28 de maio de 2011

Crítica | Se Beber, Não Case! Parte II

por Eduardo Monteiro

The Hangover Part II, EUA, 2011 | Duração: 1h41m48s | Lançado no Brasil em 27 de Maio de 2011, nos cinemas | Escrito por Craig Mazin & Scot Armstrong & Todd Phillips | Dirigido por Todd Phillips | Com Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong, Mason Lee, Paul Giamatti, Jeffrey Tambor, Jamie Chung, Sasha Barrese, Gillian Vigman, Nirut Sirichanya, Nick Cassavetes, Schnitrnunt Busarakamwong, Sondra Currie, Bryan Callen e Mike Tyson.

Quem assiste a muitos filmes, o que inclui, claro, franquias e trilogias, consegue facilmente identificar pelo menos dois padrões no que diz respeito a continuações de grandes sucessos: aquelas que exploram com inteligência os aspectos positivos do que foi feito anteriormente, tentando superar ou ao menos manter-se à altura do longa original, e aquelas que limitam-se a reprisar a proposta original, adaptando-a a uma história qualquer que permita uma overdose dos elementos bem sucedidos do original. Se Beber, Não Case! Parte II claramente se enquadra neste segundo tipo: adotando uma estrutura praticamente idêntica à do primeiro filme, vemos aqui uma tentativa atrapalhada de encaixar novas versões de cenas marcantes do original, incluindo um número ainda maior de gags e aumentando a gravidade das conseqüências do período de semi-consciência do trio de amigos. Assim, se arrancar o próprio dente e casar com um stripper durante a embriaguez do filme anterior eram atitudes marcantes - mas facilmente reversíveis - de Stu (Helms), aqui ele faz uma tatuagem definitiva no rosto e se envolve sexualmente com uma garota de programa que... bem, confira você mesmo.

Novamente dirigido por Todd Phillips e agora roteirizado por Craig Mazin, Scot Armstrong e pelo próprio diretor, o filme acompanha a ressaca vivida por Phil (Cooper), Alan (Galifianakis) e Stu nas vésperas do casamento deste último com Lauren (Chung), na Tailândia. Após acordarem desmemoriados em um quarto de um precário hotel em Bangcoc na companhia do mafioso Mr. Chow (Jeong), os três amigos precisam reunir pistas para lembrar dos acontecimentos da última noite e descobrir o paradeiro de Teddy (Lee), irmão caçula da noiva, para finalmente retornarem ao resort a tempo do casamento sem aumentar ainda mais a desconfiança de Fohn (Sirichanya), futuro sogro de Stu - mas acabam envolvidos em um conflito entre Chow e criminosos locais.

Diante da gravidade dos acontecimentos do filme anterior, é esperado que a preocupação dos personagens em evitar de todas as maneiras possíveis que incidentes semelhantes voltem a ocorrer faça parte da introdução da narrativa. De fato, o comportamento preventivo é abordado com destaque e bom humor nos primeiros minutos de projeção, o que torna ainda mais difícil o trabalho dos roteiristas em conceber um novo contexto que justifique uma repetição do estado de transe - e a coerência ou não dessa construção acaba funcionando como um termômetro revelador sobre a real necessidade de filmar uma idéia reciclada ao invés de partir para algum material novo e original. Infelizmente, nesse sentido, a produção de uma continuação de Se Beber, Não Case! se torna injustificável, já que os então precavidos amigos consomem o produto adulterado mesmo após claramente evitá-lo, num dos grandes truques que o roteiro tenta disfarçar sem sucesso. Ainda, o retorno de Chow e a ida a Bangcoc são tão absurdos que simplesmente se justificam mutuamente, enquanto a reconstituição parcial dos acontecimentos esquecidos é conduzida de forma pobre, dependente do acaso e apelando até mesmo para memórias recuperadas durante uma sessão de meditação.

Além disso, a necessidade de fazer referências ao original, que começa apenas como uma estratégia para criar uma identificação com o público e uma uniformidade dentro da franquia, acaba caindo em uma inadequada repetição, culminando em momentos que chegamos a prever o que vem a seguir - como quando deduzimos que Chow irá atacar os protagonistas pelo simples fato de estar trancado em um compartimento que remete ao porta-malas do carro visto no longa anterior - ou em outros que simplesmente não se encaixam de forma orgânica na narrativa - como o desabafo musical de Stu, que ignora a inerente aflição do personagem no contexto. Da mesma forma, o modo como o sumiço de Teddy é desvendado também segue os moldes da descoberta do paradeiro de Doug (Bartha) no longa original, mas aqui depende de um comportamento inexplicavelmente inerte do desaparecido para convencer. Não menos lamentável é ver que a aleatoriedade do comportamento de Alan seja usado para justificar furos que ficariam evidentes caso suas atitudes seguissem qualquer padrão que fosse.

