
por Eduardo Monteiro

Just Go With It, EUA, 2011 | Duração: 1h56m29s | Lançado no Brasil em 4 de Março de 2011, nos cinemas | Baseado em "Flor de Cactus", do roteirista I.A.L. Diamond, peça teatral de Abe Burrows. Baseado na peça francesa de Barillet e Gredy. Roteiro de Allan Loeb e Timothy Dowling | Dirigido por Dennis Dugan | Com Adam Sandler, Jennifer Aniston, Nick Swardson, Brooklyn Decker, Bailee Madison, Griffin Gluck, Dave Matthews, Kevin Nealon e Nicole Kidman.
Em pouco mais de 20 anos de carreira, o ator Adam Sandler estrelou quase 30 produções para o cinema - predominantemente comédias tendo ele mesmo como protagonista e obtendo bons resultados de bilheteria. No entanto, basta pegar algumas dessas financeiramente bem sucedidas produções para perceber que tanto as performances de Sandler quanto o conjunto da obra geralmente deixam muito a desejar, o que não impede que sua legião de fãs aguardem ansiosamente seus besteróis anuais. Não é difícil entender, portanto, por que seus poucos projetos mais ambiciosos, que fogem da sua linha habitual de comédia e apresentam suas melhores interpretações (como Embriagado de Amor, Reine Sobre Mim e o recente Tá Rindo do Quê?) tenham fracassado nas bilheterias. Acostumando seus espectadores a comédias com roteiros desenvolvidos a partir de piadas enquanto o certo deveria ser o inverso, Sandler consegue provocar no público geral basicamente duas reações bem distintas ao anúncio de cada uma de suas novas empreitadas descerebradas: expectativa ou calafrios.
Repetindo a parceria com o diretor Dennis Dugan, que já originou cinco comédias financeiramente bem sucedidas (Um Maluco no Golfe, O Paizão, Eu Os Declaro Marido e... Larry, Zohan - O Agente Bom de Corte e Gente Grande), Adam Sandler tem novamente a chance de massagear o próprio ego ao voltar a interpretar um melhor-alguma-coisa-do-mundo, mesmo que isto não altere absolutamente nada a história. Percebendo que o simples uso de aliança causa uma estranha atração por parte das mulheres que habitam o universo do filme, o cirurgião plástico Danny (Adam Sandler, de Este é o Meu Garoto) finge ser casado por quase 20 anos para ter acesso a diversos exemplares do sexo feminino. Entretanto, instantes depois de retirar a aliança para fazer um curativo em uma criança durante uma festa de um paciente (Kevin Nealon, em uma divertidíssima participação), Danny conhece abruptamente (leia-se: sem mais nem menos, ela caminha em câmera lenta em direção a ele) a bela e jovem Palmer (Brooklyn Decker, de Battleship - A Batalha dos Mares). Surpreendidos por uma atração mútua, os dois passam a noite juntos, até que, pela manhã, ela encontra a aliança em um dos bolsos do homem. Desconfiada das desculpas dadas por ele, a bela exige conhecer sua ex-mulher, após Danny se esquivar dizendo que é divorciado. Assim, o cirurgião precisa convencer sua assistente Katherine (Jennifer Aniston) a ajudá-lo a sustentar a mentira, que toma rumos inesperados quando envolve o casal de filhos da moça e acaba resultando em uma viagem para o Havaí.
Essas férias forçadas repentinas, aliás, expõem a fragilidade do roteiro, revelando-se um mero artifício para jogar todos os personagens principais em um contexto no qual qualquer situação, por mais desconexa que seja, é aceita sem maiores questionamentos (assim como acontecia, por exemplo, em Gente Grande). Constantemente tendo que inventar novas mentiras para sustentar a farsa, que se torna cada vez mais absurda, os personagens parecem não se importar em usar as "liberdades artísticas" da situação para se alfinetarem, sem perceber que isso torna o processo ainda mais extenuante, além de correrem grandes riscos de comprometer o objetivo. Como se não bastasse, em determinado momento uma segunda farsa é criada - que, pelo menos, resulta em um bom momento quando, na beira da piscina, o personagem de Nick Swardson arranja uma solução prática e simples (ok: boba e estúpida, mas divertida) para que a verdade não seja revelada.

Sem apresentar características que diferenciem Danny de muitos de seus personagens anteriores, Adam Sandler faz sua composição com assustadora precariedade, alternando falas proferidas com desdém e imitações deslocadas - e o sucesso profissional do cirurgião, por exemplo, torna-se inexplicável quando percebemos a falta de profissionalismo que exibe em suas consultas. Enquanto isso, Jennifer Aniston, que nos últimos anos parece ter se especializado em filmes do gênero, oferece uma atuação irregular, conseguindo se salvar apenas nas poucas oportunidades que tem de interpretar uma pessoa real (em geral, mais no 1º ato do filme), ao passo que Nick Swardson também tem suas chances de divertir com o excentrismo forçado de Eddie, mas não há como ignorar o fato de que sua presença no Havaí é absurda e desnecessária. E se Brooklyn Decker não tem muito o que fazer com Palmer, o mesmo não pode ser dito sobre os jovens Bailee Madison (Uma Família em Apuros) e Griffin Gluck, que exibem grande talento como os filhos de Katherine e até roubam algumas cenas. Mas o destaque fica por conta da participação de Nicole Kidman que, totalmente à vontade no papel, se diverte com a egocêntrica e esnobe Devlin, ex-colega de Katherine - e o que mais chama a atenção é a simples estranheza gerada pela sua inesperada aparição em um projeto tão incomum em sua carreira (os mais atentos poderão notar uma referência a Moulin Rouge! durante a competição de hula).
Subestimado até mesmo pelo explicativo e infantilóide título nacional, o filme não consegue fugir de certas convenções do gênero - e assim, não se espante ao ver uma cena envolvendo trocas de roupa durante compras ou aquela que, no clímax, mostra os personagens acordados no meio da noite pensando em suas vidas. Além disso, Dugan dá sua contribuição à irregularidade da produção ao utilizar planos inclinados em dois momentos sem uma razão para isso ou ao adotar uma desnecessária narração em off no início e no fim da projeção. Sem compreender que o humor não precisa vir acompanhado do exagero, o longa acerta poucas vezes quando junta os dois aspectos, como na cena em que Eddie tenta ressuscitar uma ovelha, que diverte por não tentar esconder que o animal é claramente um boneco - e digo isso ignorando o imperdoável modo como o personagem chegou àquela situação.
Desafiando constantemente a inteligência do espectador (como no momento em que Katherine e Devlin conversam sozinhas e depois descobrimos que Danny estava lá, ouvindo tudo - sendo que ele não estava) Esposa de Mentirinha tende a ser divertido para aqueles que têm expectativa e medíocre para aqueles que têm calafrios à menção do nome Adam Sandler. O que importa é que Dennis Dugan e Adam Sandler já têm mais um projeto engatilhado - e, expectativa ou calafrios, valerá uma conferida pelo menos pela estranheza da participação de Al Pacino (Phil Spector). Kidman, Pacino... será esse o novo ingrediente da equação?
