por Eduardo Monteiro


Fast Five, EUA, 2011 | Duração: 2h05m01s | Lançado no Brasil em 6 de Maio de 2011, nos cinemas | Escrito por Chris Morgan | Dirigido por Justin Lin | Com Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Dwayne Johnson, Tyrese Gibson, Chris 'Ludacris' Bridges, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Tego Calderon, Don Omar, Joaquim de Almeida, Elsa Pataky, Michael Irby.
Quando foi lançado, em 2006, Velozes e Furiosos 3: Desafio em Tóquio deixava a impressão de que a Universal Pictures estava voltando a franquia para o público jovem e encaminhando-a para o mesmo lugar que duas outras também de sua propriedade (As Apimentadas e American Pie): o mercado do home video. Com um orçamento reduzido, o longa ignorou os acontecimentos dos anteriores (salvo alguma citação ou aparição relâmpago), investiu em um elenco jovem e relativamente desconhecido e, claro, na glamourização das corridas de rua e objetificação da mulher. No entanto, o que impediu que os corredores clandestinos se juntassem às cheerleaders e à família Stifler nas prateleiras das locadoras foram os bons resultados de bilheteria, que garantiram a sobrevida da série e o retorno de Vin Diesel, Paul Walker e outros integrantes do elenco original para um quarto longa. Isso, no entanto, não amenizou a escassez de ideias por parte do roteirista Chris Morgan, que foi incapaz de criar argumentos decentes para que voltássemos a acompanhar Toretto e O'Conner nas duas últimas produções.
Começando a história a partir do ponto em que Velozes e Furiosos 4 termina, o filme acompanha um assalto realizado em uma estrada com um desfecho absurdo, que remete ao início do longa anterior ao mesmo tempo que indica de forma rápida e direta que, pelo menos, desta vez tiveram a decência de investir em efeitos especiais melhores. Após cometerem o crime e passarem a ser perseguidos pelas autoridades, o ex-policial Brian O'Conner (Walker, dos 1º, 2º e 4º filmes) e sua namorada Mia Toretto (Brewster, dos 1º e 4º filmes) se refugiam em uma favela no Rio de Janeiro, onde são acolhidos por Vince (Schulze, do 1º filme). Sem dinheiro para sobreviver, a única solução encontrada pelo brilhante casal é participar de um roubo a trem para o chefão do crime do Rio, Hernan Reis (Almeida). Durante o golpe, os dois reencontram o recém foragido Dom Toretto (Diesel, dos 1º e 4º filmes) e, após alguns imprevistos, passam a ser perseguidos por Reis, seus capangas, e pela polícia, liderada pelo implacável Luke Hobbs (Johnson).
E por que torcer pelos criminosos O'Connel e Toretto e não pela lei, representada por Hobbs? As respostas que o filme oferece são: A) porque Mia está grávida e, assim, o trio forma uma família e B) porque eles são os protagonistas e pronto. Assim, somos obrigados a ignorar o desfecho do quarto filme, quando o personagem de Vin Diesel afirmava categoricamente que não queria mais continuar foragido já que "não se tem liberdade fugindo", frase esta que ele inclusive volta a dizer aqui. Dessa forma, o que devemos pensar sobre os parceiros de Toretto quando estes o responsabilizam por estarem novamente em uma enrascada? Para completar, a relação entre os personagens é algo extremamente tedioso e o desgaste de trazer os personagens novamente envolvidos em atividades ilegais é uma decisão tão prejudicial quanto a de procurar pretextos chulos para incluir as fantasias masculinas citadas no primeiro parágrafo, que no fundo são os grandes atrativos para o público-alvo do filme.
