18 de abril de 2011

Crítica | Pânico 4

Emma Roberts em PÂNICO 4 (Scream 4)

por Eduardo Monteiro


Scream 4, EUA, 2011 | Duração: 1h50m46s | Lançado no Brasil em 15 de Abril de 2011, nos cinemas | Escrito por Kevin Williamson | Dirigido por Wes Craven | Com Neve Campbell, David Arquette, Courteney Cox, Emma Roberts, Hayden Panettiere, Rory Culkin, Erik Knudsen, Nico Tortorella, Marielle Jaffe, Marley Shelton, Alison Brie, Mary McDonnell, Anthony Anderson, Adam Brody, Anna Paquin, Kristen Bell, Lucy Hale, Shenae Grimes, Aimee Teegarden, Brittany Robertson, Heather Graham, Dane Farwell e a voz de Roger Jackson.

Pôster nacional e crítica de PÂNICO 4 (Scream 4)
Quando foi lançado em 1996, o primeiro Pânico surpreendeu plateias de todo o mundo ao surgir como um terror no qual os personagens buscavam respostas para os mistérios da trama nos clichês e convenções do próprio gênero, criando um fascinante e enriquecedor exercício de metalinguagem que acabou se tornando a marca da franquia - juntamente, é claro, com o ameaçador e estabanado assassino Ghostface, trajando longas roupas pretas e uma máscara inspirada na pintura O Grito. Com o sucesso, o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson reuniram forças novamente e, no ano seguinte, lançaram uma continuação que se aprofundava ainda mais na metalinguagem ao introduzir no universo do filme um longa fictício baseado nos acontecimentos da produção anterior (Stab, nos moldes do próprio Pânico), além de um novo assassino cujos métodos levaram os personagens a especular que acontecimentos esperar de uma sequência. Três anos mais tarde, Williamson é substituído por Ehren Kruger e Wes Craven lança Pânico 3, o mais fraco da série, fruto do desgaste oriundo da necessidade de repetir os elementos marcantes dos anteriores sem uma boa razão ou explicação.

Eis que onze anos depois, Craven e Williamson voltam a colaborar neste Pânico 4, que chega aos cinemas com a promessa de trazer a ameaça de Ghostface para uma nova geração de vítimas e regras. Mais de dez anos depois de ter sido aterrorizada pela última vez por um psicopata, Sidney Prescott (Neve Campbell) retorna à cidade de Woodsboro para lançar um livro de autoajuda no qual relata como superou o trauma dos diversos encontros com o assassino mascarado. Todavia, uma nova série de ataques iniciada no aniversário do primeiro massacre de Woodsboro obriga Sidney a permanecer na cidade como testemunha, enquanto o agora xerife Dewey (David Arquette) e sua então esposa e ex-repórter Gale (Courtney Cox) tentam desvendar a identidade do criminoso. Também na cidade, as jovens Jill (Emma Roberts), prima de Sidney, e Kirby (Hayden Panettiere) começam a receber telefonemas com ameaças do assassino - e é então que Gale recorre a um grupo de cinéfilos, formado por jovens amigos de Jill e Kirby, para descobrir quais regras regem os novos filmes de terror, visando solucionar o mistério.

E é justamente aí que reside o maior problema do longa: as novas regras introduzidas não são exatamente inteligentes e raramente são integradas ao desenvolvimento da história, sendo bem usadas apenas para tornar a conclusão do filme mais coerente. Aliás, algumas delas surgem até mesmo deslocadas, como aquela relacionada ao uso de câmeras para filmar os assassinatos, que é utilizada para criar um suspense de forma extremamente tradicional e previsível, além de ser justificada com uma explicação boba na reviravolta final, servindo como um mero artifício para inserir o filme no contexto tecnológico atual. Dessa forma, frequentemente o conceito simplista de "nova geração, novas regras" surge como uma desculpa para acrescentar qualquer aspecto que seja conveniente para evolução da narrativa naquele momento. Assim, o grupo de jovens surge mais como um leque de possíveis assassinos ou vítimas do que como efetivos colaboradores da investigação (em certo instante, o personagem de Rory Culkin, um dos grandes sabichões sobre filmes de terror, demonstra não ter sequer o conhecimento básico do gênero ao ser surpreendido em um momento-chave da projeção - surpresa esta que acaba lhe custando caro).