O personagem de Galifianakis, aliás, surge novamente como um dos destaques do longa, mesmo que seja usado para fazer graça de forma muito mais recorrente e, consequentemente, menos eficiente (eu particularmente gosto da piada envolvendo um travesti e um truque de mágica), além de sofrer dos problemas já citados anteriormente. Assim, se no primeiro filme Alan tinha apenas um comportamento infantilizado, aqui ele age e é tratado como uma criança pelos pais, joga videogame tomando sorvete em um momento em que a apreensão deveria dominar e, é claro, enxerga (em memórias) a si mesmo e aos amigos como crianças de 12 anos. Já Stu abandona parte de suas inseguranças, que são rapidamente substituídas por um semblante preocupado e um comportamento histérico, o que é aceitável se pensarmos que, sendo o noivo (e por algumas outras razões), é ele quem vive os maiores dramas da história. Phil continua sendo o pai de família que se comporta como garotão longe dos olhos da esposa, mas que na hora do aperto surge como uma óbvia liderança, graças a seu pensamento razoavelmente mais equilibrado e racional que dos demais - mas por que diabos ele insiste em carregar um macaco achado no banheiro do hotel jamais é explicado (o macaco, por sinal, é surpreendentemente mais divertido do que o esperado). Enquanto isso, o ótimo Ken Jeong não tem as mesmas oportunidades de divertir o público, já que seu Mr. Chow, ainda que extremamente afetado, é ligeiramente mais contido do que no primeiro filme, alem de sair de cena de forma excessivamente repentina. Justin Bartha, Mason Lee, Sasha Barresse, Jeffrey Tambor e tantos outros desempenham seus pequenos papéis de forma apenas correta, enquanto Nick Cassavetes e Paul Giamatti são desperdiçados pelo roteiro com participações apagadas (especialmente esse último, que ainda recebe a função de informar o espectador que este foi feito de bobo).

Nos aspectos técnicos, Se Beber, Não Case! Parte II se sai melhor na trilha sonora (que demonstra inteligência ao incluir acordes adequados a uma cena em que Alan se comporta como um amedrontado personagem de filme de terror) do que na fotografia que, mesmo dominada por tons quentes, não consegue evocar o "calor de 38º de Bangcoc", sensação transmitida apenas pela camisa ensopada de Bradley Cooper. Inconstante também nas tentativas de humor, o filme acaba apelando para constrangimentos envolvendo nudez ou investe em piadas sem a mínima graça, como no momento em que alguém manda um "Hello" para Chow e o personagem de Galifianakis gasta demasiado tempo tentando entender a entonação correta do recado e sua consequente intenção. Não menos ineficaz é a cena em que uma lancha conduzida por Alan invade o continente e atraca em terra firme sem que haja uma única explicação plausível para que Phil, Stu e Teddy não tenham unido forças para tentar impedí-lo. No entanto, essa cena é apenas um aperitivo da afronta que vem a seguir, quando as atenções são voltadas para um discurso bobo de Stu de amolecer o coração, claramente concebido apenas para encaixar mais uma piada de constrangimento proferida por Alan, enquanto os demais presentes parecem ignorar que Stu esteja com o rosto tatuado e Teddy com um dedo faltando.

E quando a narrativa termina, finalmente descobrimos o que de fato aconteceu nas horas de memórias perdidas com as (também não originais, mas) divertidas fotos durante os créditos finais. Mas nada disso importa pois, nesse momento, minha opinião sobre o filme já estava mais do que formada: Se Beber, Não Case! Parte II é uma experiência divertida e descompromissada, que funciona muito melhor quando você assiste sem saber em qual das duas descrições do início do texto se enquadra já que, dessa forma, você pode ter uma ou outra surpresa. Isto é: se Se Beber, Não Case! Parte III de fato acontecer, já saberemos exatamente o que esperar, onde procurar pistas e o que ignorar. Aí, então, talvez a experiência não será mais tão compensadora assim.