Mas há uma parcela do público que provavelmente não ficará satisfeito com o longa, graças às decisões adotadas para ambientar o filme no Brasil: os patriotas fanáticos, que consideram a "cidade maravilhosa" algo intocável. Responsáveis por um patético boicote ao terror Turistas e claros desconhecedores do significado dos termos "ficção" e "liberdade artística", esses brasileiros provavelmente se incomodarão mais com falas como "você é a única policial no Rio que não pode ser comprada" e "todas as atividades ilegais da cidade estão relacionada a Reis" do que com atrocidades como "onde quer que ela se esconda, irei encontrá-la", já que a suposta afronta à cidade das duas primeiras falas é algo mais grave que o clichê ofensivo exibido na terceira. O que não pode ser ignorado é que a imagem criada por novelas da Rede Globo ou pela animação Rio é totalmente incompatível com a proposta do filme e as hipérboles usadas pelos personagens para ressaltar o aspecto criminoso da cidade são tão subjetivas quanto as perseguições que transcorrem em suas ruas - ou alguém aí se lembra de ter visto nos noticiários o rastro de destruição deixado pelo clímax do terceiro ato da projeção? E será que é uma heresia tão grande assim uma cena de ação ter sido gravada em um deserto do Arizona, nada parecido com nenhuma paisagem do Rio de Janeiro, mesmo que ela se revele tão eficiente? E além do mais, é possível afirmar que houve uma preocupação considerável em manter uma relativa coerência até mesmo em cenas gravadas em Porto Rico - ou fui só eu que vi um orelhão de uma famosa empresa brasileira de telefonia ser destruído durante uma das perseguições?
E então chegamos ao ponto alto do filme: a ação. Sem grandes apegos com excesso de realidade ou com as leis físicas e exibindo efeitos visuais melhores que o filme anterior (especialmente os efeitos físicos), as cenas são muito bem conduzidas pelo diretor Justin Lin que, com o auxílio dos montadores Kelly Matsumoto, Fred Raskin e Christian Wagner, permite que o espectador compreenda com clareza o que está acontecendo na maioria das cenas. A opção de associar objetos grandes e robustos às perseguições (como trem, caminhão ou cofre) revela-se um acerto, já que confere maior tensão aos embates, enquanto as cenas de perseguição e confrontos físicos entre os atores (inspiradas na trilogia Bourne) também não deixam a desejar, ainda que aquela que se passa em uma favela em O Incrível Hulk continue sendo muito superior à semelhante vista aqui. Por outro lado, os mesmos elogios não podem ser feitos sobre a corrida envolvendo quatro carros de polícia, que é sem graça e serve apenas para relembrar o espectador a natureza original da franquia - e o desastre é intensificado com a estranha escolha de um remix do Melô da Popozuda para acompanhar a cena (vale dizer que, no restante da projeção, tanto a trilha instrumental quanto a incidental são ótimas, inclusive com boas inclusões de músicas brasileiras). Mas um dos maiores problemas técnicos do filme acaba sendo a redublagem, que substitui de forma extremamente artificial algumas linhas ditas pelos atores que não sabem falar português (ou seja, praticamente todos, exceto Jordana Brewster, que já morou no Brasil, e Joaquim de Almeida, ator português).
Mas em dois aspectos Velozes & Furiosos 5 é inegavelmente bem sucedido: manter a (supostamente descolada) alternância dos estilos dos títulos originais (na ordem: The Fast and the Furious, 2 Fast 2 Furious, The Fast and the Furious: Tokyo Drift, Fast & Furious e Fast Five) e reunir o maior número possível de personagens dos filmes anteriores que incluem, além dos já citados anteriormente, Tyrese Gibson e Chris 'Ludacris' Bridges (ambos do 2º filme), Sung Kang (dos 3º e 4º), Gal Gadot, Tego Calderon e Don Omar (todos do 4º filme), e mais algumas surpresinhas em uma cena extra durante os créditos finais. Por fim, não há como ignorar as semelhâncias existentes entre este filme e Uma Saída de Mestre - e a coisa toda se torna mais suspeita quando vasculhamos a internet e descobrimos que, em 2003, foi cogitada uma continuação de The Italian Job que se chamaria The Brazilian Job e, obviamente, se passaria no Brasil. O projeto nunca saiu do papel, sob o bom argumento do diretor F. Gary Gray: "Eu acho que é tudo uma questão de produzir o material certo no tempo correto. Sequências são feitas para superar o filme original e eu acho que este é o segredo para se fazer um roteiro tão bom quanto ou até melhor do que o do primeiro filme".
Será que os produtores de Velozes e Furiosos também pensam assim? Não é muito difícil imaginar a resposta para essa pergunta. Com as bilheterias ainda em alta, pode até ter se livrado do fantasma das locadoras, mas permanecer com consecutivos lançamentos no cinema também está longe de ser sinônimo de qualidade. Não é mesmo, Jogos Mortais?
