6 de junho de 2011

Crítica | Kung Fu Panda 2

por Eduardo Monteiro

Kung Fu Panda 2, EUA, 2011 | Duração: 1h31 | Lançado no Brasil em 10 de Junho de 2011, nos cinemas | Escrito por Jonathan Aibel e Glenn Berger | Dirigido por Jennifer Yuh Nelson | Com as vozes de Jack Black, Angelina Jolie, Dustin Hoffman, Gary Oldman, Seth Rogen, Lucy Liu, David Cross, James Hong, Michelle Yeoh, Danny McBride, Dennis Haysbert, Jean-Claude Van Damme, Victor Garber e Jackie Chan.

Em certo momento da metade final de Kung Fu Panda 2, fui pego de surpresa quando Team America: Detonando o Mundo veio de forma meteórica à minha mente. Se a simples associação entre os filmes já era preocupante em função dos públicos-alvos diametralmente opostos, a coisa piorou quando me dei conta da razão da recordação: o contexto que antecede a resolução do conflito visto aqui é muito semelhante ao daquele filme. E por melhor que Team America seja, a comparação jamais poderá ser encarada com bons olhos, já que um dos grandes méritos do longa de Trey Parker era abraçar uma história terrivelmente clichê e fingir levá-la a sério, tornando histericamente divertidas as tentativas tolas das marionetes de conferir alguma credibilidade ao material - enquanto aqui, os roteiristas Jonathan Aibel e Glenn Berger parecem realmente levá-la a sério.

Elevando Jennifer Yuh Nelson, uma das designers do filme anterior, ao posto de diretora, o filme acompanha a primeira grande missão do panda Po (Black) após se estabelecer como o lendário Dragão Guerreiro e derrotar Tai Lung no longa anterior. Juntamente com os Cinco Furiosos, ele deve enfrentar o pavão Lorde Shen (Oldman) que, diante de uma profecia que prevê sua morte por um ser preto-e-branco, prepara um arsenal de uma perigosa arma à base de metal e fogos de artifício que "pode acabar de uma vez por todas com o kung fu".

Se no primeiro Kung Fu Panda as boas cenas de ação e a ótima direção de arte eram o suficiente para perdoar a história rasa, agora o drama de "ser você mesmo" é substituído por uma boba crise de identidade para justificar cenas de ação burocráticas e com notável defasagem de clareza e inspiração, possibilitadas por um design de produção que não impressiona tanto quanto o do antecessor. Assim, o roteiro retoma uma das melhores piadas do filme original apenas para destruí-la: o ganso Sr. Ping (Hong) - que continua sendo o personagem mais divertido - finalmente revela que Po é adotado, mas esse fato é convenientemente apresentado apenas para estabelecer conexões com a trama do vilão e reescrever a lição dada no primeiro filme - e o pouco que é apresentado de sua infância (geralmente em uma interessante animação em 2D) acaba transformando a história em uma versão apressada de Harry Potter (vilão toma conhecimento de uma profecia sobre a própria morte e tenta impedir que ela se concretize atacando o grupo supostamente responsável).

Mas não é só o assassinato daquela piada que surge como um momento mal aproveitado. No encerramento da cena em que a pequena comitiva está partindo do Vale da Paz, Tigresa (Jolie) volta-se para Sr. Ping e, no intuito de consolá-lo, diz que Po estará de volta "antes que ele possa dizer 'macarrão'" - e, sem ter muito o que fazer para encerrar a seqüência de forma interessante, os realizadores apelam para o mais previsível e barato sentimentalismo envolvendo o ganso. Em outros momentos, Po derrota pequenas ameaças apenas para, segundos depois, perceber que ela era na verdade muito maior - o que, além de ser um recurso pouco original para gerar humor (com as famosas caretas das animações da Dreamworks), aqui é usado mais vezes que o necessário. Aliás, o próprio comportamento do panda é decepcionante, já que depende de sua aparentemente insuperável imaturidade para movimentar a história - e as piadas envolvendo sua pança haviam cansado já no primeiro filme. É uma pena, portanto, que alguns personagens novos (naturalmente com bom potencial) sejam tão desperdiçados, comos os mestres Boi Toró (Haysbert) ou Crocodilo (Van Damme), que permanecem praticamente sem função durante todo o tempo - e até mesmo o já conhecido Shifu (Hoffman) e os Cinco Furiosos não têm participações marcantes.

Em compensação, ao menos o vilão se revela minimamente interessante. Com um design que acerta ao manter o visual naturalmente desajeitado e desproporcional da ave ao mesmo tempo que cria uma aura ameaçadora, o pavão exibe alguma complexidade ao projetar suas próprias inseguranças nos personagens que o cercam ao mesmo tempo que parece esconder um complexo envolvendo sua aparência exótica. No entanto, seu megalomaníaco plano é tão inconvicente quanto a solução encontrada para ele, uma vez que em momento algum as armas utilizadas correspondem às altas expectativas criadas a seu respeito nos momentos iniciais da projeção - e se as habilidades que possibilitaram Po derrotar Tai Lung no primeiro Kung Fu Panda pareciam uma estranha e divertida obra do acaso, agora o modo que encontra para enfrentar Lorde Shen soa exageradamente trivial, como se pudesse ser executado por qualquer um dos Cinco Furiosos (mas devo reconhecer que, esteticamente falando, a cena funciona bem, já que a animação de bolas de metal e fogo é bem executada e visualmente inspirada).

Contando ainda com pontuais boas sacadas (como detalhes da concepção de Sr. Ping na juventude ou o lúdico momento em que Po e os Cinco Furiosos se escondem em uma fantasia de dragão - cena essa que, fotografada em um plano plongée, remete a jogos de videogame como o clássico Pac Man), Kung Fu Panda 2 falha por não conseguir explorar os reais potenciais do primeiro filme, se limitando a ser uma narrativa ocorrida após aqueles acontecimentos e não uma consequência natural deles. Assim, o longa acaba rebaixando-se a um entretenimento leve e vazio, produzido para despertar o interesse principalmente das crianças que, assim como um filhote de porco visto em certo momento da projeção, estão ali só para ver o estabanado, obeso e engraçadinho panda. E se depender da sugestão dada na última cena, essa é uma tendência que eventualmente voltará a se confirmar.