Alison Brie em PÂNICO 4 (Scream 4)

Iniciado com algumas sequências que mostram os rumos que a franquia fictícia Stab tomou ("Stab 5 tem até viagem no tempo. É de longe o pior", observa uma garota) ao mesmo tempo que deixa o espectador alerto aos truques que podem vir a surgir, Pânico 4, julgando ainda estar em um nível superior de qualidade e criatividade, não se intimida em fazer diversas referências a outras produções, desde críticas a filmes reais que seguiram um padrão decrescente de qualidade semelhante a Stab (como a série Jogos Mortais), passando por uma espécie de reverência a filmes bons como Todo Mundo Quase Morto, culminando em uma péssima cena onde um policial faz uma piada sobre 'policias interpretados Bruce Willis nunca morrerem' poucos instantes depois de receber uma facada no meio da testa. Mas a grande sacada do filme acontece já em seu terceiro ato, quando Ghostface pergunta à personagem de Panettiere qual é a melhor refilmagem recente de terror - e, acreditando que isso lhe salvará a vida, a jovem lista uma série de remakes recentes, sem notar que a maioria deles é tida como muitíssimo inferior aos originais (numa crítica clara à onda de remakes desnecessários).

Dentre as novas regras apresentadas, aquelas referentes a "subverter expectativas" e "continuação deve funcionar como um remake que supere o filme original, podendo criar uma nova franquia" são as mais exploradas pelo roteiro, mesmo que nem sempre se apliquem ao filme propriamente. Assim, é lamentável que a repaginada tenha deixado para trás elementos que transformavam a experiência dos primeiros filmes em algo tão instigante. Dessa forma, é triste constatar como Dewey, Gale e Sidney se tornaram personagens tão desinteressantes, ao passo que Ghostface se transformou em um assassino implacável e certeiro (é impressionante a quantidade de personagens que se tornam vítimas, algo profundamente desnecessário), substituindo as empolgantes perseguições por mortes cada vez mais repetitivas. No entanto, é importante reconhecer que essa nova postura do assassino soa mais coerente quando o mistério é finalmente revelado - e é preferível que o conjunto faça sentido como um todo do que criar explicações mirabolantes e absurdas apenas para justificar a reviravolta final, como ocorria no terceiro filme.

Repleto de momentos que subestimam a inteligência do espectador (desde a utilização de convenções e clichês básicos, como a cena do estacionamento, até ao sugerir exageradamente que certo personagem é o assassino), Pânico 4 merece reconhecimento pela tarefa bem sucedida de reunir os personagens principais de uma forma possível e aceitável, além de apresentar uma resolução que, mesmo não sendo brilhante, é compatível e coerente com o contexto que foi construído para a ocasião. E o espectador mais atento, ao sair do cinema e refletir sobre o filme, será recompensado ao perceber que uma tentativa falha de assassinato (que no momento parece absurda) e duas falas de Sidney em momentos distintos antecipavam este final de forma sutil e elegante. Assim, sem apresentar nada de diferente ou inovador no que diz respeito a direção e aspectos técnicos (a trilha sonora de Marco Beltrami, por exemplo, segue o mesmíssimo padrão de sustos criado por ele para os filmes anteriores), Pânico 4 pode ser descrito como uma experiência ambígua: por um lado, seu desenvolvimento se mostra frustrante, mas somos recompensados por um final que não é ofensivo e amarra bem as pontas, mesmo que não suavize outros defeitos. "Subverter expectativas"? Até que sim, moderadamente. "Continuação funcionando como um remake que deve superar o original, com possibilidade de criação de uma nova franquia"?

Aí também não!

Neve Campbell em PÂNICO 4 (Scream 4)