma música no último volume, às 3 da madrugada (Vizinhos? Que vizinhos que nada!), segundos após se safar de uma aflitiva enrascada que quase expôs seu relacionamento secreto?

A busca por essas explicações é tão tola quanto tentar entender o que faz Rachel persistir na amizade com Darcy, já que esta última é vivida por Kate Hudson como uma mulher fútil, arrogante, burra, imatura e egocêntrica - o que ao menos dá à atriz a chance de se divertir no papel. Menos difícil é compreender as razões de Dex para se envolver com ela (além das exigências de roteiro), já que o personagem de Colin Egglesfield é um paspalho inerte, com uma infantil submissão ao conservadorismo dos pais, mas que pelo menos se sai bem na função de ser... bonito (quando não faz cara de Tom Cruise). Enquanto isso, o Ethan de John Krasinski agrega muito do Jim do seriado The Office, porém com a ironia e o carisma substituídos por uma aborrecida e imatura mania de se comunicar através de piadas. E Ginnifer Goodwin também não se sai muito bem como Rachel, tendo que alternar a expressão de desconsolada e falsa alegria com inapropriados impulsos infantis (como na estúpida e batida cena de provocação de casais na pista de dança).

E é ainda mais assustador perceber que, em um filme abordando conflitos da crise dos 30 anos, os termos de ordem das descrições dos personagens sejam "imaturo" e "infantil". Assim, foi com relativo alívio que, próximo ao clímax, me animei com a proximidade do desfecho da narrativa - mas acabei caindo na pegadinha de Greenfield, que ainda havia reservado mais 20 autodestrutivos minutos de projeção até o verdadeiro final, aproveitando o tempo extra para derrubar aquilo que considerávamos mais concreto e articular mais dois ou três clichês, os quais havíamos comemorado a ausência. Mas se o filme pode ter dois finais, é de direito que também me seja concedido um segundo palpite! E acreditem: se eu tivesse realmente tido essa chance antes da sessão, o segundo sim teria sido certeiro.

Obs.: Há uma cena adicional durante os créditos finais que: 1) é estranhamente mal situada cronologicamente; 2) destrói algo de funcional e eficiente do final e 3) conta com um letreiro de "Continua..." que dispensa comentários.