
por Eduardo Monteiro

No Strings Attached, EUA, 2011 | Duração: 1h47m58s | Lançado no Brasil em 18 de Março de 2011, nos cinemas | Argumento de Elizabeth Meriwether e Mike Samonek. Roteiro de Elizabeth Meriwether | Dirigido por Ivan Reitman | Com Natalie Portman, Ashton Kutcher, Kevin Kline, Cary Elwes, Greta Gerwig, Lake Bell, Olivia Thirlby, Chris 'Ludacris' Bridges, Jake Johnson, Mindy Kaling, Talia Balsam, Ophelia Lovibond, Ben Lawson, Jennifer Irwin, Adhir Kalyan e Brian H. Dierker.
Ao longo dos anos, em uma dessas coincidências tipicamente hollywoodianas, vimos uma variada lista de filmes tematicamente semelhantes tendo lançamentos relativamente próximos, como é o caso de Armageddon e Impacto Profundo, O Espanta Tubarões e Procurando Nemo, Madagascar e Selvagem, Abismo do Medo e A Caverna, O Grande Truque e O Ilusionista, e por aí vai. Esse ano, a coincidência vai além: após contracenarem no excelente Cisne Negro, Natalie Portman e Mila Kunis protagonizam cada uma seu próprio longa sobre um casal de amigos que tenta manter uma rotina sexual desvinculada de envolvimento emocional - e atualmente as esperanças estão todas depositadas no ainda inédito Amizade Colorida (a expressão Friends With Benefits, título original deste outro filme, é inclusive usada por Portman e Kutcher em certo momento para descrever sua relação), porque este Sexo Sem Compromisso não consegue dar conta do recado.
Dirigido pelo veterano Ivan Reitman (que surge em uma ponta como diretor de uma atração televisiva à la High School Musical) após cinco anos sem comandar um longa (o último foi o mediano Minha Super Ex-Namorada), o filme introduz o casal de protagonistas ainda na adolescência, aproveitando a chance para traçar as linhas de personalidade frágeis e unidimensionais que viriam a definir os personagens pelo resto da narrativa - a não ser, é claro, quando alterações bruscas e repentinas forem exigidas. Saltando no tempo até a época da faculdade, quando se reencontram em uma festa e reaproximam-se com absurda rapidez, o longa dá dicas da linha de humor pretende adotar quando Emma (Natalie Portman, de Juventude em Fúria) convida Adam (Ashton Kutcher, de Noite de Ano Novo) para acompanhá-la em "uma coisa chata de família" - mas é só na cena seguinte que percebemos que o único objetivo do convite era criar uma situação constrangedora (e supostamente engraçada) em um velório que só seria possível caso os dois personagens fossem tremendamente estúpidos, uma vez que não seria preciso muito esforço para pensar em diversas maneiras de prevenir ou se esquivar daquele constrangimento. Para piorar, antes de saltar mais uma vez no tempo até os dias atuais, Emma volta-se para o rapaz e diz: "Adam, você é uma ótima pessoa. Se você tiver sorte, nunca mais me encontrará", revelando que as convenções mais enraizadas de comédias românticas também não serão ignoradas. Tudo isso em menos de 10 minutos de projeção.
Presa a uma personagem que se diz avessa a relacionamentos sérios, mas que é periodicamente contradita pelas próprias ações (preparando o terreno para um 3º ato previsível), Natalie Portman bem que tenta conferir algum peso a Emma, mas é constantemente sabotada pelo roteiro. Ashton Kutcher, apagado e sem carisma, acaba preso a um tipo já explorado à exaustão: o filho de um homem financeiramente bem sucedido que precisa se esforçar para provar seu valor, desligar-se da imagem do pai e alcançar o sucesso através de mérito próprio - e nem é preciso dizer que a relação com o pai (Kevin Kline) vai de mal a pior (somente até a cena em que o patriarca vai parar no hospital - sim, ela também existe aqui). Assim, quando o casal central transa pela primeira vez, a repentinidade da situação é intensificada não só por não conhecermos bem os personagens, mas, ainda, por julgarmos que agiriam de forma diferente, mesmo pelo pouco que sabemos sobre eles (na adolescência, Emma não permite que Adam sequer a toque e, na Festa do Pijama da faculdade, ela é criticada pela amiga por usar ceroulas enquanto todas as outras mulheres vestem lingeries).
