por Eduardo Monteiro


La Casa Muda, Uruguai, 2010 | Duração: 1h22m34s | Lançado no Brasil em 23 de Junho de 2011, nos cinemas | Roteiro de Oscar Estévez. Baseado na ideia original de Gustavo Henández e Gustavo Rojo | Dirigido por Gustavo Hernández | Com Florencia Colucci, Abel Tripaldi, Gustavo Alonso e María Salazar.
O gênero terror figura, juntamente com comédias românticas, entre os mais desgastados da atualidade. Espíritos, casas assombradas, zumbis, crianças demoníacas e serial killers deixaram de ser ideias originais e se tornaram convencionices que raramente fogem do que já foi arduamente explorado. Dessa forma, é natural que os produtores busquem formas de surpreender o público, inserindo elementos que diferenciem seus projetos (desde pitadas de humor, como Premonição 3 ou Pânico 4, até simulação de documentários, como [REC] ou o pioneiro A Bruxa de Blair) ou, em casos específicos, se agarram a uma fórmula comercialmente bem sucedida e a exploram até que as fontes sequem, independente do resultado artístico (como Jogos Mortais e o recente Premonição 4).
É então que chegamos a A Casa, longa uruguaio lançado com a proposta de contar um caso aterrorizante em tempo real usando, para isso, um único plano-sequência. Partindo de uma história escrita por Gustavo Rojo e pelo diretor Gustavo Hernández, livremente baseada em acontecimentos reais, o roteiro escrito por Oscar Estévez acompanha o início da pernoite de Laura (Colluci) em uma casa mal conservada e adequadamente repleta de objetos sinistros, como crânios de animais e fotografias polaroid. Sem energia elétrica e com as janelas lacradas, a edificação se torna um pesadelo para a mulher depois que ela ouve sons estranhos vindos dos segundo pavimento, que se tornam mais assustadores após seu pai, Wilson (Alonso), subir para investigá-los.
Mesmo que inteligente do ponto de vista comercial, a veracidade do plano-sequência único é absolutamente questionável - e caso o filme tivesse sido realmente executado dessa forma (algo que não acredito), teria sido um esforço pretensioso e desnecessário para um filme com orçamento, cronograma e pessoal tão reduzidos, uma vez que os movimentos rápidos de quadro fechados e as repetidas imersões em escuridão completa são deixas perfeitas (e, para mim, óbvias) para cortes escondidos. No entanto, mesmo que intrigante, a técnica não é completamente bem sucedida, já que a ausência aparente de cortes não confere a urgência necessária à narrativa e, assim, somos obrigados a acompanhar Laura desbravando inutilmente os cômodos da casa diversas vezes por intermináveis minutos. Ainda por cima, o diretor acaba impedido de explorar uma montagem dinâmica para tentar dar algum sentido à reviravolta do final, já que aparentemente não há nenhum.
Infelizmente, a notável competência da equipe trabalha em função de um roteiro terrível, que força uma reviravolta absolutamente infeliz em seu ato final, além de rechear o restante da história com incontáveis clichês de filmes do gênero, como corvos, crianças sinistras, fotografias polaroid - e claro, a mocinha com camiseta branca ensanguentada na casa assombrada. Da mesma forma, Hernández desafia a boa vontade do espectador fazendo com que a mulher consiga sair da casa mesmo que a projeção esteja longe de acabar e, em certo instante, busca inspiração (talvez seja um eufemismo da minha parte) em Jogos Mortais e praticamente recria uma sequência na qual um personagem utilizava o flash de uma câmera fotográfica para explorar um ambiente escuro.
A Casa merece, portanto, reconhecimento pela eficiência de sua execução, especialmente diante dos recursos escassos disponíveis. Mas só. Nada que mereça um remake norteamericano ou algo assim...
Peraí! Oops...
Obs.: Há uma cena adicional durante os créditos finais. Ou seja: para todo efeito, o filme de fato NÃO é um único plano-sequência.