Com uma galeria de personagens secundários predominantemente ruins, o destaque acaba ficando para a desajeitada Lucy (Lake Bell), colega de trabalho de Adam que demonstra uma admiração incondicional pelo rapaz e dedicação ativa pelo trabalho, sem deixar de lado certa timidez e inocência (observe, por exemplo, como ela insinua brevemente a intenção de abraçar Adam logo após lhe dar a notícia de que fora contratado como roteirista) - e é uma pena, portanto, que ela seja usada como um artifício para prolongar a segunda crise do casal (isso mesmo, há duas delas: uma sexual e uma sentimental). Além disso, o filme também é falho na maioria das tentativas de humor - e, assim, somos obrigados a ver cenas absolutamente irrelevantes ou até mesmo inexplicáveis criadas apenas para tentar gerar o riso e estender nosso sofrimento, como quando Adam presenteia Emma com um balão com um escrito de "parabéns" ou quando ela acerta todos os buracos em um jogo de minigolfe, mesmo sendo principiante. E, preocupada em soar engraçadinha, uma montagem que mostra os vários encontros sexuais de Emma e Adam acaba ferindo a lógica básica ao mostrar uma conversa sobre "contatos de emergência" acontecendo de forma contínua em dois encontros diferentes.
Em meio a todas essas distrações, os poucos vestígios de arco dramático se revelam sempre frágeis, principalmente devido à apatia de Emma por relacionamentos, que soa incoerente e sem fundamentos. Se em um momento ela descreve seus sintomas a simples menção de relacionamento como sendo iguais aos de uma alergia a amendoim, em outro olha encantada para um casal de namorados ou elogia enfaticamente Adam, como quando diz a uma de suas ex-namoradas que "se tivesse que escolher (entre Adam e outros homens), sempre escolheria ele". Sem apresentar razões ou mesmos argumentos válidos que a impeçam de fato de começar um relacionamento com quem quer que seja (em um determinado momento, é sugerido que a morte do pai a tenha tornado uma pessoa mais fechada, mesmo que ela já tenha demonstrado o comportamento na adolescência, anos antes do ocorrido), o único artifício do roteiro para que acreditemos nisso é trazer Portman repetindo a constatação, que, na verdade, é apenas uma linha contraditória na descrição de sua personagem. E quando Emma, após um telefonema insatisfatório com Adam, recebe autorização de sua irmã para correr atrás dele apenas para flagrá-lo com outra, vemos que o filme já se perdeu de vez.
Encerrado com uma patética aula de "como se comportar em um relacionamento" e com cenas engraçadinhas durante os créditos finais (que já se tornaram praticamente lei em filmes do gênero), Sexo Sem Compromisso talvez se assemelhe à produção adolescente na qual Adam trabalha: pode até ter divertido a equipe durante a produção, mas o resultado final é constrangedor. Resta agora a Mila Kunis e Justin Timberlake, sob o comando de Will Gluck, salvar a dobradinha desse ano. Algo me diz que não será muito difícil.
Ao longo dos anos, em uma dessas coincidências tipicamente hollywoodianas, vimos uma variada lista de filmes tematicamente semelhantes tendo lançamentos relativamente próximos, como é o caso de Armageddon e Impacto Profundo, O Espanta Tubarões e Procurando Nemo, Madagascar e Selvagem, Abismo do Medo e A Caverna, O Grande Truque e O Ilusionista, e por aí vai. Esse ano, a coincidência vai além: após contracenarem no excelente Cisne Negro, Natalie Portman e Mila Kunis protagonizam cada uma seu próprio longa sobre um casal de amigos que tenta manter uma rotina sexual desvinculada de envolvimento emocional - e atualmente as esperanças estão todas depositadas no ainda inédito Amizade Colorida (a expressão Friends With Benefits, título original deste outro filme, é inclusive usada por Portman e Kutcher em certo momento para descrever sua relação), porque este Sexo Sem Compromisso não consegue dar conta do recado.
Dirigido pelo veterano Ivan Reitman (que surge em uma ponta como diretor de uma atração televisiva à la High School Musical) após cinco anos sem comandar um longa (o último foi o mediano Minha Super Ex-Namorada), o filme introduz o casal de protagonistas ainda na adolescência, aproveitando a chance para traçar as linhas de personalidade frágeis e unidimensionais que viriam a definir os personagens pelo resto da narrativa - a não ser, é claro, quando alterações bruscas e repentinas forem exigidas. Saltando no tempo até a época da faculdade, quando se reencontram em uma festa e reaproximam-se com absurda rapidez, o longa dá dicas da linha de humor pretende adotar quando Emma (Natalie Portman, de Juventude em Fúria) convida Adam (Ashton Kutcher, de Noite de Ano Novo) para acompanhá-la em "uma coisa chata de família" - mas é só na cena seguinte que percebemos que o único objetivo do convite era criar uma situação constrangedora (e supostamente engraçada) em um velório que só seria possível caso os dois personagens fossem tremendamente estúpidos, uma vez que não seria preciso muito esforço para pensar em diversas maneiras de prevenir ou se esquivar daquele constrangimento. Para piorar, antes de saltar mais uma vez no tempo até os dias atuais, Emma volta-se para o rapaz e diz: "Adam, você é uma ótima pessoa. Se você tiver sorte, nunca mais me encontrará", revelando que as convenções mais enraizadas de comédias românticas também não serão ignoradas. Tudo isso em menos de 10 minutos de projeção.
Presa a uma personagem que se diz avessa a relacionamentos sérios, mas que é periodicamente contradita pelas próprias ações (preparando o terreno para um 3º ato previsível), Natalie Portman bem que tenta conferir algum peso a Emma, mas é constantemente sabotada pelo roteiro. Ashton Kutcher, apagado e sem carisma, acaba preso a um tipo já explorado à exaustão: o filho de um homem financeiramente bem sucedido que precisa se esforçar para provar seu valor, desligar-se da imagem do pai e alcançar o sucesso através de mérito próprio - e nem é preciso dizer que a relação com o pai (Kevin Kline) vai de mal a pior (somente até a cena em que o patriarca vai parar no hospital - sim, ela também existe aqui). Assim, quando o casal central transa pela primeira vez, a repentinidade da situação é intensificada não só por não conhecermos bem os personagens, mas, ainda, por julgarmos que agiriam de forma diferente, mesmo pelo pouco que sabemos sobre eles (na adolescência, Emma não permite que Adam sequer a toque e, na Festa do Pijama da faculdade, ela é criticada pela amiga por usar ceroulas enquanto todas as outras mulheres vestem lingeries).

Com uma galeria de personagens secundários predominantemente ruins, o destaque acaba ficando para a desajeitada Lucy (Lake Bell), colega de trabalho de Adam que demonstra uma admiração incondicional pelo rapaz e dedicação ativa pelo trabalho, sem deixar de lado certa timidez e inocência (observe, por exemplo, como ela insinua brevemente a intenção de abraçar Adam logo após lhe dar a notícia de que fora contratado como roteirista) - e é uma pena, portanto, que ela seja usada como um artifício para prolongar a segunda crise do casal (isso mesmo, há duas delas: uma sexual e uma sentimental). Além disso, o filme também é falho na maioria das tentativas de humor - e, assim, somos obrigados a ver cenas absolutamente irrelevantes ou até mesmo inexplicáveis criadas apenas para tentar gerar o riso e estender nosso sofrimento, como quando Adam presenteia Emma com um balão com um escrito de "parabéns" ou quando ela acerta todos os buracos em um jogo de minigolfe, mesmo sendo principiante. E, preocupada em soar engraçadinha, uma montagem que mostra os vários encontros sexuais de Emma e Adam acaba ferindo a lógica básica ao mostrar uma conversa sobre "contatos de emergência" acontecendo de forma contínua em dois encontros diferentes.
Em meio a todas essas distrações, os poucos vestígios de arco dramático se revelam sempre frágeis, principalmente devido à apatia de Emma por relacionamentos, que soa incoerente e sem fundamentos. Se em um momento ela descreve seus sintomas a simples menção de relacionamento como sendo iguais aos de uma alergia a amendoim, em outro olha encantada para um casal de namorados ou elogia enfaticamente Adam, como quando diz a uma de suas ex-namoradas que "se tivesse que escolher (entre Adam e outros homens), sempre escolheria ele". Sem apresentar razões ou mesmos argumentos válidos que a impeçam de fato de começar um relacionamento com quem quer que seja (em um determinado momento, é sugerido que a morte do pai a tenha tornado uma pessoa mais fechada, mesmo que ela já tenha demonstrado o comportamento na adolescência, anos antes do ocorrido), o único artifício do roteiro para que acreditemos nisso é trazer Portman repetindo a constatação, que, na verdade, é apenas uma linha contraditória na descrição de sua personagem. E quando Emma, após um telefonema insatisfatório com Adam, recebe autorização de sua irmã para correr atrás dele apenas para flagrá-lo com outra, vemos que o filme já se perdeu de vez.
Encerrado com uma patética aula de "como se comportar em um relacionamento" e com cenas engraçadinhas durante os créditos finais (que já se tornaram praticamente lei em filmes do gênero), Sexo Sem Compromisso talvez se assemelhe à produção adolescente na qual Adam trabalha: pode até ter divertido a equipe durante a produção, mas o resultado final é constrangedor. Resta agora a Mila Kunis e Justin Timberlake, sob o comando de Will Gluck, salvar a dobradinha desse ano. Algo me diz que não será muito difícil.
